Sul do Estado do Rio tem maior epidemia de dengue da história

by Diário do Vale

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A região Sul Fluminense foi responsável por 61% de todos os casos de dengue notificados no Estado do Rio de Janeiro em 2015. Foram 23.647 casos na região e 38.994 casos em todo o estado, registrados até 9 de junho. É a maior epidemia de dengue da história da região.
Só no Médio Paraíba houve um aumento de 4.617% de casos em 2015 em relação ao mesmo período de 2014. Em Angra o aumento foi de 3.122%. Apenas um município da região teve redução na incidência de dengue: Paraty, cujo número de casos caiu em 29%, passando de 42 casos em 2014 para 30 em 2015.
Em Volta Redonda os casos aumentaram em 1.501%. Em Barra Mansa 1.651%. Em Barra do Piraí e Pinheiral foi acima de 17.000%. Em Resende quase 20.000%, dando ao município a liderança em número de casos absolutos – quase 10 mil casos que corresponderam a um quarto de todas as notificações de dengue no Estado. Quatis e Porto Real, com menos habitantes, tiveram menos casos, mas um crescimento acima de 45.000%.
Além disso, quatro portadores de dengue morreram em Resende e um morreu em Volta Redonda. Este número equivale a mais da metade das oito mortes ocorridas no estado em 2015.tabela site aurelio

Tendência: queda no inverno
e preocupação para 2016

O ápice da epidemia foram os meses de março e abril. Em maio os índices – ainda que altos – voltaram aos níveis de janeiro. A partir da apuração dos números de junho é esperada uma queda expressiva.
A preocupação é com 2016. Isto porque o vírus da dengue é matreiro: ele se divide em quatro subtipos, ou sorotipos, como chamam os especialistas. São conhecidos por Denv-1, Denv-2, Denv-3 e Denv-4.
Quando um sorotipo ataca uma pessoa, após a cura ela fica imune àquele sorotipo. Mas a pessoa não ganha imunidade (exceto às vezes provisória, por alguns meses) aos três sorotipos restantes.
Por isso, uma epidemia de dengue por um tipo de sorotipo do vírus em um ano pode não se repetir no ano seguinte (dada a imunidade conquistada por parte da população) mas os outros sorotipos gostam de esperar sua vez e criar uma nova epidemia.
Desde 2000, pela ordem das epidemias ocorridas no estado, há sempre um vírus predominante. Primeiro veio o DnV-1, substituído pelo Denv-3 na epidemia seguinte. Após, o Denv-2 e por fim o Denv-4.
O vírus que causou a epidemia no Médio-Paraíba, este ano, é o Denv-1. Aliás, um fato peculiar: ele agiu sozinho. Por isso, a Secretaria de Estado de Saúde emitiu um alerta demonstrando sua preocupação que o Denv-3 possa ser a causa uma nova epidemia em 2016. E não só ele: o Denv-2 também se mostra oportunista neste momento.
Há duas semanas a Coordenação de Vigilância Epidemiológica do Estado do Rio emitiu o Boletim Epidemiológico 007/2015.
O título do documento diz tudo: “Dengue, cenário epidemiológico e perspectiva para o ano de 2016”.
O documento alerta:
– Em 2015, o Médio Paraíba registra uma epidemia (com predomínio Denv-1), diferentemente das demais. Esta epidemia teve início ao final de 2014, onde o predomínio do Denv-1 no estado como um todo em 2014 se justifica pelas detecções concentradas nesta região. Portanto, além da presença do Denv-3, o sorotipo Denv-2 também representa maior risco para ocorrência de epidemias em 2016 no Médio Paraíba e Centro Sul do estado.
E o Denv-4?
Bem, a má notícia é que os levantamentos mais recentes da Vigilância Epidemiológica encontraram o Denv-4 em exames de pacientes de Piraí, Barra do Piraí e Quatis.

Você conhece o Zika?
Uma visita inconveniente

Ele desembarcou no país este ano, provavelmente vindo da África. No início de maio apareceu na Bahia. Dias depois em São Paulo. No último dia 31 de maio teve sua presença confirmada no Rio de Janeiro. Trata-se de um novo tipo de vírus transmitido pelo mesmo mosquito que transmite a dengue: o Aedes aegypti.
Embora tenha chegado ao Rio há pouco mais de um mês – exame confirmado pela Fiocruz – ele se espalhou rapidamente, pelo menos na Capital. Os sintomas da doença que ele causa (conhecida pelo mesmo nome, zika) são quase os mesmos da dengue, porém menos agressivos.
Só que ela pode causar complicações neurológicas graves, como a chamada Síndrome de Guillain-Barré. Uma doença raríssima em que o sistema imunológico endoida e passa a atacar o próprio corpo. Provoca perdas motoras e paralisia flácida – podendo levar meses para que o paciente se recupere.
Na Bahia, os casos de zika (principalmente) fizeram disparar os casos da antes rara Síndrome de Guillain-Barré. Foram 55 casos – com uma morte – diagnosticados só este ano.
Na última quarta-feira, dia 8, todos os hospitais estaduais da Bahia passaram a reservar dois leitos exclusivamente para pacientes com a síndrome.
Na verdade as doenças transmitidas pelos mosquitos Aedes (inclusive a dengue) podem desencadear a síndrome.
Mas, no caso da Bahia, pela novidade do aumento de casos e localização geográfica, a zika é a principal suspeita.

Zika se espalha rápido,
agora no Rio de Janeiro

No Rio de Janeiro, há um mês, a Subsecretaria de Vigilância em Saúde do Estado emitiu uma Nota Técnica sobre a zika. Neste caso, estabeleceu que as notificações compulsórias (obrigatórias) só devem ser feitas quando, entre os sintomas, o paciente apresentar também problemas neurológicos (além da Síndrome de Guillain-Barré ela pode causar encefalite e meningite).
Sem a notificação compulsória de todos os casos (como ocorre com a dengue), é impossível saber a quantas estão as andanças da zika pelo Estado.
Mas há suspeitas de que anda se locomovendo bem entre as pessoas. No dia 15 de junho (15 dias após a primeira confirmação) pacientes lotavam a Policlínica  Botafogo, na Capital, e tiveram o diagnóstico da nova doença.
Segundo uma reportagem do portal UOL no dia seguinte, a médica que atendeu uma paciente na clínica lhe confidenciou que já havia diagnosticado cerca de 100 casos.
Os Aedes aegypti estão por aí, por todo o Estado, aguardando para transportar toda a numerosa família zika.
Então porque diabos a Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro parece se preocupar tão pouco com o danado do vírus? Quer dizer que ele pode atazanar nossa vida e os médicos só devem comunicar sua presença se ele quiser comer nosso cérebro?
Não dá para culpar a Secretaria de Estado de Saúde. Ela está se preparando para o desembarque de um passageiro muito mais perigoso e inconveniente. Ele chegou ao Brasil há menos de dez meses, e já virou epidemia na Bahia e no Amapá.
Seu nome? Aprenda a pronunciar: chikungunya – na Bahia já o apelidaram de “Chico Cunha”.
Seu meio de transporte predileto para transmitir a doença: de novo o Aedes.
Data de chegada ao Estado do Rio?
Provavelmente em breve.

Chikungunya: a doença que faz
as pessoas se dobrarem de dor

Febre de chikungunya. Vinda da África ou do Haiti, esta doença chegou ao Brasil em setembro de 2014 na Bahia, em Freira de Santana,  e rapidamente se tornou epidemia em vários locais daquele estado. Quase 7 mil casos já foram registrados. Também chegou ao Amapá, através da Guiana Francesa.
Para se ter uma ideia da capacidade de transmissão do vírus da doença, em apenas três semanas, na cidade de Valente (BA), ele infectou quase 10% dos 20 mil habitantes do local, em junho.
Foi até pouco, provavelmente graças ao período mais frio e de estiagem. Isto porque o vírus tem a capacidade de, em poucas semanas, infectar mais da metade da população em áreas epidêmicas.
Os sintomas são muito parecidos com os da dengue. A letalidade é menor. A dengue mata duas vezes mais. Porém as consequências à saúde são mais dramáticas.
As dores nas articulações (“dor nos ossos”) da dengue são quase nada perto das incapacitantes dores da chikungunya. Chegam a doer até 10 articulações ao mesmo tempo. Muitas vezes as articulações inflamam de forma visível.
Se na dengue as dores duram cerca de 7 dias, na chikungunya a situação é muito mais grave. Na maioria absoluta dos casos, a doença evolui para uma fase chamada sub-aguda, que causa dores horríveis por até três meses. Se após três meses a dor persistir, entra-se na fase crônica, que pode durar de 1 a 3 anos – ou mais. As dores fazem as pessoas se curvarem. Daí o nome: chikungunya, em um dialeto da Tanzânia, quer dizer “aquele que se dobra”.
A incapacitação tem efeito sobre o trabalho e os estudos das vítimas. As consequências econômicas para os pacientes, governos, planos de saúde e previdência são inestimáveis.

Uma definição da doença
pelas autoridades de Saúde

Para que não pareça exagero o texto da coluna, vamos reproduzir “ipsis litteris” o que o site riocomsaúde.rj.gov.br (site oficial da Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro) diz sobre a chikungunya:
– “Trata-se de uma doença que tem capacidade de gerar epidemias muito grande, maior que da dengue. O ciclo do vírus dentro do mosquito é maior, quando comparado com a dengue. Isso quer dizer que o mosquito se infecta muito mais facilmente e a transmissão também se dá com mais facilidade. Estamos falando de epidemias em alguns locais em que se pode chegar a 70% da população doente num curto período de tempo. Isso não é observado com a dengue”.
E prossegue o texto oficial:
– “As epidemias de chikungunya causam um grande comprometimento da saúde das pessoas – essas epidemias chegam a impactar na economia desses locais. O perigo está também no fato de a doença apresentar um elevado número de casos em sua forma crônica, além do acometimento dos recém-nascidos. Uma parcela significativa da população, que varia de 20% a 50%, evoluem para a forma crônica da doença, apresentando os sinais e sintomas, especialmente a dor articular, por semanas, meses e até anos, dificultando até a execução de atividades cotidianas”.
É o que vem por aí.
Vem mesmo?
Esta é uma unanimidade entre os virologistas: o vírus vai se espalhar pelo país.

Evitar novas epidemias na região
vai depender também da população

O momento ainda é menos grave – meses de inverno e estiagem. Águas secaram e fizeram secar junto os ovos dos mosquitos Aedes. Só que estes ovos secam mas não morrem. Sobrevivem até um ano, aguardando apenas a próxima estação de chuvas para eclodirem e criarem uma reação em cadeia de proliferação dos mosquitos.
A epidemia de dengue no Sul Fluminense reforça o alerta contra o vírus chikungunya na medida em que ele, como foi dito, utiliza como transporte o mesmo mosquito da dengue, o Aedes aegypti – que igualmente é o transmissor da zika.
Os serviços de Saúde do estado e de todas as prefeituras da região estão em operação de guerra contra o mosquito. Mas parece inglória. Não dá para atacar efetivamente o transmissor se cada pessoa não tomar os cuidados já muito conhecidos, em especial em relação ao acúmulo de água em qualquer objeto ou planta sua casa.
Um detalhe que salta aos olhos, neste período de crise econômica nacional e regional, é o número de casas vazias para vender ou alugar na região. Ficam inacessíveis ao serviço público de Saúde. Muitas podem ter se transformado em focos da epidemia de dengue de 2015, e podem ser o foco das próximas epidemias.
Ou todos se engajam nesta guerra ou ninguém vai ficar seguro.

Um novo transmissor surge
para agravar uma nova doença

No caso da chikungunya existe um agravante: além de utilizar o Aedes aegypti como transmissor, ela utiliza também o Aedes albopictus para a mesma função. Enquanto o Aedes aegypti gosta de áreas urbanas, seu primo albopictus é caipira. Gosta de áreas cobertas por vegetação. Não depende dos depósitos urbanos de água – se reproduz em qualquer água acumulada pelas chuvas até em tronco e casca de árvores. Só que também vive bem nas cidades.
É uma espécie de sertanejo universitário do mundo dos insetos.
Bem, mas a população do Sul Fluminense já tem preocupações demais com o aegypti para se preocupar com seu primo albopictus, já que ele não vive por aqui, certo?
Errado.
Levantamento do serviço de Saúde do Estado, em convênio com os municípios, mostrou que quase todas as cidades do Sul Fluminense têm as duas espécies de Aedes, aumentando o estado de alerta sobre o chikungunya (o levantamento só não foi feito em Pinheiral).
Ou seja, o chikungunya, na região, tem duas companhias aéreas à sua disposição.
Como o Sul Fluminense é predominantemente urbano, o mais provável é que a primeira transmissão (se ocorrer) venha por esta malha. O que reforça a tese: é preciso combater os Aedes especialmente nas áreas das cidades. De imediato.
Do contrário, o danado do vírus vai voar com o albopictus para as zonas rurais. Onde é quase impossível combater o mosquito, dadas a sua capacidade de se reproduzir em formações naturais de poças de água e de sobreviver com néctar de plantas e picando animais silvestres.
Não vai dar nem para fugir para as montanhas.

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AURÉLIO PAIVA | [email protected]

 

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12 comments

ÊTA POVINHO 13 de julho de 2015, 21:53h - 21:53

Realmente, notícias de saúde e educação não interessa ao POVINHO até cairem doentes ou ficarem sem seus empregos. Ai, eles vêm aqui reclamar, espernear, falar mal, etc, e jogar a culpa no POVO, nos POLÍTICOS e no MEU BRasil.

ÊTA POVINHO dos in…

Carlos Junior 18 de julho de 2015, 16:08h - 16:08

“CASA QUE FALTA PÃO, TODOS FALAM E NINGUÉM TEM RAZÃO”. No Brasil atual não se trata de identificar culpados pois isto é fácil. A questão maior é : De que lado eu estou, do problema ou da solução, da estupidez ou da razão, do remédio ou do veneno, da cura ou da doença, etc… pois tudo depende de como eu me apresento na sociedade se como uma célula multiplicadora do câncer ou um macrófago em cooperação com os linfócitos .
Pois é, na luta entre dois cães sendo um do bem e o outro do mal, vai vencer aquele que você alimenta !

Pimpolho 13 de julho de 2015, 06:33h - 06:33

Nunca mais vi fumacê em Pinheiral desde a mudança de gestão. Agora tá aí o resultado.

Ricardo 12 de julho de 2015, 20:45h - 20:45

Para profunda reflexão de todos. Todos mesmo.

João Paulo 12 de julho de 2015, 17:04h - 17:04

Os textos desse cara são cansativos, aff.

Malheiros 12 de julho de 2015, 21:09h - 21:09

A ideia é esta

Carlos Junior 12 de julho de 2015, 09:42h - 09:42

As doenças aparecem e evoluem, convenhamos que coisas como aquecimento global, o uso ilimitado de agentes poluentes, o agrotóxico, o excesso de medicamentos hormonais nos animais que alimenta a população mundial e embora as pandemias existam desde sempre, as doenças e as pessoas infectadas nunca se espalharam tão rápido e para lugares tão distantes. Entre 1980 e 2007, quintuplicou o número de pessoas que fazem viagens aéreas internacionais, com 824 milhões de passageiros atingidos por ano. são alguns dos fatores determinantes desse processo epidêmico e que conta com a omissão e incompetência das autoridades ( muito competentes p/ desviar verbas ) e que agrava-se com a má educação do povo que insiste em jogar lixos nos barrancos, beiras de rios, nas calçadas etc… apesar da coleta de lixo em muitos locais . O povo não aprendeu a fiscalizar, cobra honestidade mas alimenta o câncer da sociedade dando a famosa cervejinha, vendendo-se aos políticos, gatonet, farinha pouca meu pirão primeiro…e a rápida disseminação de doenças conta como aliado este estado de coisas !!! Que Deus nos ajude !!!

ÊTA POVINHO honesto ao contrário 12 de julho de 2015, 19:36h - 19:36

Vc esqueceu de uma atitude que normalmente jogo no ventilador por aqui. Essas pessoas que se dizem honestas sempre culpam o POVO, os POLÍTICOS e, pior, ainda jogam a culpa no MEU BRasil.

Em VR podemos identificar muitos deles dentre os 95 mil eleitores do prefeito.

Paulo Roberto 12 de julho de 2015, 08:49h - 08:49

É preciso ver a comparação dos números da dengue com 2013. Ou a epidemia normalmente é de 2 em 2 anos ou as autoridades, municipais, estaduais e federais, tomam todas as providências depois de uma epidemia, as coisas melhoram e no ano seguinte a coisa melhora e depois relaxam, voltando tudo de novo 2 anos depois.

Al Fatah 11 de julho de 2015, 19:30h - 19:30

É, o Brasil segue importando miséria de todo tipo. O Haiti, cada vez mais, é aqui…

ÊTA POVINHO 12 de julho de 2015, 19:28h - 19:28

O PT importou haitianos em 2014/15. Em 2015/16 podemos esperar os cubanos, venezuelanos, bolivianos ao montes para reforçarem na campanha petistas, para agitarem as bandeiras vermelhas nas eleições.

E com eles vêm doenças tropicais que se alastram no país, haja vista a entrada da “Febre de chikungunya. Vinda da África ou do Haiti, esta doença chegou ao Brasil em setembro de 2014 na Bahia, em Freira de Santana, e rapidamente se tornou epidemia em vários locais daquele estado.”

Com duas coincidências: 1 – um estado petista desde 2007 e 2 – em época de eleições.

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