A aventura espacial da televisão via satélite

by Diário do Vale

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Projeto: A estação da RCA tinha dezesseis parabólicas  ( Foto: Divulgação )

Projeto: A estação da RCA tinha dezesseis parabólicas
( Foto: Divulgação )

O jogo com a Colômbia já tinha terminado quando o juiz perdeu a paciência com o Neymar e mostrou o cartão vermelho. E o Brasil inteiro viu, imediatamente. A maioria das pessoas não se pergunta como isso é possível. Afinal o Estádio Monumental, de Santiago do Chile, onde acontecia o jogo da Copa América, fica abaixo do horizonte, em relação, por exemplo, ao sudeste do Brasil. E os sinais de televisão só se propagam em linha reta. O que acontece é que os sinais de TV são refletidos por um satélite artificial, a 36 mil quilômetros de altura, e assim podem chegar aos nossos receptores. Sem a exploração espacial não existiria televisão intercontinental e teríamos que acompanhar as copas de futebol, e outros eventos, pelo rádio. Como aconteceu nas Copas de Mundo de 1958 e 1962.
A televisão por satélite é um resultado da corrida espacial, aquela competição entre americanos e russos na década de 1960. Que terminou com os americanos plantando a Star and Stripes no solo cinzento do Mar da Tranquilidade. Assim leitor, quando alguém perguntar para que serviu a corrida espacial responda logo. Serviu para ver o Neymar levar cartão vermelho, ao vivo e a cores.
Antes de existirem na vida real os satélites de comunicações surgiram na mente do escritor britânico Arthur C. Clarke. Que ficou mais famoso com o roteiro do filme “2001: Uma Odisseia no Espaço” do que por sua invenção. Em fevereiro de 1945, antes da Segunda Guerra Mundial, Clarke escreveu uma carta para a revista Wireles World sugerindo o uso de estações espaciais para a retransmissão de sinais de televisão. Mais tarde Clarke aperfeiçoou a ideia em um artigo que tinha o subtítulo “Estações foguete podem fornecer cobertura mundial de rádio”.
Na época o rádio e a televisão ainda usavam válvulas a vácuo. Eram aparelhos enormes que exigiam manutenção constante. Por isso Clarke imaginou que as estações retransmissoras teriam que ser grandes satélites tripulados. Apenas três, colocados em órbita geoestacionária, permitiriam transmitir programas de televisão de qualquer lugar do mundo. Era uma boa sugestão, que teria que esperar o desenvolvimento da tecnologia. Afinal, o primeiro satélite artificial só foi lançado ao espaço em 1957, pelo foguete R-7 da União Soviética. Alguns meses depois os americanos lançaram o seu Explorer 1 e a ficção estava pronta para virar realidade.
A gravura aí ao lado foi divulgada pela RCA Americana em 1959, um ano depois do lançamento do Explorer 1. A legenda diz que quatro estações tripuladas como esta, a 22 mil milhas de altitude, poderiam ligar todas as cidades do mundo com transmissões de rádio e televisão ao vivo. Teria sido um empreendimento bilionário, mas felizmente a tecnologia eletrônica tornou desnecessário o uso de naves tripuladas tão grandes.
Os transistores e circuitos integrados substituíram as válvulas. E os transmissores e receptores ficaram muito pequenos. Em dezembro de 1958 o mundo inteiro ouviu uma mensagem de Natal do presidente norte-americano, Dwight Eisenhower transmitida da ogiva de um míssil Atlas colocado em órbita. Tudo feito por controle remoto e sem a presença humana. A Nasa lançou dois enormes balões no espaço, os Ecos 1 e 2, para refletir sinais de televisão. Um deles passou sobre Nova Iorque como uma estrela brilhante. E assustou Clarke e o cineasta Stanley Kubrick, que estavam na cidade preparando o filme “2001”.
Em 1962 a tecnologia já tinha amadurecido. Um foguete Thor Delta colocou em órbita o Telstar, que transmitiu sinais de televisão entre a Europa e os Estados Unidos. Outro satélite, o Relay 1, fez as primeiras transmissões através do oceano Pacífico. E ao contrário do que Clarke, e os engenheiros da RCA tinham imaginado, eram engenhos pequenos, automáticos, que não precisavam de tripulação.
É por isso que hoje podemos ver o Neymar levar o cartão vermelho lá no Chile. Ao vivo e a cores.

Jorge Luiz Calife | [email protected]

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