A crise, o impeachment e a voz do povo

by Diário do Vale

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Queridos leitores, como vocês devem ter notado, eu estava de férias. Todo jornalista ou cronista precisa de algumas semanas para recarregar as baterias, pelo menos uma vez por ano. Na prática nunca tiramos férias. Mesmo não indo à redação todos os dias, estamos atentos ao que acontece no país e no mundo. Conversamos com as pessoas, ouvimos as queixas do povo, porque é delas que extraímos a matéria prima para o nosso trabalho. Seja na rua, fazendo uma caminhada com o cachorro, ou em um salão, cortando o cabelo, meus ouvidos estão atentos.
Sexta-feira passada, por exemplo, lá estava eu em uma cadeira de barbeiro, reduzindo o comprimento dos meus fios grisalhos quando ouvi a pergunta inevitável do profissional da tesoura: “O que o senhor acha? Agora a Dilma vai sair?”. Tentei explicar para ele que o processo de impeachment é longo e complicado, mas o barbeiro desabafou: “Se a Dilma cair eu vou para a rua comemorar. A minha conta de luz subiu de R$ 60 para R$ 150. Aquela bandeira vermelha na conta de luz é a bandeira do PT!”.
Deu para sentir que o partido do Luiz Inácio Lula da Silva perdeu uma boa parte do seu carisma para com o povo. Infelizmente o estrago já está feito e não faz diferença nenhuma quem é que vai ocupar o Palácio da Alvorada nesse apagar das luzes. Aquela crise econômica, que o Lula disse que era uma “marolinha”, virou um tsunami que afogou o Brasil. E como no caso do mar de lama daquela represa lá de Mariana, vai levar anos para o país se recuperar. Dilma ou Michel Temer é só um detalhe. A bomba já estourou na cara do povo brasileiro e a crise, que começou a dar as caras ao longo de 2015, vai piorar no ano que vem.
Ter um aumento de 100% na conta de luz não é a pior coisa que pode acontecer. O pior é o que acontece com as pessoas que precisam do sistema de saúde pública nesses tempos de governo falido. Na quinta-feira da semana passada eu estava passeando de noite, com o meu cachorro, o Branco. Ele adora subir a rua onde ficam o Pronto Socorro e o Hospital Municipal de Pinheiral. Era quase dez da noite e uma mulher passou por nós com uma criança prostrada nos braços. Subiu as escadas do PS. Continuamos nossa caminhada, indo até o início da rua que vai dar no “Parque das Ruínas do Casarão”.
Branco não achou nada de interessante por lá e retornamos, descendo a rua. E encontramos de novo com a mulher que carregava a criança adormecida nos braços. Ela reclamava com uma amiga que o filho estava com febre e não conseguira ser atendida no Pronto Socorro. Não tinha pediatra de plantão. E a amiga acrescentou: “Pois é, eles ficam botando brinquedos em praça, mas não tem remédio na farmácia nem pediatra no Pronto Socorro!”.

Falha na saúde

Foi outro desabafo que ouvi gratuitamente, sem perguntar nada. Pessoalmente acho que na falta de pediatra o atendimento as crianças doentes devia ser feito pelo clínico geral de plantão. É melhor do que mandar o paciente de volta para casa sem remédio e sem socorro.
Mas o governo não pensa assim. Não é a primeira vez esse ano que encontro com pessoas reclamando da falta de pediatra no PS. O Brasil vive uma crise moral, uma crise econômica e uma crise institucional. Até o vice-presidente e seu partido resolveram abandonar o Titanic da Dilma.
Mas o povo não tem para onde fugir. Não tem a opção de mudar de país, como os políticos costuram e descosturam suas alianças. A pior crise que vivemos é a crise da saúde. Com uma epidemia de vírus transmitidos por mosquitos se espalhando de norte a sul. Crianças nascem com microcefalia, adultos têm doenças no sistema nervoso e o governo toma medidas inócuas. Voltamos ao século XIX, quando os navios estrangeiros evitavam aportar no Rio de Janeiro devido a insalubridade. Esse é o pior legado do partido da presidente.

Demorou: Mudanças no governo não vão conter a crise (Foto: Arquivo)

Demorou: Mudanças no governo não vão conter a crise (Foto: Arquivo)

 

JORGE LUIZ CALIFE | [email protected]

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7 comments

El CID 13 de dezembro de 2015, 18:17h - 18:17

Na minha modesta opinião a culpa não é dos políticos e sim do povo. Um povo que vota para levar vantagem, tipo ganhar tijolo, telhas, saco de cimento, empreguinho para filho, etc. até existem aqueles que vendem por 50 pratas o voto. Um dia isso vai acabar, vai demorar, mas aprenderemos a votar.

GUEVARA 13 de dezembro de 2015, 09:34h - 09:34

Na verdade, não há como defender este ou aquele político. O quadro brasileiro atual no mundo político em Brasília deu uma ampla idéia, mesmo àqueles que se mostram indiferentes, do porquê se gasta tanto dinheiro em campanha em época de eleição. O dinheiro público sempre foi, seja em nível municipal, estadual ou federal, encarado pelos políticos como um bem pessoal, a ser dividido pelas quadrilhas de ladrões de formam. O custo de vida já tornou-se um pesadelo para o cidadão comum. Veja-se a conta de luz: está insuportável. Investiguem a fundo as motivações apresentadas pelo aumento escraboso da Light. Com certeza, irão encontrar, aí, sérios elementos de corrupção. A moralidade precisa ser restaurada neste país, a começar do Palácio do Planalto e do Congresso Nacional.

Al Fatah 12 de dezembro de 2015, 23:24h - 23:24

Seja bem vindo de volta. Concordando ou não com tuas opiniões, tua coluna e a do Aurélio são o diferencial deste jornal…

leitorVR 12 de dezembro de 2015, 22:48h - 22:48

Excelente coluna.

ricardo 12 de dezembro de 2015, 16:46h - 16:46

Este colunista inicia seu comentário dizendo que pra ele não importa quem fica no governo. Pra mim importa sim e muito, pensamentos igual ao dele é que faz esse estar numa mer …., já pensou o Eduardo Cunha ou o Tiririca lá no palácio do planalto ?

Aposentado 11 de dezembro de 2015, 21:06h - 21:06

Se ficasse mais uns 90 dias de férias a falta nem seria notada.

ÊTA POVINHO 11 de dezembro de 2015, 19:13h - 19:13

Nos países desenvolvidos os políticos que são descobertos por corrupção ABANDONAM a política, pois sabem que nunca mais receberão votos e por isso os partidos já deletam eles.

Aqui quanto mais os politiqueiros aparecem envolvidos em corrupção mais ganham votos. Veja os votos de 95 mil eleitores de VR que reelegeram um prefeito corrupto que claramente desrespeita a lei contra nepotismo com a nomeação do próprio irmão!

Essa mãe e sua amiga certamente votaram na Dilma e votarão novamente, infelizmente porque acham que o problema é na saúde e não das políticas públicas dos politiqueiros que não conhecem a Administração Pública e muito menos entendem de Gestão Pública.

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