É possível governar sem políticos?

by Diário do Vale


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Em alguns grupos dos quais participo nas mídias sociais tenho assistido a coisas atemorizantes. Tenho ouvido ideias que me dão pesadelos, em especial na área política.

A que mais me assusta é a que quer banir a própria política da vida nacional – como se tal coisa fosse possível.

Não sendo possível banir a política, vem então a ideia secundária de banir da política todos os políticos.

Governar sem políticos.

Acompanham as extravagâncias de uma ditadura militar sem o Congresso – o que não aconteceu como fato dominante nem no regime pós-1964.

Ou o governo sob o regime de democracia direta, em que a população decide por plebiscito ou referendo a aprovação de toda e qualquer lei.

Parece bonito, mas é assustador.

Imaginemos um plebiscito proposto por iniciativa popular com a seguinte pergunta:

Você acha que devemos prender perpetuamente todos os diretores de banco que cobrem juros de mais de 12% ao ano?

Há uma enorme chance da vitória do SIM, mas a economia iria para o buraco e simplesmente ninguém ia querer ser diretor de banco.

Outra pergunta em um suposto plebiscito:

Você acha que o Estado deve confiscar os bens dos ricos e distribuir igualmente entre os pobres?

Com um único plebiscito é possível instalar um regime de exceção ao estilo soviético no país.

Democracia direta foi o embrião, na antiga Grécia, da atual democracia representativa, com seus poderes constituídos.

Apenas um embrião.

Não dá para pegar a democracia representativa adulta e enfiá-la de volta ao útero.

Uma fórmula explosiva

Os escândalos recentes envolvendo membros da classe política deixaram o povo sabidamente ressabiado. Mas como tinha dinheiro de commodities correndo a rodo e o governo gastava o que tinha e o que não tinha, ninguém reclamava muito.

Afinal, havia crédito farto, para grandes e pequenos. BNDES subsidiado para os grandes e financiamentos com juros altos (mas a longo prazo) para qualquer um que quisesse trocar de carro.

O caldo entornou quando, junto com a crise política, veio a crise econômica.

Causada pelos governantes. Que são políticos.

Fora isso, as ascensão das mídias sociais aumentou o tom da indignação.  Pessoas que antes viam as notícia no telejornal noturno hoje trocam informações (verdadeiras e falsas) e opiniões (balizadas ou extremadas) às vezes o dia inteiro.

O que é bom em si, na medida em que não só aumenta o fluxo de informações como torna as pessoas mais participativas.

Escândalos políticos, crise econômica e a era das mídias sociais são os equivalentes ao enxofre, ao carvão e ao salitre na composição da pólvora.

Quando estas coisas se juntam, a mistura só precisa de uma fagulha para explodir.

Não é hora de brincar com fogo.

Quem são os políticos, afinal?

A questão é que aqueles a quem chamamos genericamente de políticos são aqueles caras que elegemos. Médicos, advogados, comerciantes, operários, professores, enfim, pessoas de todo o arco social.

Na verdade estes são os políticos eleitos, já que permanece a definição aristotélica de que todo ser humano é um animal político.

Ainda bem.

Por ser um animal político o ser humano é, por extensão, um animal social e gregário.

Mas a revolta citada no texto é contra os políticos que nos governam, ou seja, os que foram eleitos.

Alguns cidadãos se revoltam contra aqueles envolvidos em algo ruim.

Nada mais natural.

A preocupação vem quando a revolta é contra todos os eleitos. E passa-se a questionar a própria eleição ou, em sua essência, a questionar a própria democracia.

Sem político eleito teríamos que ser governados por políticos não eleitos.

Aí acaba a democracia.

O curioso é que no Brasil a democracia foi rara em sua história e é recente após o regime de 1964.

Ainda assim, muitos de nós ainda não aprendemos a conviver com ela. Ao contrário, há cada vez mais pessoas com ódio dela.

A coitada da democracia não tem culpa de nada.

A culpa é dos políticos eleitos que lideram malfeitos. Políticos eleitos pela população, diga-se de passagem. E a safra dos políticos eleitos só vai melhorar com o exercício da cidadania pelos eleitores – exercício que só é garantido em seus direitos na democracia.

Para encerrar, uma frase de Winston Churchill:

“A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas”.

Portanto, temos que ter cuidado com o que desejamos. Nada é tão ruim que não possa piorar.

 

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23 comments

Silas 15 de dezembro de 2016, 08:18h - 08:18

É um fato, existem novas pessoas que assumiram postos de comandos
na maré da revolta popular com tantos escândalos na esfera política e,
se dizem tão independentes que não precisam de mais ninguém, será?
Ledo engano, prestando ou não, nenhum cargo Executivo consegue
governar sem o Legislativo.

EL CID 14 de dezembro de 2016, 18:27h - 18:27

Perfeito Aurélio. A maioria dos políticos são LADRÕES. Mas são eleitos, né ? Na minha modesta opinião, é que nós, o povo, votamos, mas não acompanhamos. Experimente ir assistir uma sessão na Câmara de Vereadores, coisa mínima dentro da sua cidade, e que você nada gasta para ir, ou no máximo uma passagem de ônibus. Comparece meia dúzia de gatos pingados. Um dia quem sabe, aprenderemos a votar sem interesse pessoal. Muitos mas muitos mesmo, eleitores, votam para ganhar tijolo, cimento, telha, empreguinho para filho, etc.

Laticin 13 de dezembro de 2016, 13:34h - 13:34

SIM!NÃO CONTAMOS COM ELES.

Gustavo Guerra 13 de dezembro de 2016, 08:04h - 08:04

Há vários anos não voto mais! E acredito que desta forma com várias pessoas fazendo o mesmo, fará com que o TSE e os políticos vejam esta atitude em massa como forma de preocupação. O Brasil é uma rica potência, mas os políticos fazem com que você acredite que ele nem dinheiro tem. Isto é um absurdo! O país tem dinheiro, água em abundância, terras sobrando, todos os climas dentro de um país. A parte ruim é que o brasileiro tem preguiça de pensar e questionar as coisas sobre sua vida. Minhas professoras já falavam o Sistema não quer que você pense!

VAI VENDO 13 de dezembro de 2016, 09:06h - 09:06

Imagino que a sua professora não sabia Ciência Política e por isso aprendeu o que não devia.

Aqui e nas redes sociais e até nos cargos públicos, muitos não sabem o que dizem ou fazem. Nos governos então, é raro encontrar um que CONHECE a Administração Pública e ENTENDE de Gestão Pública. Aí elegemos Cabral, Pezão, Renam, Temer, Lula, e outros personagens que são ADORADOS por alguns eleitores.

Anderson Machado 12 de dezembro de 2016, 17:03h - 17:03

Esse Aurélio Paiva escreve muito bem!

naldo 12 de dezembro de 2016, 10:07h - 10:07

enquanto o povo estiver votando o país não melhora.o povo vai continuara votando nos mesmos que estão lá no poder e tudo continuará igual.

VAI VENDO 11 de dezembro de 2016, 21:52h - 21:52

O Ser Humano é social e por isso vive em sociedade, vive entre semelhantes. Aqueles que insistem em viver com os bichos ou isolado na selva, no deserto ou além mar, geralmente têm problemas mentais.

E para viver em sociedade é preciso de regras, de limites – eu não posso invadir o seu espaço e vice-versa, e desde alguns séculos atrás tbm não posso te desrespeitar.

O significado de política é a arte de negociação dessas regras sociais (o que podemos combinar?), daí surgiu o Contrato Social que nada mais é do que uma carta de direitos e deveres (constituição) de uma sociedade, de um país. Em qualquer grupo onde há pessoas tem suas regras ou estatuto, como numa empresa, associação esportiva, igreja, clubes, etc, até aqui para se comentar. Para isso funcionar é necessário alguém para estar a frente, seja de um moderador, um juiz , um governante ou um líder – autoritário, democrático ou maluco.

Infelizmente aqueles que pensam que podemos viver sem a política não sabem disso ou então querem bagunçar a vida das pessoas.

Nas redes sociais eu não dou nenhum crédito e ignoro essas mensagens, mesmo sabendo que nada fazendo, esses malucos podem agregar outros malucos.

Penso que o problema maior da política é a omissão de muitos. Por serem omissos escolhem qualquer politiqueiro para os cargos públicos. Escolhem qualquer profissional para ocupar o lugar de um profissional que ENTENDE de Gestão Pública.

VAI VENDO 11 de dezembro de 2016, 21:56h - 21:56

Foram os gregos que inventaram a política e para aqueles que não se interessavam da política, eles deram a qualificação de “idiotas”. Portanto, a palavra “idiota” significa aquele que não se interessa pela coletividade, não se interessa pela sociedade e seu país, ou seja, se preocupa somente com o seu estômago e umbigo.

Afonso 11 de dezembro de 2016, 16:46h - 16:46

Bolsonaro!!!! Intervenção militar já!!!

Al Fatah 11 de dezembro de 2016, 16:34h - 16:34

Todo ser social é político, seja ele homem, abelha, formiga, cupim, lobo, boi, macaco, golfinho, etc…. A política é a própria definição do relacionamento interpessoal e da vida em grupo, então não há como não existir política. Pode até não haver políticos na acepção restrita da palavra, mas política sempre haverá, mesmo no caos anárquico…

Maniac 11 de dezembro de 2016, 13:57h - 13:57

Muito bem! A democracia é o poder emanado do povo e nada representa melhor o povo brasileiro que os políticos que temos… é só olhar em volta e às vezes no espelho mesmo!

Al Fatah 11 de dezembro de 2016, 16:28h - 16:28

Por isso eu sempre digo que, tendo em vista o povo que temos, levando em conta seus hábitos e costumes, o país é até muito bom… Somos uma África melhorada, sem regime tribal e sem conflitos étnicos…

Maniac 12 de dezembro de 2016, 05:30h - 05:30

É isso aí!

Ummagumma 11 de dezembro de 2016, 13:11h - 13:11

Felizmente a maioria dos que escrevem “Bolsomito” nas redes sociais ainda não atingiu a idade biológica para votar.

lei 11 de dezembro de 2016, 10:24h - 10:24

já que 90 por cento dos politicos estão envolvidos em falcatruas. a solução é intervenção militar.

Morador do Açude 11 de dezembro de 2016, 11:16h - 11:16

Isto mesmo, vc prefere envolvimentos em falcatruas desde que vc não tome conhecimento, então meu amigo intervanção militar e censura nos meios de comunicação é o que vc quer. Acorda!!!!!!!!!!!!!

Morador do Açude 11 de dezembro de 2016, 11:19h - 11:19

Intervenção

Dedo-Duro 11 de dezembro de 2016, 12:06h - 12:06

Com a ditadura, você seria preso, torturado e executado ao dizer isso ou qualquer outra coisa sobre o governo.
Provas, julgamento? Não, ditadura não tem isso…

julio 11 de dezembro de 2016, 10:21h - 10:21

Vejam, por exemplo, “movimentos separatistas”, aquecidos pela nojeira política envolvendo como sempre, os famosos coronéis que dominam os partidos (gangs) politicas.

zé fuleragem 11 de dezembro de 2016, 09:53h - 09:53

Nada é tão ruim que não possa piorar. A Dilma com essas palavras deve esta morrendo de rir e pensando agora aguentam.

Sonia 11 de dezembro de 2016, 01:01h - 01:01

Não existe vida sem líder. Não existirá família sem líder. Não existirá governo sem líder. Temos que nos vangloriar e agradecer por termos a oportunidade de vivermos nu a democracia. Mesmo que corrupta (estamos na Rua para mostrarmos nossa insatisfação . Que bom que podemos ir às ruas. No militarismo não. No comunismo, seríamos enganados?como fomos.
Ótima visão. Parabéns!

Rogério 10 de dezembro de 2016, 22:19h - 22:19

Excelente ponto de vista. Parabéns ao brilhante jornalista.

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