Ecologia e gênero são os ‘planos B’ para o pós-guerra fria

by Paulo Moreira

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A Guerra Fria acabou no fim dos anos 1980 – o marco simbólico é a queda do Muro de Berlim, em 1989.  A esse evento se seguiram o colapso da União Soviética e a virada da China da economia centralizada comunista para um capitalismo híbrido estatal/privado.

Nas instalações científicas do vitorioso mundo capitalista, cientistas que se dedicavam a antever a devastação que resultaria de uma guerra nuclear  se viram sem ter o     que fazer. Sem o perigo vermelho, o que justificaria os dólares que irrigavam suas pesquisas?

No lado esquerdo do espectro ideológico, os intelectuais ficaram sem rumo quando se trata da questão econômica.  A propriedade estatal dos meios de produção havia fracassado.

Aí é que entraram os “planos B”.

Do inverno nuclear ao aquecimento global

O risco de um planeta devastado por explosões nucleares provenientes de uma guerra nuclear total estava afastado. Cientistas de diversas instituições na Europa e nos Estados Unidos precisavam descobrir uma nova ameaça global.

Plano B: salvar o meio ambiente, ao melhor estilo do Capitão Planeta, super-herói politicamente correto da época.

E descobriram o buraco na camada de ozônio e as emissões de gases estufa – dos puns das vacas aos canos de descarga dos carros, passando pelas chaminés dos sistemas de aquecimento doméstico e das usinas termelétricas nos países onde isso é necessário.

Bingo! Já existia um inimigo a ser combatido. Coincidência ou não, a “Rio-92”, evento que gerou metas de redução dos gases estufa, acontece apenas três anos depois do fim da guerra fria.

A meta agora era trocar sistemas movidos a petróleo e carvão pelas chamadas energias sustentáveis. E a história prossegue até hoje, com a questão ambiental ganhando enorme destaque nas discussões políticas. O que começou com alertas emitidos por cientistas ganhou as ruas e inúmeras ONGs. A mais famosa delas é o Greenpeace.

Dos operários aos LGBTs e minorias

O discurso do socialismo baseado na propriedade estatal dos meios de produção, ao estilo da União Soviética, do Leste Europeu e da China pré-abertura econômica, se esvaziou. Pressionada pelos custos da corrida armamentista, a economia soviética e dos países da Cortina de Ferro se liquefez. A China tomou a iniciativa – muito bem sucedida, aliás – de transformar em dinheiro o que o país tinha de sobra: sua mão de obra. Deu certo: a possibilidade de chineses abrirem empresas privadas e um bem azeitado programa de desenvolvimento de infraestrutura deixou o país com um perfil de economia de mercado, longe de ser um exemplo de comunismo.

O foco da esquerda não podia mais ser o fracasso do capitalismo enquanto sistema econômico. Plano B: agrupar as minorias.

Do feminismo – que já vinha de bem antes – à defesa dos direitos da comunidade LGBT e das minorias étnicas, a esquerda foi mudando o discurso.

Atualmente, são os diversos matizes da esquerda mundial que se mobilizam por coisas que vão do reconhecimento do casamento entre pessoas do mesmo sexo ao combate a medidas xenófobas, como a tentativa do presidente dos EUA, Donald Trump, de proibir a concessão de vistos de entrada no país a cidadãos de determinados países islâmicos. E por baixo dessa ponte ainda vai passar muita água.

O carro que mostrou a desvantagem dos russos

No início dos anos 90,  os consumidores do Brasil constataram a realidade do diferencial entre as economias capitalistas e socialistas através da importação de carros russos da marca Lada. Enquanto os importados da Europa Ocidental, do Japão e dos Estados Unidos se destinavam aos chamados segmentos premium e eram considerados melhores que os modelos nacionais, os Lada eram carros populares, vendidos com o atrativo do preço. Eram carros sem tecnologia avançada, sem conforto e com qualidade técnica questionável.

E nós com isso?

Volta Redonda está inserida nesse cenário. Aqui também a discussão ambiental ganhou força. Independente de que tem ou não razão no debate, há uma grande quantidade de movimentos sociais envolvidos em questionamentos que envolvem a CSN – maior indústria e maior empregadora privada da região.

O caso do bairro Volta Grande IV, a discussão em torno das emissões de partículas em suspensão no ar e outros aspectos ligados ao meio ambiente só ganharam força porque a ecologia se tornou prioridade.

No que diz respeito às questões das minorias, a “chapa esteve quente” em 2016 com a tentativa de incluir a chamada ideologia de gênero no currículo do ensino fundamental. Uma lei aprovada na Câmara Municipal proibiu que isso fosse feito e está sendo objeto de discussão judicial.

Para o bem ou para o mal, portanto, a pressão pela tomada de medidas de proteção ao meio ambiente pela CSN e a discussão em torno da igualdade de gênero dificilmente teriam alcançado o destaque que tiveram em Volta Redonda se o mundo ainda vivesse sob a ameaça do holocausto nuclear.

 

 

 Pivô: Fim do risco de guerra nuclear total abriu espaço para discussão de questões ambientais e de comportamento (Foto: Reprodução Internet)


Pivô: Fim do risco de guerra nuclear total abriu espaço para discussão de questões ambientais e de comportamento (Foto: Reprodução Internet)

 

Por Paulo Moreira

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7 comments

liberdade e propriedade 31 de março de 2017, 16:20h - 16:20

Assim com o Estado deve ser laico, livre de crenças, também deve ser livre de toda e qualquer ideologia e filosofias, como o comunismo/socialismo. Comunismo/socialismo não é um modelo de Estado, mas é uma ideologia que quer ser o Estado, bem como algumas religiões hoje em dia e também no passado. O Estado deve ser laico e imparcial.

César 1 de abril de 2017, 16:00h - 16:00

Quando o ser humano for imparcial o estado também o será: ou seja: nunca!

liberdade e propriedade 3 de abril de 2017, 10:58h - 10:58

Nunca não! Existem vários estados puros/imparciais/liberais bem sólidos, mesmo com seus cidadãos/humanos parciais. Justamente o fato do ser humano parcial é que o Estado deve ser imparcial para não causar conflito. Engraçado que todos concordam com a “justiça igual para todos”, “estado laico”, mas o estado isento/puro/imparcial/liberal, muitos não querem, pois tem interesse em tornar suas crenças estúpidas em crenças estatais, como o socialismo, daí fica essa Torre de Babel. Socialismo/comunismo/populismo, religião, bandeiras e lobbys, fora do Estado JÁ!!!!

Realista 27 de março de 2017, 09:58h - 09:58

Infelizmente, a esquerda brasileira confunde luta pelas minorias com libertinagem, com estratégias rasteiras, eles estão tentando junto a crianças em colégios públicos a imposição forçada de tais idéias, não importando com a visão e a opinião da maioria, fazendo com que sejamos obrigados a aceitar tais atos com naturalidade, mas não é bem assim, na minha opinião esse sistema adotados em países autoritários é o fim da democracia.

Rebeca 27 de março de 2017, 01:21h - 01:21

Muito boa matéria! Direta, bem organizada e gostosa de se ler, parabéns!

Julio Ferreira 26 de março de 2017, 21:49h - 21:49

Paulo tem o talent e a preocupacao de um jornalista a frente e seu tempo. Encontrar um novo caminho sustentavel para desenvolvimento. parabens pela material. Um abraco meu Julio Ferreira

mauricio 26 de março de 2017, 09:02h - 09:02

…muito bom, muito sucinto, parabéns!!

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