Finados

by Diário do Vale

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Está longe, muito longe, de ser um lugar que eu goste ou costume frequentar. Mas era dois de novembro, Finados, e lá estava eu caminhando por entre túmulos, capelinhas e lápides.
Seja como for, pelo cemitério lotado, deu pra ver que muita gente cultua o gesto demasiadamente humano de fazer uma visitinha aos que se foram. Aliás, vi muito parente se reencontrando em frente aos túmulos, o que me faz crer que devemos instituir um dia dos “Vivos” para que tenhamos um pretexto para visitar as pessoas queridas pelo menos uma vez no ano. E ainda sai mais barato, porque não precisamos levar flores nem velas.
No início achei um pouco sinistro caminhar por aquelas ruas estreitas, mas aos poucos fui me abstraindo e colhendo informações interessantes.
Os nomes por exemplo. Um passeio geracional. Quantos Porfírios, Gertrudes, Adamastores, Áureas, Nicodemos, Tarquínios e Guiomares! Nomes enterrados por modismos impiedosos. Porque não nascem mais Lucrécias nem Apolinários?
Vi o curioso túmulo de uma família onde seis entes foram enterrados juntos (mas em datas distintas). Os três primeiros viveram uma vida longa, nasceram no final de 1800 e morreram próximo do século de vida. E no mesmo túmulo, parentes que tiveram a vida ceifada muito cedo por doenças ou tragédias pessoais, um bisneto de 4 anos, um neto de 13 e um filho de 20 e tantos. Vidas interrompidas e um mistério que o acaso não dá conta de responder.
Percebi que os túmulos marcam também nossas divisões sociais. Alguns são bem cuidados, em mármore nobre ou granito fino. Outros são de azulejos antigos, trincados e encardidos.
Vi até um que era apenas um monte de areia, encimado por uma cruz de madeira carcomida. Esse não tinha nem onde cair morto, coitado.
Pouco importa. No final das contas, são todos mortos. Gente que não existe mais. E um dia estaremos todos lá também, finados em nossas elegantes lápides de mármore ou esquecidos num monte de terra seca.
Esse foi o melhor recado da visita. Um dia seremos pó. Melhor honrar essa existência. E visitar os vivos, nos outros 364 dias do ano.

 

ALEXANDRE CORREA LIMA| [email protected]

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