O grande telescópio e a grande explosão

by Diário do Vale

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Os buracos negros estão entre os fenômenos mais estranhos do universo. Regiões onde a gravidade é tão intensa que nem a luz pode escapar. Desde que seus efeitos foram observados, no século passado, eles se tornaram um tema fascinante para escritores, cineastas, e até desenhistas de quadrinhos. Apesar de toda a sua fama ninguém jamais viu um buraco negro. Os astrônomos sabem que eles existem devido ao efeito que sua gravidade exerce sobre estrelas vizinhas. Mas isso vai mudar com o projeto do super telescópio Horizonte de Eventos.

A iniciativa de um grupo internacional de astrônomos consiste em conectar um conjunto global de radiotelescópios para produzir o efeito de um único telescópio, do tamanho do planeta Terra. A técnica utilizada se chama Interferometria de Base muito Grande. Ela vai juntar telescópios situados no Chile, na Antártida, no Havaí, na Espanha, no México e no Arizona. Esse telescópio virtual será usado para obter uma imagem do buraco negro que existe no centro da nossa galáxia, o Sagitário A.

Estima-se que o Sagitário A tenha a massa de quatro milhões de sóis. Ele tem esse nome porque o centro de nossa galáxia fica na direção da constelação do Sagitário. Se tudo der certo o telescópio virtual vai produzir uma imagem do disco de poeira que cerca o buraco negro. Mas como a luz desse disco é distorcida pela imensa gravidade do buraco, o que deve aparecer na imagem será um crescente e não um disco. Talvez seja possível ver a sombra que o Horizonte de Eventos projeta contra o fundo de material brilhante.

O Horizonte de Eventos é a região de onde não se pode mais voltar. Qualquer coisa que atravesse o Horizonte de Eventos desaparece para sempre do nosso Universo. O que existe lá dentro ninguém sabe. Um dos objetivos da pesquisa é verificar se as teorias de Einstein funcionam nestas regiões de gravidade extrema e, em caso contrário, será preciso criar uma nova teoria da gravidade.

O Universo em que vivemos está cheio de fenômenos de uma violência extrema e os buracos negros são apenas um deles. No dia 2 de fevereiro passado uma descarga de raios gama atingiu o satélite Swift da Nasa. Em poucos segundos o satélite alertou o telescópio Zadki, situado na Austrália, que começou a fotografar a região do céu de onde vinham os raios gama, na constelação do Ofiuco. O telescópio registrou um clarão distante que logo se apagou. Acontece que naquele local não havia nada, nenhuma galáxia conhecida.

Durante aquele breve clarão o fenômeno produziu o brilho de um milhão de estrelas. Nove horas e 42 minutos depois do clarão um telescópio situado no Chile analisou o espectro da luz emitida. E descobriu que a luz e os raios gama tinham vindo de um local a 12 bilhões de anos-luz da Terra. E como a luz que foi captada levou 12 bilhões de anos para chegar aqui, a fantástica explosão aconteceu nos primórdios do universo, quando ele era quatro vezes menor do que é agora.

Aparentemente alguma coisa explodiu em uma galáxia tão distante que não pode ser visualizada pelos nossos telescópios. Com o brilho da explosão foi possível perceber que existia uma galáxia naquele ponto. Conhecidas como GRB (Gamma ray bursts – descargas de raios gama), essas explosões fantásticas são produzidas quando um tipo especial de estrela desmorona formando um buraco negro.

Felizmente não existe nenhuma estrela assim nas vizinhanças do nosso sistema solar, já que uma explosão dessas, em nossas vizinhanças, seria o fim da vida na Terra. Mas lá longe, nos confins do universo, eles são como breves faróis, que nos permitem descobrir novas galáxias, ilhas de estrelas que existiram há muito, muito tempo atrás.

Preciso: O satélite Swift detectou a explosão nos confins do Universo

Preciso: O satélite Swift detectou a explosão nos confins do Universo

 

 

JORGE LUIZ CALIFE | [email protected]

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1 comment

Anderson 7 de abril de 2017, 04:23h - 04:23

Fascinante! O universo guarda mesmo muitas surpresas. Os buracos negros são ainda um corpo celeste muito incompreendido pelo público leigo em geral, já que é sempre retratado como um buraco, o que ele não é. Dizem que a melhor retratação de um deles foi no filme Interestellar, do Christopher Nolan. Quem sabe agora não teremos a imagem definitiva com este novo projeto?

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