Os ajudantes do Aedes aegypti

by Diário do Vale

wp-coluna-espaco-aberto-jorge-calife
Sempre que dou meus passeios com o Branco fico impressionado com a quantidade de copos e recipientes de plástico que as pessoas jogam nos terrenos baldios e na linha do trem em Pinheiral. O povo ainda não se tocou de que estamos sob a ameaça de uma epidemia do vírus Zika, transmitido pelo mosquito Aedes aegypti, que adora esses criadores plásticos fornecidos pela população.
É uma questão simples de falta de educação. Em frente ao Hospital Municipal de Pinheiral tem um ponto de ônibus coberto. Em cada lado dos bancos há uma cestinha para coleta de lixo. Mas as pessoas preferem jogar os copinhos plásticos e as garrafas pet de refrigerante no gramado atrás do ponto. Onde elas ficam lá durante dias, acumulando água de chuva. Continuando minha caminhada passei por um terreno baldio que fica em frente ao Ciep de Pinheiral. Lá deixaram um saco cheio de pratos e copos plásticos que sobraram de alguma festinha. O Aedes aegypti vai fazer uma festa.
Mas o pior é a situação em frente a escola municipal que fica ao lado do fórum. Lá os alunos que saem dos turnos da manhã e da tarde atiram os copinhos e as garrafinhas por cima da grade que separa a rua da ferrovia. E como o pessoal da limpeza urbana não limpa a linha do trem, os copos e recipientes ficam lá. Não tem uma professora nem uma mãe que diga para aquelas crianças que o lugar do lixo é na cesta de lixo e não na rua ou na linha do trem.

Falta de consciência

Vivemos uma situação gravíssima e o povo não se toca. Só esta semana os casos de microcefalia, transmitidos pelo Zika, aumentaram 36%, passando de 1.761 para 2.401 casos. E não é um problema dos estados do nordeste, há casos em São Paulo e até aqui no Rio de Janeiro. As prefeituras e os grupos ambientalistas, que adoram promover marchas inócuas para abraçar rios e lagos podiam colaborar mais para combater essa epidemia. Promovendo uma marcha para limpar a cidade, com as pessoas saindo com sacos de lixo para coletar todos esses criadouros de mosquitos abandonados pela cidade.
Minha sobrinha ficou tão impressionada, que saiu fotografando os copos e recipientes plásticos abandonados nos terrenos de Pinheiral. As fotos dela ilustram essa crônica. É muita coisa e não dá para uma pessoa só recolher. O povo acha que o problema do lixo na rua é um problema da prefeitura. Mas o governo sozinho não vai vencer essa batalha. É preciso que as pessoas ajudem. Nossas cidades são particularmente vulneráveis a propagação de epidemias.
Em 1999 o Brasil recebeu a visita de um dos maiores virologistas do mundo, o inglês John Oxford, da Royal London School of Medicine. Ele estudou o vírus da gripe espanhola, que matou 100 milhões de pessoas em 1918, no início do século XX.
Oxford participou de um congresso em Minas Gerais e ficou impressionado com as nossas favelas. Entrevistado pela revista Ciência Hoje ele disse na ocasião: “No Brasil pude visitar algumas favelas e vi que elas são uma oportunidade fantástica para os vírus. A alta densidade populacional permite que eles sobrevivam e se multipliquem com facilidade”. A constatação do professor Oxford foi comprovada com as epidemias de dengue. O mosquito pica uma pessoa infectada e passa o vírus para os moradores da casa vizinha. E o acúmulo de lixo a céu aberto, como acontece em Pinheiral, é outro fator que favorece a multiplicação dos vetores desses vírus, ou seja, dos mosquitos.
Ainda dá tempo para fazer alguma coisa, mas o tempo está se esgotando. O verão começa segunda-feira que vem e com ele os temporais e as chuvas. E todos aqueles copinhos de plástico abandonados a céu aberto logo estarão cheios de água, onde as fêmeas do mosquito vão depositar seus ovos. No caso do Zika vírus ele não é só uma ameaça para as mulheres grávidas, ele transmite a doença de Epstein-Barr, que ataca o sistema nervoso dos adultos e pode levar a morte.

Focos: Criadouros nos bairros do Ipê e no Centro de Pinheiral (Fotos: Divulgação)

Focos: Criadouros nos bairros do Ipê e no Centro de Pinheiral (Fotos: Divulgação)

espaco aberto (2)

 

JORGE LUIZ CALIFE | [email protected]

You may also like

8 comments

Mané 20 de dezembro de 2015, 20:52h - 20:52

Estamos vivendo uma época que a mídia apresenta excesso de DIREITO e nenhuma OBRIGAÇÃO.

Emilio Zanni 18 de dezembro de 2015, 22:26h - 22:26

O que esperar de um país de raça miscigenada com portugueses, africanos e índios? Isto nos faz diferentes da Holanda, Suécia, Noruega, só para citar alguns do 1º mundo!!!

Al Fatah 19 de dezembro de 2015, 12:04h - 12:04

O problema não é de Pinheiral, mas do Brasil como um todo… A população brasileira é fruto de refugos, e até hoje são os degenerados que povoam majoritariamente o país. Além disso, nunca passamos por grandes guerras em nosso território, nem externas nem civis, o que deixa nas pessoas um menor senso comunitário e cívico (e aí o problema do lixo para ilustrar)… Repare que as pessoas mais capazes ou tem poucos filhos ou não os têm… Mas é certo que o brasileiro de hoje, na sua maioria, é inapto para uma vida em civilização de primeiro mundo. O Brasil é até relativamente avançado, tendo em vista o povo que temos aqui…

Pagador de impostos 20 de dezembro de 2015, 10:50h - 10:50

A Austrália, que tem a mesma idade do Brasil, também foi colonizada por degredados. E vejam em qual posição de desenvolvimento aquele país se encontra. Então, a causa fundamental não me parece ser a citada pelos comentaristas.

Al Fatah 20 de dezembro de 2015, 17:49h - 17:49

A Austrália é MUITO mais jovem que o Brasil. Salvo engano, só foi oficialmente descoberta quase na época da independência dos EUA, e a colonização efetiva só começou em meados do século XIX, quando a maioria dos países já eram maduros. Só uma pequena parcela da população australiana é composta por descendentes de degredados penais, os primeiros a se estabelecer. No mais, a Austrália sempre foi reconhecida por receber “highy skilled migrants”, assim como o Canadá e, em parte, EUA e Inglaterra. Até mesmo a África do Sul recebeu pessoas qualificadas que fugiam das perseguições religiosas na Holanda e França. A parcela branca da população, até hoje, possui padrão de vida de país desenvolvido, e as cidades sul-africanas são bem melhores que as brasileiras em matéria de urbanismo. É lógico que tudo está deteriorado agora, pois o país não foi feito para absorver a grande maioria de população nativa, que era absurdamente marginalizada…

Brasil e Argentina receberam sim refugos, o que é bem diferente de degredados penais, mas ainda assim constitui a parcela daqueles que não tinham habilidades para se manter no país de origem ou tentar a sorte nos acima citados, além dos povos mais fracos que sucumbiram à escravidão no continente Africano… Aqui o pensamento era chegar, ficar rico rapidamente e com pouco esforço para depois meter o pé. De certa forma, é um pensamento ainda recorrente no brasileiro, ganhar com pouco esforço…

Mahatma Glande 18 de dezembro de 2015, 10:07h - 10:07

A frase não é minha é de Oscar Wilde “A educação é uma coisa admirável, mas é bom recordar que nada do que vale a pena saber pode ser ensinado.” enfim a educação forma homens e cultura sábios .

Pagador de impostos 18 de dezembro de 2015, 09:27h - 09:27

Pois é Calife. Sem muito rodeio, podemos dizer que grande parte de nossa população é muito “porca” quando se trata dos ambientes públicos. Isso em qualquer ou em todos os níveis sociais. Entulhos de obras, móveis velhos, lixo, os copos e vasilhames de que vc falou, tudo isso é jogado nas ruas das cidades. Estamos indo de mal a pior. Quanto mais informação temos, mais bobagem fazemos. Mais uma prova de que a informação não está se transformando em conhecimento, em sabedoria, em práticas inteligentes de se bem viver. Vamos em frente………Até quando?

Mahatma Glande 18 de dezembro de 2015, 08:32h - 08:32

A educação senhor Calife é o fulcro de uma sociedade justa e igualitária, não é importante para os governos e as religiões que o povo se eduque .A educação gera pensamento e questionamentos !!! eis o motivo da volta do Aedes aegypti dado com extinto no Brasil Varonil pelo suor e trabalho hercúleo de Osvaldo Cruz e retornou quando os nosso governantes aceitaram reciclar carcaças de pneus vindos de outros países lembram BS Colway, foi lá que houve o reinicio ( basta pesquisar ) tenho dito

Comments are closed.

diário do vale

Rua Simão da Cunha Gago, n° 145
Edifício Maximum – Salas 713 e 714
Aterrado – Volta Redonda – RJ

 (24) 3212-1812 – Atendimento

(24) 99926-5051 – Jornalismo

(24) 99234-8846 – Comercial

(24) 99234-8846 – Assinaturas
.

Image partner – depositphotos

Canal diário do vale

colunas

© 2024 – DIARIO DO VALE. Todos os direitos reservados à Empresa Jornalística Vale do Aço Ltda. –  Jornal fundado em 5 de outubro de 1992 | Site: desde 1996