Os rios de salmoura do planeta Marte

by Diário do Vale

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Semana passada a agência espacial americana Nasa anunciou novas evidências sobre a existência de água em estado líquido no planeta Marte. Já sabíamos da existência de água em estado sólido, como gelo e geada na superfície marciana. Agora o espectrômetro de imagens da sonda espacial MRO (Orbitador de Reconhecimento de Marte) mostrou a existência de minerais hidratados sobre uma série de riscas escuras nas encostas da cratera marciana Hale. Essas riscas escuras aparecem durante o verão marciano, quando a temperatura chega a 23 graus abaixo de zero e ficam mais pálidas durante o inverno, quando a temperatura despenca para 60 graus negativos.
Para a equipe da Nasa as evidências sugerem que as riscas escuras são provocadas por água salgada que brota das encostas durante o verão. O alto conteúdo de sal impediria que essa água congelasse, mesmo na temperatura enregelante do verão marciano. “Em Marte seguimos atrás da água, como em nossa busca pela vida no Universo. Esta foi uma descoberta significativa porque parece confirmar que a água, ainda que salgada, flui na superfície de Marte”, comentou o astronauta John Grunsfeld.
“Só encontramos esses sais hidratados em locais onde a variação climática entre as estações do ano é extrema. Isso sugere que ou as riscas escuras são a fonte da hidratação ou é o processo que as forma. Em ambos os casos a detecção dos sais nas encostas marcianas indica que a água faz parte do processo de formação dessas riscas”, explicou o geólogo Lujendra Ojha, que fez o relatório final sobre a descoberta.

Superfície

A superfície de Marte é um imenso deserto gelado, mas o planeta tem leitos de mares e rios secos. Há milhões de anos Marte tinha praias onde as ondas se quebravam em “câmera lenta” devido a baixa gravidade do planeta (1/3 menor do que a gravidade da Terra). Através de um processo que os cientistas ainda desconhecem o planeta secou e virou um deserto. A maior parte da água que ainda resta em Marte está congelada no subsolo do planeta, devido as baixas temperaturas.
As riscas escuras de Marte são chamadas de Linhas Recorrentes das Encostas (RSL). Elas foram descobertas pelo próprio Lujendra Ojha em 2010, quando ele ainda era um estudante na universidade do Arizona, e passava horas examinando as fotos de Marte feitas pelo orbitador MRO. De 2010 para cá a câmera da alta resolução no satélite já fotografou as riscas escuras em dezenas de locais de Marte, e não apenas na cratera de Hale. Os cientistas acreditam que os minerais encontrados nessas riscas são percloratos. As assinaturas químicas detectadas pelo espectrômetro do satélite sugerem uma mistura de cloreto de magnésio, perclorato de magnésio e perclorato de sódio.
Alguns desses compostos se mantêm líquidos até em temperaturas de 70 graus negativos. O que é bem mais frio do que o inverno marciano típico. Os percloratos já tinham sido detectados por sondas como a Fênix e a Curiosidade, mas essa foi a primeira vez que se detectaram percloratos hidratados. Alguns tipos de percloratos podem ser usados como combustível de foguetes. Assim, os futuros colonos marcianos poderão extrair água e combustível dessas fontes marcianas.
A descoberta só foi possível devido as capacidades do satélite MRO, que entrou em órbita ao redor de Marte em 2006. Com ele os cientistas podem observar a superfície de Marte com imagens de alta resolução ao longo de anos seguidos. Primeiro eles descobriram as faixas escuras, que mudavam de intensidade com as estações do ano. Agora puderam analisar os minerais que existem nelas.
Foi necessário usar várias espaçonaves ao longo de vários anos para conseguir esta descoberta. “Agora sabemos que existe água líquida na superfície deste mundo desértico e frio”, concluiu Michael Meyer, cientista chefe do programa de exploração de Marte da Nasa.

Evidência: As riscas têm 100 metros de comprimento (Foto: Divulgação)

Evidência: As riscas têm 100 metros de comprimento (Foto: Divulgação)

 

JORGE LUIZ CALIFE | [email protected]

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