O campo magnético da Terra está enfraquecendo. Segundo dados enviados pelos magnetômetros colocados a bordo de três satélites da série Swarm, o campo tem diminuído de intensidade 10 vezes mais rápido do que no passado. Isso pode indicar que estamos nos aproximando de um evento de reversão dos polos magnéticos do planeta. A última vez que isso aconteceu foi a 780 mil anos. Quando os polos magnéticos sul e norte trocaram de lugar. A possibilidade tem motivado novas profecias de fim de mundo na internet. Mas é preciso esclarecer algumas coisas.
A primeira coisa é não confundir os polos magnéticos com os geográficos. Eles não coincidem e a reversão dos polos magnéticos não significa que o planeta vai virar de cabeça para baixo. O único problema é que o campo magnético enfraquece antes de uma reversão, o que pode criar problemas para os satélites artificiais e as redes de distribuição de energia elétrica. Segundo cientistas ouvidos pelo site Space.com a reversão não é instantânea e pode levar de mil a dez mil anos para acontecer. É o que diz a cientista Monika Korte, do Observatório Geomagnético de Potsdam, na Alemanha.
Durante esse período o campo magnético do planeta pode enfraquecer e surgirem mais de dois polos magnéticos. A mudança seria mais sentida aqui na América do Sul, onde existe a Anomalia Magnética do Atlântico Sul. É uma região onde o campo magnético do planeta é mais fraco e com a mudança ele pode se tornar mais fraco ainda.
Isso permitiria que as partículas de radiação do Sol atingissem a atmosfera da Terra com maior intensidade. O que pode abrir novos buracos na camada de ozônio, como aquele que foi observado na Antártica.
Os astronautas que tripulam as Estações Espaciais observam lampejos nos olhos quando passam por essa anomalia. Eles são causados por partículas atômicas atingindo a retina. Atualmente elas não causam danos, mas se o campo enfraquecer ainda mais, a radiação vinda do espaço pode interferir com o sistema de navegação de aviões e satélites. Os cientistas estão monitorando o fenômeno e devem emitir alertas se a situação se agravar.
Alguns planetas como a Terra e Júpiter tem um forte campo magnético. Outros, como Marte, não tem. Aqui na Terra o campo magnético é produzido pelo ferro derretido que existe no núcleo do planeta. Ele age como uma imensa barra de ferro imantado. Mas, como não é sólido, ele emite glóbulos de ferro fundido que se alinham na direção oposta. Com o passar dos séculos esses glóbulos dissidentes se tornam maioria e o campo magnético se inverte.
Em condições normais o campo magnético da Terra desvia as partículas atômicas do vento solar, fazendo com que elas fiquem presas em uma região conhecida como cinturão Van Allen. O cinturão foi descoberto em 1958 pelo primeiro satélite artificial americano, o Explorer 1, cujo lançamento, no dia 31 de janeiro, completou 60 anos.
O que sabemos atualmente é que se o campo magnético da Terra enfraquecer durante uma reversão vamos ter problemas com satélites e aviões, mas não será o fim do mundo. A vida em nosso planeta já enfrentou fenômenos catastróficos de extinção, mas nenhum deles está associado com a reversão dos polos magnéticos. Há 780 mil anos, por exemplo, quando os polos se inverteram pela última vez não houve nenhuma extinção em massa e a vida continuou sem problemas.
Em nossa época a vida terrestre tem sofrido mais com a ação humana do que com fenômenos naturais. O número de espécies ameaçadas de extinção vem crescendo à medida que a humanidade ocupa mais áreas do planeta para a produção de alimentos. Sem falar no aquecimento global, provocado pela indústria dos combustíveis fósseis. Isso é uma ameaça mais concreta do que a mudança nos polos magnéticos.
JORGE LUIZ CALIFE | [email protected]
1 Comentário
Bom esclarecimento, Calife. Depois do planeta Nibiru, que iria se chocar com a Terra, estão abundando na internet as novas teorias da conspiração sobre fim do mundo relativas à inversão dos pólos magnéticos.
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