Pinewood, o abraço e outras bobagens

by Diário do Vale

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Paraíba: Marchas e cartazes não despoluem o rio  Foto: Arquivo

Paraíba: Marchas e cartazes não despoluem o rio
Foto: Arquivo

Morar em Pinheiral sempre rende um farto material para estas crônicas semanais. Outro dia eu estava chegando na entrada do município, ali em frente ao campus da Foa, olhei para a encosta do morro e fui surpreendido com uma visão insólita. A prefeitura tinha instalado um enorme letreiro, “Pinheiral”, na encosta do morro. Imitando um letreiro igual que existe em cima de Hollywood, aquele bairro de Los Angeles que é a capital do cinema americano. Se era para imitar os americanos porque não colocaram logo o nome da cidade em inglês: “Pinewood”.
Na verdade Pinheiral está bem longe de ser um polo cinematográfico. Lá não tem nem cinema ou locadora de filmes. Se existe uma cidade da nossa região que tem apoiado a indústria cinematográfica é Barra do Piraí. Onde a cintilante Letícia Spiller, a Soraya da novela das sete, rodou um filme recentemente. E andou recebendo homenagens. Barra do Piraí ainda tem fazendas da época do café e cenários capazes de atrair as produções cinematográficas. Pinheiral não. A menos que o Arnold Schwarzenegger, que andou pelo Brasil semana passada, resolvesse rodar uma sequência do Exterminador do Futuro no que restou do casarão do Breves.
O letreiro no alto do morro é outro daquelas iniciativas inócuas, como o recente Abraço ao Rio Paraíba. Esse foi na semana passada, durante a Semana do Meio Ambiente. Em Pinheiral e outras cidades as pessoas saíram com fachas e cartazes para “abraçar o Rio Paraíba do Sul”. Pinheiral tem uns vinte mil habitantes e o esgoto é jogado in natura no Paraíba. Os prefeitos nunca se preocuparam em construir uma estação de tratamento, que seria mais útil do que o tal Parque Aquático atualmente em construção. São vinte mil pessoas urinando e defecando diariamente no pobre do Paraíba do Sul. Diante disso sair na rua com faixas em defesa do rio é mais do que uma perda de tempo. É uma demonstração de hipocrisia.

Violência no Rio de Janeiro

Esses atos simbólicos nunca resolveram os problemas reais do nosso país. Vejam o caso do Rio de Janeiro. A criminalidade na ex-Cidade Maravilhosa atingiu um nível crítico na década de 1990. Pessoas morriam no meio da rua todo o dia, vítimas de assalto e balas perdidas. E a primeira resposta da população diante daquele estado de guerra civil foram às marchas pela paz. A classe média colocava camisas brancas e saia na rua pedindo paz. Uma vez até abraçaram a Lagoa Rodrigo de Freitas, palco de crimes notórios.
Adiantou alguma coisa? Não. Os bandidos não estavam nem aí para as camisas brancas e os pedidos de paz. A polícia dizia que não tinha efetivo suficiente e pedia a ajuda das forças armadas. Os militares respondiam que não tinham treinamento para isso e que não podiam subir morro atrás de bandido. E os tiroteios continuavam. O governo só acordou para o problema no dia em que o governo do PT, o partido do Lula e da Dilma, convenceu a Fifa a sediar uma Copa do Mundo no Rio de Janeiro.
Aí o que era impossível deixou de ser. Diante da Copa do Mundo o Exército, a Marinha e os fuzileiros cederam homens, tanques e helicópteros para invadir o Morro do Alemão e outros refúgios dos criminosos. E o Rio de Janeiro desfrutou de um breve período de paz até as coisas voltarem a situação anterior. Com novas mortes em torno da Lagoa Rodrigo de Freitas, esfaqueamentos no centro da cidade e balas perdidas matando indiscriminadamente. Talvez façam alguma coisa antes dos Jogos Olímpicos, mas uma coisa é certa. Vestir camisa branca e “marchar pela paz” não vai adiantar nada.
Com o Rio Paraíba do Sul é a mesma coisa. Enquanto não forem tomadas medidas concretas para a despoluição do rio, com estações de tratamento de esgotos em todas as cidades, vamos continuar bebendo água tirada do esgoto.
Aqui Jorge Luiz Calife, de Pinewood para o DIÁRIO DO VALE.

Jorge Luiz Calife | [email protected]

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9 comments

Carlos Prado 15 de junho de 2015, 10:31h - 10:31

Mais uma vez concordo com o Calife, sem tratar o esgoto, continuaremos a utilizar água de esgoto, em um futuro próximo, todas as cidades terão que ter uma estação de tratamento de esgoto, devido a escassez de água potável, e para diminuir a agressão ao meio ambiente.

cidadão antenado 14 de junho de 2015, 17:42h - 17:42

Considero ótimas as colunas do Calife. São temas que incentivam reflexões muito importantes. Se todos fossem questionadores….

eduardo 14 de junho de 2015, 14:29h - 14:29

Só bobagem!

Menê 14 de junho de 2015, 13:44h - 13:44

“Fachas”? O cronista não saber português é uma coisa. O jornal não ter revisor é outra.

Al Fatah 14 de junho de 2015, 19:34h - 19:34

Comete esse tipo de erro dois tipos de pessoas: um deles refere-se a pessoas semiletradas, as que nunca foram bem em redação na escola, mesmo. O outro é o das cultas, donas de vasto vocabulário (inclusive de palavras estrangeiras) atulhando o cérebro, o que por vezes provoca esse erro, fruto de confusão mental, que muitas vezes passa despercebido mas não por desconhecimento… Calife certamente se encaixa no último tipo…

Miguel Arantes 12 de junho de 2015, 23:42h - 23:42

Essa cidade da foto é Pinheiral? Não conheci esse lado da cidade quando estive aí, me pareceu uma cidade pequena, sequer tinha edifícios de grande porte no centro.

Icaro 12 de junho de 2015, 15:51h - 15:51

Sem multiplicar desnecessariamente os termos… é isso aí, Calife!

Alexandra 12 de junho de 2015, 12:02h - 12:02

Nossa! Achei muito deselegante seus comentários, afinal é uma cidade pequena que tá tentando se desenvolver, tá tentando acertar. Vamos dar uma chance? Afinal o que temos com isso, se nem moramos lá.

Geraldo 12 de junho de 2015, 11:06h - 11:06

É isso mesmo. Nada como um grande evento para que os projetos e o dinheiro (que nunca há para o que realmente importa) apareçam e saiam do papel. Eu acrescentaria o seguinte : muitos dos que participam das passeatas e pedem pelo rio, são os mesmos que jogam lixo na rua, colocam entulhos em terrenos baldios etc….

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