Sobre deuses e homens

by Paulo Moreira

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A ciência já conseguiu explicar como surgiu o universo e como a vida na Terra chegou ao ponto em que estamos. Mesmo assim, boa parte da humanidade busca conhecer um suposto ser inteligente, imortal e todo-poderoso que teria criado toda a realidade que conhecemos. Ao longo da história, povos cultuaram milhões de diferentes deuses, e mesmo hoje há milhares de religiões, todas baseadas na existência de um ou mais seres supostamente superiores.

A tese que defendo nesta coluna é que não sabemos nada verdadeiramente sobre esse assunto. Assim, ninguém deve se colocar como dono da verdade nem discriminar os que acreditam de forma diferente.

Como se explica essa variedade de religiões?

Para quem acredita em seres superiores, me lembro de um trecho do livro “O príncipe invencível”, de Virgínia Lefevre, uma biografia romanceada de Alexandre, o Grande. Cito o livro de memória, portanto o leitor que perdoe alguma inexatidão.

Contam que Alexandre, uma vez, chamou o sábio de um dos povos que ele havia conquistado, perto de onde hoje é a Índia, e mandou que eles explicassem porque havia tantas religiões. O sábio pediu que ele conseguisse um elefante e três cegos de nascença.  Alexandre conseguiu o que o sábio pediu.

Ele pôs um cego em frente à tromba do animal, outro perto das orelhas e outro perto das patas, depois disse a eles que eles conheceriam um elefante e deveriam apalpá-lo para descrever. Passados alguns minutos, pediu que descrevessem o bicho.

— O elefante é longo e mole como uma cobra — disse o que ficou perto da tromba.

— Não, ele é redondo e firme como uma árvore — argumentou o que ficou perto das patas.

— Vocês estão loucos, o elefante se parece com uma grande folha — respondeu o que ficou perto da orelha.

A discussão ficou cada vez mais acirrada e quase virou briga.

O sábio pediu que retirassem os cegos e o elefante e explicou ao conquistador o motivo da encenação:

— O ser humano sabe tão pouco e tem uma capacidade de entendimento tão pequena que, em termos cósmicos, é como um cego. Cada povo toca uma parte do deus e fica com a firme convicção de que o deus é aquela parte. Nenhum dos cegos que tocaram o elefante estava mentindo, mas nenhum deles conseguiu saber como é o elefante inteiro. Assim são os homens e suas religiões — disse.

Assim, se é que existe algum ser superior, é bem provável que estejamos muito longe de conhecer sua verdadeira natureza. Mesmo que tal ou tais seres tenham se revelado a seres humanos, o que entendemos sobre eles e seus desejos deve ser menos do que os nossos cachorros entendem sobre o que falamos com eles.

Há necessidade de deuses?

Há uma corrente de pensamento que acredita que o pensamento religioso é uma forma de preenchermos as lacunas do nosso conhecimento sobre o universo, o que explicaria o fato de povos antigos explicarem as mudanças meteorológicas com a intervenção divina. Junto com isso, a religião seria uma forma de criar uma esperança de que, de alguma forma, o ser humano sobrevive à morte do seu corpo.

No entanto, há milhões de pessoas que convivem bem com a ideia de que não existe nada depois da morte. Outra se satisfazem com a certeza de que o universo começou num big bang e continua se expandindo. Há também quem goste da ideia de que e nenhum deus ou demônio para recompensar os bons ou punir os maus.

Deuses não são necessários – podemos viver sem eles – mas são úteis, já que servem de conforto para dúvidas e angústias de muita gente.

As energias e as forças

Nós não vemos a eletricidade, mas ela está aí, alimentando uma quantidade imensa de aparelhos e equipamentos. A eletricidade é uma forma de energia. Já o eletromagnetismo, que é o movimento dos elétrons em torno dos núcleos dos átomos, é uma força fundamental do universo.

Essas energias e forças hoje são bem conhecidas pela ciência e nós já aprendemos a lidar com elas e usá-las a nosso favor, mas nem sempre foi assim e ainda não é possível dizer que sabemos tudo sobre elas.

Mas nossa curiosidade – talvez a característica que mais nos ajuda a avançar como espécie – nos leva a especular sobre outras formas de energia e outras forças.

Nesse sentido, alguns humanos buscam conexões entre suas mentes – talvez a parte menos conhecida da nossa espécie – e o universo, através de meditações, como na Yoga, ou de rituais, como na Wicca e em outras práticas religiosas.

Akasha

Um conceito interessante é o de Akasha. Basicamente, é um banco de dados gigantesco que armazena tudo que se passa na mente de cada ser humano. Seria o correspondente religioso ao inconsciente coletivo de Jung.

Para algumas pessoas, gênios não seriam pessoas com a capacidade de criar conhecimento novo, mas seres capazes de minerar Akasha. E Akasha não seria apenas o acúmulo do conhecimento humano, mas o de todos os pensamentos de todas as espécies que existem ou existiram no universo, o que explicaria quando alguém descobre algo que não havia sido pensado por outros seres humanos.

E nós com isso?

Estas são apenas algumas considerações sobre a fé. Tenho visto muitas pessoas discutirem na tentativa de impor aos outros o seu pensamento. Sinceramente, isso é uma estupidez. Conversar e apresentar argumentos é natural para o ser humano. E se todo mundo pensasse igual não haveria o que argumentar.

Se você vir uma manifestação de pensamento que não concorde com a sua, argumente de forma educada.

Não precisamos nos matar por causa do que não sabemos nem por aquilo em que acreditamos.

 

 

PAULO MOREIRA | [email protected]

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7 comments

curso de iniciação na wicca 30 de julho de 2017, 18:53h - 18:53

ótimo conteúdo gostei bastante parabéns por favor continue este projeto pelo amor de deus nunca desista deste projeto

Paulo Henrique 30 de julho de 2017, 01:27h - 01:27

Parei de ler em “A ciência já conseguiu explicar como surgiu o universo e como a vida na Terra chegou ao ponto em que estamos” porque, certamente, a partir desse engano, pior se tornaria o texto. A ciência não conseguiu explicar nem a origem nem como a vida chegou ao ponto em que estamos. Seria mais honesto que você dissesse que hoje há teorias que podem explicar tais coisas, mas não que efetivamente explicou, a não ser que você acredite que seja realmente assim – nesse caso, deve exteriorizar sua fé pseudoracional. Você, então, ou é desonesto ou desinformado. Se falasse, porém, das ondas gravitacionais de Einstein, por exemplo, sim, você poderia dizer “a ciência conseguiu explicar as ondas gravitacionais”, há três anos, nos EUA. Se parte de uma premissa falsa, todo o seu texto pode ser falso. Se não for falsa, é, no mínimo, temerário. Estude mais.

Maniac 24 de julho de 2017, 18:03h - 18:03

As religiões sempre procuraram moldar o comportamento social; também suprir o homem de conformismo e paradoxalmente conforta-lo perante a sua finitude. Todas são válidas e Deus não é racional, portanto não se discute a fé do próximo… acredita-se ou não, cada um da sua forma, que certamente não será imutável por toda a vida. Os donos da verdade são os maiores ignorantes. Gostei muito do que você escreveu, pois sintetizou um assunto infinito!

João Bruno 24 de julho de 2017, 12:45h - 12:45

A verdade é … achamos que sabemos tudo em relação a isso, mas não sabemos. A vida do começo ao fim é um MISTÉRIO ´´ de onde viemos e para onde vamos e onde estamos???? ´´. Centenas de teorias , mas em qual acreditar ?
Mas eu particularmente, acredito em Deus independente de qualquer teoria. Confio , acredito num ser Divino eterno que somos dele

Valmir 24 de julho de 2017, 10:41h - 10:41

Belíssimas palavras………e a saga continua….
de onde viemos e para onde vamos e onde estamos????

Liberdade individual 23 de julho de 2017, 15:05h - 15:05

Gostei muito do segundo parágrafo.
Igreja e ciências não são inimigos, a Igreja foi quem mais contribuiu nos avanços da ciência. A ciência nunca provou de o onde veio o Ovo cósmico e o primeiro vestígio de vida do qual dizem termos evoluído. Pouco provável que complexidades como nossa reprodução seja obra do acaso. Uma evidência concreta da existência de Deus é a existência da Igreja, uma corporação de 2000 anos. Nenhuma corporação humana durou ou duraria tanto tempo e seria tão imensa. Reflita o tamanho da Igreja.

Mauro 27 de julho de 2017, 17:31h - 17:31

Alguns comentários, com seu texto destacado:

Igreja e ciências não são inimigos,

Não são inimigos, mas são bastante distintas. Podemos notar que uma diferença importante entre elas é que a ciência, devido a sua própria natureza, se propõe a estabelecer fatos objetivos. Já a religião fala de “verdades” pessoais. Assim, cada um de nós pode ter suas próprias crenças, mas temos em comum uma única ciência.

a Igreja foi quem mais contribuiu nos avanços da ciência.

Galileu não concordaria com você….muitos cientistas (na época eram chamados “filósofos naturais”) eram religiosos porque isso era o comum naqueles tempos. O certo seria analisarmos se a Igreja tinha como prática o apoio, como instituição, à liberdade de manifestação de ideias, mesmo que contrárias aos seus dogmas. E sabemos que isso não ocorria (vide a infame inquisição). Hoje, com a separação clara entre ciência e religião, isso é possível. Pesquise e veja hoje quantos cientistas são declaradamente religiosos.

A ciência nunca provou de o onde veio o Ovo cósmico e o primeiro vestígio de vida do qual dizem termos evoluído. Pouco provável que complexidades como nossa reprodução seja obra do acaso.

A origem da vida realmente tem lá os seus mistérios. Mas veja que a evolução por seleção natural só começa a agir quando existe vida. Portanto ela explica a origem das espécies, não da vida em si. Concluímos então que não foi o acaso que gerou vida inteligente. Foi a seleção natural, e esta nada tem de aleatória.

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