Sorrindo ou não, você pode estar sendo filmado

Por Diário do Vale

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Depois que li o livro 1984, no ano de 1984, presente dado a mim pelo amigo, o escritor Paulo Coelho, obra de George Orwell, escrita em 1949, um ano antes de sua morte, era curiosamente distante da realidade do livro 35 anos. Ainda naquele ano imaginava que o que estava ali escrito dificilmente se tornaria uma realidade. Ledo engano. O livro nos dias atuais traduz ao pé da letra a realidade em que vivemos.

Orwell indiscutivelmente era um escritor visionário, seu livro revela que a distopia escrita em 1949, não era uma ameaça tão distante, ela estaria frente aos nossos olhos alguns anos depois.

A obra trata de uma temática que não poderia ser mais atual, a realidade de uma sociedade vigiada por câmeras ininterruptamente. Uma vigilância criada para controlar as pessoas, um totalitarismo a olhos vistos, literalmente.

E foi através dessa vigilância que os crimes quase perfeitos, tornaram-se bem mais fáceis de serem elucidados, haja vista as investigações que levaram a polícia a localizar e prender os assassinos da juíza Patrícia Acioli, morta em 2011. Foi através de câmeras que estavam pelo caminho feito pela juíza, durante 40 minutos, que o crime começou a ter a sua resposta, conseguindo identificar quase que imediatamente os mandantes e executores da ação.

E casos como esse vão dia após dia ganhando respostas mais imediatas quando se recorre as imagens de câmeras.

Alegria de uns, desgraça de outros. Quem hoje está no olho do furacão é o jornalista William Waack, “vítima” do vazamento de um comentário infeliz feito em 2016 nos EUA, enquanto as câmeras ligadas se preparavam para colocá-lo no ar, ao vivo. Certamente alguma mágoa arquivada por um desafeto, no estilo “vingança é um prato que se come frio”. De imediato a Rede Globo o colocou na geladeira e em momento algum um pedido de desculpas, que acredito faria muito mais efeito, foi feito pela emissora ou mesmo pelo jornalista.

Casos como esse, captado por câmeras, já fazem parte da vida de muitos, sejam eles personalidades conhecidas do grande público ou meros mortais.

Nossa Constituição diz que ninguém é obrigado a constituir prova contra si mesmo, ou seja, ninguém é obrigado a dizer “sou culpado” ou dizer qualquer coisa que possa levar à presunção e sua culpa ou mesmo apresentar qualquer prova que possa levar à presunção da mesma. É o equivalente brasileiro ao que vemos nos filmes, sobretudo, os americanos: tudo o que você disser poderá ser usado contra você. A consequência dessa frase é que se você não quiser que seja usado contra você, não diga nada. Esse é o seu direito.

Mas a partir do momento em que você disse algo, seja para a polícia ou mesmo para outra pessoa ou se foi filmado, fotografado ou assinou algo, isto poderá ser usado como prova contra você. Você abdicou de seu direito no momento em que você resolveu produzir a prova.

O patrulhamento e consequentemente o apedrejamento moral hoje é algo corriqueiro, sobretudo, nas redes sociais, espaço midiático que é capaz de levar a pessoa ao céu ou ao inferno em fração de segundos. Fazendo justiça para alguns e acabando com a vida de outros, muitas vezes inocentes, sem a menor cerimônia.

Amigos próximos, além de vários jornalistas que conhecem de perto o apresentador do Jornal da Globo, saíram em defesa de William Waack, alegando que ele jamais foi racista e o que aconteceu foi uma infelicidade, um ato produzido durante uma brincadeira “inconsequente” e que a fala dita jamais consignaria que ele era de verdade um racista.

Racista ou não ele terá que provar que a “brincadeira” não tinha nenhum fundo de verdade, muito menos raça e cor, mas que foi um comentário tosco e infeliz.

Assim, as câmeras que estão espalhadas pelos quatro cantos de nossa vida, fazem a alegria de muitas pessoas, como por exemplo, em programas de TV. Como destaque maior temos o pai da invasão de privacidade, o Big Brother. No seu rastro veio a cópia caipira, A Fazenda, além do já falecido Casa dos Artistas. Reality shows que fazem a festa para milhões de telespectadores e engordam a conta das emissoras de TV, através de patrocínios milionários, entretenimento que para muitos não passa de lixo cultural e emocional.

Hoje, não existe um só lugar onde não estamos sendo monitorados. Dos elevadores aos coletivos, dos mercados aos hospitais, das lojas em geral aos clubes, escolas, restaurantes, prédios comerciais, residências e pelas ruas das cidades.

Infelizmente nem sempre esse aparato espalhado pelas ruas e avenidas é capaz de fazer algum efeito em tempo real, ajudando na identificação prévia do bandido e sua respectiva prisão. Muitas vezes e na maioria delas, a câmera tem sua função valiosa usada na capturada do criminoso, somente após o assalto e pior, depois que o crime está consumado com vítimas. É fato que cada vez mais, a polícia se utiliza de imagens de crimes, oriundas das câmeras espalhadas por todos os cantos, para rapidamente identificar ladrões e assassinos.

Os centros de monitoramento e controle espalhados em várias cidades brasileiras, busca através de uma logística previamente estudada tornar as câmeras um instrumento útil para a população e mesmo sob a polêmica da invasão de privacidade, na verdade elas não passam de aliadas, porque seu objetivo é serem usadas para um trabalho de investigação e inteligência, além de mapeamento para evitar futuros casos, pena que muitos desses centros são meras gaiolas pintadas de preto, espaços inoperantes e sem a menor objetividade em suas funções.

Bom, diante desse controle que veio para ficar quando sabiamente usado, lembro de duas frases memoráveis, uma dita por Steve Jobs, um dos fundadores da Apple, empresa criadora de produtos como iPod, iPhone, iPad e outros. “Trocaria toda a minha tecnologia por uma tarde com Sócrates”, ou ainda a que disse George Orwell no livro 1984, em que ao olharmos bem no olho de uma câmera que nos espreita em algum ponto do nosso caminho, certamente nos lembraremos: “O Grande Irmão está observando você”.

 

 

ARTUR RODRIGUES | [email protected]

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