O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou na quinta-feira, 8 de março, um decreto em que cria uma sobretaxa de 25% sobre as importações de aço. Ele também criou uma taxação de 10% sobre as importações de alumínio, mas como não há nenhuma Cidade do Alumínio na região, vamos falar só da primeira medida.
Pra começar, vamos ver o que pode acontecer em Volta Redonda. De acordo com o balancete da CSN referente ao terceiro trimestre de 2017, 62% da produção da Usina Presidente Vargas é destinada ao mercado interno e os 38% restantes são exportados. É muita coisa, para uma empresa que já destinou mais de 80% de sua produção para o mercado brasileiro.
As exportações de aço da CSN vão principalmente para os Estados Unidos e a Europa – até porque a siderúrgica tem unidades de beneficiamento de aço nos dois locais. Fazendo de conta que metade das exportações da CSN vai para os EUA e calculando que a medida de Trump resulte em 30% de perda sobre as exportações destinadas àquele país, teríamos uma redução de 5,7% no volume de vendas total. Não é o suficiente para colocar em risco a sobrevivência da empresa, mas é o bastante para gerar algumas medidas de corte de custos, entre as quais, infelizmente, pode estar a demissão de pessoal.
Mas isso é apenas um palpite. O impacto pode ser maior ou menor. Só quem tem os números atualizados e detalhados pode dizer o tamanho exato do prejuízo, mas que ele existe, existe.
O problema, no entanto, vai mais longe. A medida do presidente americano arranha os negócios da CSN, mas faz um corte profundo nas siderúrgicas chinesas, que, calcula-se, produzem em uma semana o que o Brasil faz em um ano. E exportam bem mais do que 38% da produção. Portanto, os chineses vão ficar com um monte de aço pra vender em qualquer outro lugar que não os Estados Unidos.
A conclusão lógica é que os orientais vão com tudo, não apenas pra cima do mercado europeu, para onde a CSN também exporta, como também vêm com “sangue nos olhos” para o próprio mercado brasileiro. E a China não tem a menor dificuldade de reduzir preços para conquistar mercado.
Eles podem se dar ao luxo de ter prejuízo, porque têm trilhões de dólares de reservas para queimar com a compra de participação em qualquer mercado, vendendo abaixo do custo para eliminar concorrentes e depois subindo os preços quando o cliente tiver menos alternativas.
Enfim, o protecionismo de Trump pode reduzir as vendas da CSN até no mercado interno.
A origem do problema
O Instituto Aço Brasil – associação que reúne as siderúrgicas brasileiras – reconhece, assim como várias entidades similares pelo mundo, que existe excesso de capacidade de produção de aço, em nível global. Em resumo, está sobrando produto no mercado. E onde a oferta é maior do que a demanda, os preços caem.
A maior responsável por essa produção excessiva é – adivinhem – a China. O país asiático, quando estava expandindo sua infraestrutura a uma velocidade altíssima, precisava de quantidades astronômicas de aço. Não dava para comprar do exterior, então resolveram produzir por lá mesmo. E hoje são, disparados, os maiores produtores de aço do mundo.
Custo, para os chineses, é um problema relativo. A China não é nem uma economia de mercado plena nem um exemplo de centralização estatal. Com uma estrutura política autoritária, de partido único, e imensas reservas de capital em mãos privadas e governamentais, eles podem, além de absorver prejuízos, controlar pelo lado da demanda o preço de insumos que eles precisem importar, como o é o caso do minério de ferro.
Já os Estados Unidos vinham, até o início do governo Trump, trocando indústrias por tecnologia. Para as grandes corporações americanas, saía (e ainda sai) mais barato produzir fora, não só por causa do custo da mão de obra como também pelas restrições ambientais. Era comum siderúrgicas americanas fecharem seus altos-fornos, sinterizações, coquerias e aciarias para manterem apenas as laminações, comprando placas prontas no exterior.
Isso custou muitos milhares de empregos de operários americanos, que se viram obrigados a migrar para outros setores da economia, muitas vezes com salários mais baixos ou, pior ainda, se tornaram dependentes do auxílio do governo.
Em outros setores, como a indústria automotiva, houve fenômenos semelhantes, mas a indústria americana conseguiu reagir implantando diferenciais técnicos ou mercadológicos. Mas aço é uma commodity, então não há muito o que se possa fazer em termos de tecnologia.
O perigo mais adiante
O próprio mercado americano está reticente quanto à medida adotada por Trump. Isso porque criar barreiras para o aço importado vai trazer problemas para os próprios Estados Unidos: em primeiro lugar, vai haver retaliações, com outros países estabelecendo sobretaxas a produtos americanos. Países europeus já falam em dificultar a venda de motos Harley-Davidson, por exemplo.
Além disso, o aço vai ficar mais caro no mercado interno (lá deles), fazendo com que automóveis e geladeiras produzidos nos domínios do Tio Sam também encareçam.
O americano comum não compra aço, mas compra carro e geladeira. E compra muito. Se esses produtos “made in USA” encarecerem, ele vai comprar importados.
Aí o governo vai ter que sobretaxar também automóveis e geladeiras importados, o que vai gerar mais retaliações e não vai resolver o problema do consumidor, já que, em vez de o produto nacional ficar mais barato, o importado é que vai encarecer.
PAULO MOREIRA | [email protected]
15 Comentários
Santo Antônio de Volta Redonda, nosso distrito! KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK
Comprem produtos importados e estarão tirando o emprego de um brasileiro, a indústria fabrica menos, empregos se vão na industria, refletindo no comércio e empregos se vão no comércio, consequentemente menos impostos.
Por isso americano é protecionista.
Ele está defendendo o país dele. Vc acha que existe um outro povo esculhambado igual o nosso. Os chineses estão dando de braçada no contrabando no Brasil…. Tudo que é cópia de produtos falsificado entra no nosso país… Para, chega… A CSN está problemática… Está igual um cenário de filme de terror, temos que orar pra que não aconteça um vazamento de gás. Se não vamos dormir e não vamos acordar. Esse BeijaTI quer que o mundo termine em barranco, pra ele morrer encostado…. esse cara compra tudo e todos. O prefeito come farelo dele… Boa noite. Foi só um desabafo.
Se preparem pois vem mais FERRO para o Estado do Rio. Segundo semestre deste ano, os automóveis e ônibus ELÉTRICOS serão realidade, caindo assim o consumo do Petróleo, e consequentemente os Royalties do Petróleo irão despencar. Cada dia uma novidade no mundo moderno, que não para de mudar.
OS AMERICANOS SÃO NOSSOS AMIGÕES… ELES NÃO VÃO FAZER ISSO COM A GENTE.
Trump meteu o ferro em vr hahahahaha.
Bom pra gente, que vamos pagar menos por produtos derivados de aço, carros, linha branca, etc
É mesmo ? O coelhinho da páscoa vai passar na sua casa e em dezembro, vai ser o papai noel. Quando andar na rua a noite, cuidado c a mula sem cabeça………..
Essa parece ser um (primeiro) erro de Trump, após um excelente e irretocável primeiro ano de mandato. No entanto, Trump não é tão bobo, diferentemente do que dizem a GloboNews e CNN. Ele tem uma ótima equipe por trás, e eles conseguem ver coisas adiante que nós não conseguimos agora ver. Eu dou a ele o benefício da dúvida, apesar de ainda achar, particularmente, um má medida.
Como citado na matéria – a questão das Harley, nesse ponto específico – vale lembrar que marcas de outros países faziam uma espécie de dumping, ao mandar aos montes as motocicletas japonesas pros EUA, e eles facilitavam a entrada, o mesmo não ocorria com as motos da Harley para outros países, isso é só um exemplo, entre diversos tipos de relações comerciais que ocorriam que não eram tão justas…
Ué tão reclamando de que ? Em um texto acima, o autor, implicitamente, endeusa os EUA. Não gostam da hegemonia americana ? Então tem mais é q parar de reclamar e tocar o barco.
Mas aí entra o papel do governo. Se embarreiram nossos produtos, temos que fazer o mesmo com os dos outros, afinal aço e automóveis fazemos aqui… A lei universal do comércio, desde que o mundo é mundo, define que só se compra aquilo que não se tem e se oferta em troca o que se tem de sobra…
Kkkkkkkkkkk, companheiro, seu comentário vai de encontro ao de qualquer economista no mundo!
Deixa de ser bairrista! Os EUA, meteram o ferro literalmente no Brasil e consequentemente no distrito de Barra Mansa!
Só rindo mesmo! Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
Qualquer empresa, grande ou pequena, está sujeita a oscilações em sua produção, seja por fatores microeconômicos (concorrentes, clientes, fornecedores, enfim, mercado em geral), seja pelos macroeconômicos, estes muito mais dependente das políticas governamentais, sejam elas nacionais ou internacionais… O Grupo PSA, em Porto Real, chegou a ter queda de mais de 20% em sua produção, o mesmo ocorrendo com a Volks, mas, assim como a própria CSN, são grandes multinacionais que possuem lastro financeiro, ativos sólidos e relevância social que fazem com que atravessem as procelas sem maiores avarias, diferentes das médias e pequenas corporações, que são como barcos pequenos à deriva numa tempestade…
A verdade é que nós em Volta Redonda, que já perdemos 50% de nossa fatia no bolo do já minguado ICMS em relação há 10 anos atrás, agora teremos que suportar as inevitáveis e inglórias consequências desse fato inerente à economia globalizada… nada está tão ruim que não possa piorar.
Comentário de uma pessoa lúcida, diferente de uns e outros que usam uma máscara ridícula e uma camisa do tricolor enferrujado.
CSN é uma empresa que tem uma dívida superior ao seu valor de mercado, não pode ser comparada com gigantes mundias.
O final do seu comentário é perfeito, é o ditado mais certo desse mundo.
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