Os politicamente chatos

by Paulo Moreira

O ano é eleitoral e o fato de a política ser o assunto do momento é esperado. No entanto, tem gente que exagera. São os “politicamente chatos”. Eles vêm em diversos formatos, e esta coluna não tem espaço para falar de todos. Neste domingo vamos falar um pouco sobre três deles: os maniqueístas ideológicos, os intelectuais de rede social (e de boteco, diga-se de passagem) e os alarmistas de plantão.

 

Os maniqueístas ideológicos

 

Esses chatos veem em tudo um motivo para relacionar um acontecimento ou uma opinião com um posicionamento à esquerda ou à direita. O colunista já viu até gente relacionando uma discussão sobre futebol – mais especificamente sobre a falta de um título mundial entre as conquistas do Palmeiras – à questão político-ideológica.

O chato, nesse caso, queria porque queria provar que os corintianos são “tudo petista” (nas palavras e na concordância errada dele). Para o mesmo chato, os são-paulinos seriam da direita liberal, enquanto os palmeirenses seriam a direita troglodita, que quer resolver as coisas na base da porrada e torce pelo retorno da ditadura militar.

Ele também tentou estender sua análise ao Estado do Rio, relacionando os flamenguistas com os corintianos, os tricolores com os são-paulinos e os vascaínos com os palmeirenses.

Detalhe: o chato se inclui no último grupo. E não sabe o que quer dizer troglodita. E nem que pelo menos dois dos mais autênticos vascaínos que o colunista conhece são esquerdistas.

Mas os maniqueístas ideológicos também têm representantes à esquerda. Uma bela representante dessa categoria tomou mais de meia hora do escasso tempo livre do colunista tentando relacionar o gosto musical das pessoas com sua posição ideológica.

Para ela, quem é “de esquerda” tem que gostar de funk, porque é um ritmo das comunidades oprimidas, e precisa odiar “com todas as fibras da alma” o sertanejo, que segundo ela é um gênero oriundo não dos trabalhadores rurais, mas dos “empresários opressores do agronegócio”.

Registre-se que o colunista, ao ouvir a moça, lembrou-se de uns versos de Caetano Veloso: “as garras da felina me marcaram o coração, mas as besteiras de menina que ela disse, não”.

E o colunista disse a ela que é fã de blues, jazz e MPB, recebendo a classificação de seu gosto musical na categoria “elitista”.

 

Os intelectuais de rede social

 

Esse tipo de politicamente chato vê nos debates mais simples uma oportunidade de desfilar uma suposta erudição política. A conversa é sobre direitos iguais para homens e mulheres e o (a) chato (a) resolve apresentar textões sobre a vida de Frida Kahlo e as ideias de Simone de Beauvoir e Jean-Paul Sartre, por exemplo.

No outro lado do espectro ideológico, o intelectual de direita quer aplicar as ideias de Adam Smith em uma discussão sobre a influência das bolsas de valores na avaliação do cenário econômico.

Esses chatos são particularmente tediosos porque, a cada frase, querem colocar um parágrafo explicando a relação do conteúdo citado com o assunto discutido, mesmo que seja preciso fazer uma verdadeira ginástica mental para isso.

Mas eles se tornam piores ainda quando se revelam “intelectuais de internet”: gente que nunca estudou realmente o assunto sobre o qual está se propondo falar e se acha capaz de emitir opinião sobre assuntos como filosofia e economia com base em resumos lidos na Wikipedia.

Se são chatos nas redes sociais, os “intelectuais de Wikipedia” são ainda piores em botecos. Isso porque, na rede social você pode ir para outro assunto com a maior facilidade, enquanto no boteco a opção é sair da mesa e abandonar o chope gelado, um sofrimento indizível.

Você reconhece um “intelectual de Wikipedia” no boteco pelo hábito de consultar o celular enquanto conversa. Nas redes sociais, desmascarar um cara desses é fácil: basta pegar alguma frase mais complexa do texto dele, copiar e colar no Google, entre aspas, de preferência. Logo você vai saber a origem de tanta sabedoria recortada e colada.

 

Os alarmistas de plantão

 

Essa estirpe de chatos escolheu recentemente os militares como seu alvo preferencial. Os alarmistas de esquerda veem os militares se preparando para tomarem o poder a qualquer momento e morrem de medo que isso aconteça, enquanto os alarmistas de direita veem em qualquer votação na Câmara dos Deputados ou decisão do STF que vá contra suas convicções um motivo para os homens de farda saírem dos quartéis e “salvarem a nação do perigo comunista”.

Essa turma é, no campo da discussão política, o correspondente àquele pessoal que vive marcando data para o fim do mundo: toda vez que não acontece, eles arranjam um novo motivo e uma nova data para suas previsões absurdas. Pode ser até que, de tanto eles marcarem data, um dia o mundo acabe ou os militares tomem o poder.

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21 comments

Cala boca otário 18 de maio de 2018, 11:23h - 11:23

Escreveu sobre ele mesmo. Pelo menos teve coragem de se expor. Esse cara é um mala.

SAPO 16 de maio de 2018, 08:43h - 08:43

Como disse um sábio: opinião é igual b u n d a, cada um tem a sua.

Pafuncio 16 de maio de 2018, 23:49h - 23:49

Mas também tem cada opinião q parece q saiu da b u n d a.

Paulo Roberto 15 de maio de 2018, 20:05h - 20:05

Será que golpe militar em “repúblicas de bananas” é tão infalível quanto a morte? Porque o assunto me fez lembrar as previsões de início de ano, quando sempre tinha um vidente, ou sei lá que nome tenha, que dizia que o papa iria morrer. Demorou vários anos, mas quando acontece ainda fazem propaganda: “eu acertei”.

TRISTE CONSTATAÇÃO 15 de maio de 2018, 15:10h - 15:10

Texto preconceituoso e diria até “Politicamente Chato”!

gogo 15 de maio de 2018, 16:01h - 16:01

Não acho não, ele só expôs um fato verdadeiro. Com esse seu post fica confirmado a percepção do jornalista.

Orlando José 14 de maio de 2018, 17:54h - 17:54

Paulo gosto muito de ler seus artigos, e muito mais de ler as asneiras escritas pelos leitores. Como me divirto aqui. Tenha um ótimo dia .

geninha 14 de maio de 2018, 12:07h - 12:07

Ihhhhhh, vão ti xingar. Tem uns aqui q são useiros e vezeiros em discursar um monte de asneiras q, a carapuça cai como uma luva. kkkkkkkkk

Pensadores 14 de maio de 2018, 10:12h - 10:12

Fanático é alguém que não muda de ideia nem de assunto.
O problema do mundo é que os fanáticos estão sempre cheios de convicção , enquanto que os sabia estão cheios de dúvidas.

Maniac 13 de maio de 2018, 19:50h - 19:50

É por isso que quando me questionam, digo que votarei no Eymael… desarma qualquer chato!

Pronto falei 14 de maio de 2018, 10:06h - 10:06

Digo que o voto é secreto.

Pafuncio 15 de maio de 2018, 21:04h - 21:04

Eu digo q sou paquistanês .

Sandra1 13 de maio de 2018, 18:22h - 18:22

Eu ando com arruda atrás da orelha, crucifixo, alho e água benta para me livrar dos politicamente chatos, Deus que me livre desses tipinhos, se alguém ver uma mulher correndo feito louca nas ruas de Volta Redonda pode ter certeza que sou eu correndo dessas pragas. Quem quiser pode me acompanhar.

VAI VENDO 14 de maio de 2018, 00:21h - 00:21

Espero que tbm não vote em corruptos. Só para lembrar:
– Se votar no partido X que estiver ALIADO com partido que acolhe bandidos, o seu voto ajudará os bandidos.
– Se votar nulo, não votará contra, assim está desde já a favor dos bandidos.
– Se pagar a multa , o seu dinheiro vai para o Fundo Partidário que será distribuído aos maiores partidos, e eles estão acolhendo a maioria dos bandidos que têm processos aguardando o STF, dentre eles, o PMDB, PT e PP.

geninha 14 de maio de 2018, 12:04h - 12:04

Sandra1: Acbou de encontrar um kkkkkkkkkkk

VAI VENDO 14 de maio de 2018, 13:17h - 13:17

Vc escuta PLIM PLIM e corre para ver. Está reclamando do quê?

VAI VENDO 14 de maio de 2018, 13:19h - 13:19

Até o celular abandona para ver o que o PLIM PLIM vai informar para iludir.

CONFUCIO 16 de maio de 2018, 15:26h - 15:26

E eu acho que é por mentalidades iguais a sua, Sandra1, que o Brasil tá a m… que tá.

Paulinho 16 de maio de 2018, 20:07h - 20:07

Confucio seu bosta, quem é você para falar da mentalidade de alguém e obrigar as pessoas a ouvir suas m…que destruíram o Brasil? Eu também corro de idiotas como você.

Pombo 13 de maio de 2018, 10:07h - 10:07

Vou tomar uma cerveja.

Anderson 13 de maio de 2018, 07:38h - 07:38

Bom texto, gostei!

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