Os quarenta anos da odisseia das Voyager

by Diário do Vale

A maior viagem de exploração dos tempos modernos está completando 40 anos. E ainda não terminou. Seus protagonistas, as sondas robôs Voyager 1 e Voyager 2 continuam se afastando da Terra em uma viagem sem fim pelo espaço interestelar. Calcula-se que elas darão uma volta completa em torno da nossa galáxia, a Via Láctea, uma vez a cada 225 milhões de anos. No vazio do espaço interestelar onde não há vento, chuva ou ferrugem é possível que as duas naves durem mais do que qualquer outro monumento construído pelos seres humanos.

Atualmente as duas naves encontram-se a 17,5 bilhões de quilômetros da Terra. Tão longe que seus sinais de rádio levam 19 horas e 35 minutos para alcançar a antena parabólica de Goldstone, na Califórnia. Mesmo tão longe elas ainda se comunicam com seus criadores. No dia 1º de dezembro a Voyager 1 obedeceu a um comando para disparar seus retrofoguetes, que não eram acionados há 37 anos. E eles voltaram a funcionar sem problemas. Quando foram montadas, na década de 1970, as duas naves tinham uma vida útil estimada em quatro anos. Esperava-se que elas funcionassem o tempo suficiente para enviar imagens dos planetas Júpiter e Saturno e, talvez, com sorte, de Urano e Netuno. Elas fizeram tudo isso e continuam operando, sem manutenção, depois de 40 anos de exposição ao duro ambiente do espaço sideral.

Quando a era espacial começou, em outubro de 1957, os cientistas sonhavam em enviar astronautas para todos os mundos do nosso sistema solar. Mas logo ficou evidente que os astronautas não teriam condições de ir além dos planetas mais próximos, Marte e Vênus. Viagens aos mundos mais distantes, como Júpiter e Saturno, levariam anos e exigiriam sistemas de manutenção de vida que estavam além da nossa capacidade tecnológica. Mas os robôs não precisam de água, nem de ar ou de comida. E poderiam fazer a viagem a um custo muito menor do que o de uma missão tripulada. Enviando fotos e informações sem arriscar vidas humanas.

Crescente: Saturno visto da Voyager 1

Crescente: Saturno visto da Voyager 1

Explorar

Um raro alinhamento dos planetas, que aconteceria no final dos anos 70, permitia explorar todos os planetas externos com uma única nave. Que usaria a gravidade de Júpiter para impulsioná-la em direção a Saturno e de lá para Urano e Netuno. Na época tudo o que tínhamos sobre esses mundos eram imagens borradas feitas pelos telescópios terrestres. Suas inúmeras luas eram apenas pontos de luz indistintos. O Laboratório de Propulsão a Jato de Pasadena projetou uma nave robô para esquadrinhar esses mundos distantes – a TOPS, sigla de Espaçonave Termoelétrica para os Planetas Externos. Seria um robô movido a energia nuclear capaz de funcionar sozinho, sem assistência humana no espaço profundo.

Infelizmente o projeto TOPS foi cancelado por falta de verbas. Mas os cientistas não desistiram e projetaram duas naves mais simples, as Voyager 1 e 2, que executariam a missão da cancelada TOPS. A Voyager 2 partiu primeiro, no dia 20 de agosto de 1977. Sua missão era visitar quatro planetas e suas luas: Júpiter, Saturno, Urano e Netuno. Dezesseis dias depois foi lançada a sua irmã gêmea, a Voyager 1, cuja trajetória foi ajustada para sobrevoar a lua Titã de Saturno, a única lua do sistema solar que possui uma atmosfera densa.

As imagens começaram a chegar na Terra em 1979 e 1980. E revolucionaram a astronomia planetária. As fotos das Voyager revelaram que a lua Io de Júpiter é um inferno de vulcões em erupção. Que outra lua, Europa, tem um oceano coberto por uma capa de gelo onde pode existir vida. E que os anéis de Saturno são milhares, e parecem os sulcos em um antigo disco de vinil.

Cada Voyager leva um disco de ouro, com imagens e sons da humanidade. Um testemunho das realizações da nossa espécie, lançado no oceano das estrelas.

1978: Cruzando o cinturão de asteroides
Mensagens: Os discos de ouro com imagens e sons
Missão: As naves visitaram quatro planetas e suas luas

 

 

Por Jorge Luiz Calife

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1 comment

Anderson 3 de janeiro de 2018, 10:17h - 10:17

Certamente o mais bem sucedido projeto de exploração espacial, junto com o Telescópio Espacial Hubble. Ainda me lembro das primeiras fotos de Netuno pela Voyager 2, na década de 90. Comecei a gostar realmente de ciências a partir dali. Sobre a exploração tripulada do Sistema Solar Exterior, recomendo o livro do Erik Seedhouse, “Interplanetary Outpost: The Human and Technological Challenges of Exploring the Outer Planets”, sobre um conceito de missão tripulada da NASA para Calisto HOPE (Human Outer Planet Exploration), uma das luas galileanas de Júpiter.

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