Em Cena abre espaço para pesquisadores acadêmicos apresentarem seus projetos teatrais

Por Diário do Vale

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Ao estar cursando os últimos períodos de Licenciatura em Teatro na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO me deparei com dificuldade em estar escrevendo uma monografia. Porém foi nesse momento que, orientado pela Professora Drª. Angela de Castro Reis pude descobrir o quão prazeroso é o oficio do pesquisador teatral.
Agora prestes a ingressar o Mestrado no Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas da UNIRIO volto o meu olhar para uma vontade à priori particular, mas que desejo que possa se expandir entre os leitores, que é o de investigar, aprender e propagar os estudos de outros pesquisadores teatrais, fazendo com que essas importantes pesquisas ultrapassem os muros das universidades, das salas de ensaio e dos espetáculos e se façam presente aqui, nessa ferramenta de divulgação.
Após muitas conversas, pesquisas e discussões com vários parceiros teatrais, lanço nessa edição EM CENA “estudos”, um espaço onde sempre um pesquisador poderá compartilhar um pouco de suas investigações e o seu olhar sobre temas, períodos históricos, grupos e pensadores teatrais.
Vamos então ao trabalho!

EM CENA ‘estudos’

Para essa primeira edição da coluna EM CENA “estudos” disponibilizo “a cena” para Jefferson Almeida que nos apresenta um panorama do trabalho intitulado “Opinião: a retomada brasileira da natureza democrática do teatro por meio do teatro verdade” apresentado como requisito para a conclusão em Bacharelado em Teoria do Teatro da UNIRIO sob orientação do Prof. Drº. Walder Virgulino de Souza, disponível na Biblioteca da Instituição.

Jefferson Almeida: Ator em cena no espetáculo ‘Bilac vê Estrelas’  ( Fotos: Divulgação)

Jefferson Almeida: Ator em cena no espetáculo ‘Bilac vê Estrelas’
( Fotos: Divulgação)

É Bacharel em Teoria do Teatro, diretor e ator. Participou de diversas montagens teatrais como: A Lista de Ailce (2007), Era no Tempo do Rei (2010) e É Com Esse Que Eu Vou (2010), entre outras. Assinou, como diretor, montagens de importantes textos: Mar Morto (2007), O Despertar da Primavera (2012) e outros.

Já dirigiu quase uma dezena de espetáculos infantis. Estando a frente da Definitiva Cia. de Teatro no qual dirigiu e atuou nos espetáculos Calabar – O Elogio da Traição (2008) e Deus e o Diabo na Terra do Sol (2011), onde recebeu o prêmio Revelação de Ator e Diretor na IX Festa Internacional de Teatro de Angra, entre outros prêmios.
Na TV, esteve no elenco das novelas Malhação (2012) e Em família (2014). Lançou, em 2011, pela Multifoco Editora, o livro Notações Sobre o Tempo ou Três Pequenas Respirações Sobre o Mesmo Tema. Está em cartaz no musical Bilac vê Estrelas (2014), com direção de João Fonseca, em São Paulo e com o musical Contra o Vento (2015), com direção de Felipe Vidal, em turnê pelo Brasil.

A retomada brasileira da natureza democrática do teatro

Por Jefferson Almeida

A década de 1970 é lembrada, mundialmente pelas grandes manifestações de liberdade marcadas pela revolução sexual e pelo grande consumo de drogas alucinógenas como possível portal que levaria a humanidade a uma relação superior com o mundo e com os indivíduos. O Brasil, contudo, assistiu a essa revolução pela janela, isso por conta do regime de exceção que se instalou no país, a partir de 1964 que o deixaria nas mãos do governo militar por mais de 20 anos.
O legado de medo e de deformação política deixada pelo Regime Militar é inversamente proporcional à profícua herança artística que o período nos ofertou na produção cinematográfica, musical e teatral, e pela primeira vez, na conjunção destes veículos do discurso.
A primeira metade dos anos 1960, mais especificamente o fatídico 1964, ano que sagrou o Santos Futebol Clube campeão da Taça Brasil e viu a estreia nacional de Deus e o Diabo na Terra do Sol, viu surgir e se consolidar no território brasileiro as canções de protesto que formariam o grosso caldo dos festivais que viriam a se instalar no calendário cultural a partir do ano seguinte, reformulando o panorama musical que, até então, descansava à sombra do violão de João Gilberto, “líder” da Bossa Nova.
O advento das protest songs somado ao manifesto cinemanovista, que através do lema “uma ideia na cabeça e uma câmera na mão” queria mostrar o avesso do Brasil cantando pelas revistas através do que Glauber Rocha chamaria de “estética da fome e da violência”. A música popular brasileira encontrava um novo status e uma nova função que convergia com os movimentos sociais que se opunham ao Regime, desde sua instalação.

Recordando 1: Show Musical Opinião com Zè Keti (blusa listrada), João do Vale e Nara Leão, com direção Augusto Boal

Recordando 1: Show Musical Opinião com Zè Keti (blusa listrada), João do Vale e Nara Leão, com direção Augusto Boal

Nara Leão, musa da Bossa Nova, ressignificava sua carreira ao querer dar voz à periferia, ao morro e ao protesto. Fruto da classe média de Copacabana, a boa moça de voz miúda se juntava a intelectuais, jovens compositores e cantores, e artistas das mais diversas áreas para solicitar não só a devolução da liberdade ao Brasil, mas um olhar mais atento às periferias – não só as cariocas, mas as periferias do país (o que é, por si, um paradoxo, uma vez que esta, dita, periferia do país é, geograficamente, se não o seu coração, um de seus órgãos vitais), como o Norte e o Nordeste.
Imediatamente após o Golpe Militar de 1964, um grupo de artistas ligados ao Centro Popular de Cultura (CPD) da União Nacional dos Estudantes (UNE) reúne-se com o intuito de criar um foco de resistência à situação. É então produzido o show musical Opinião, com Zè Keti, João do Vale e Nara Leão (depois substituída por Maria Bethânia), cabendo à direção a Augusto Boal, do Teatro Arena paulistano, escrito e produzido por Oduvaldo Vianna Filho, Ferreira Gullar, Paulo Pontes e Armando Costa.

Recordando 2: Show Musical Opinião, ao centro do palco Nara Leão

Recordando 2: Show Musical Opinião, ao centro do palco Nara Leão

Essa configuração de artistas no projeto da Opinião já dá uma ideia do seu objetivo: apresentar um panorama do país revelando o que dele (cultural e socialmente) estava marginalizado. Boal, com sua experiência na liderança de um grupo que, desde 1950, apresentava autores brasileiros, teatraliza o roteiro criado pelo quarteto (Vianninha, Gullar, Pontes e Costa) que tinha como mote a fala biográfica e o tom de depoimento.
O aspecto político do “show” Opinião, tido como primeiro manifesto libertário e ponto de resistência da realização teatral, no Brasil, já foi amplamente discutido; a função daquela formação de elenco enquanto fala antropológica, a potência dos discursos enquanto falas que revelam um país culturalmente potente, e as elaborações cênicas, ali implementadas oriundas do que costumamos chamar de teatro engajado.
Contudo, concluímos agora que, mais do que um manifesto político, o “show” existe enquanto manifesto estético da natureza democrática do teatro que, até então, o Brasil ainda não tinha vislumbrado em suas realizações. Além de inovações formais que, timidamente experimentadas nas experiências anteriores do diretor Augusto Boal com o Arena e nos laboratórios de dramaturgia, no “show” encontrou lugar. Ou seja, afora os ganhos na área da resistência política e da construção/reconstrução da função da música popular brasileira, o “show” Opinião deixou um legado para a cena teatral. Legado este que foi visitado seus contemporâneos e que pode ser encontrado nos espetáculos em cartaz, até hoje, pelos expedientes e mecanismos usados na sua construção.

Por João Vitor Monteiro Novaes[email protected]

 

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