Encontro com um cometa

by Diário do Vale

 

Philaelanded2

Jorge Luiz Calife

[email protected]

 

Depois de milênios de admiração e temor a humanidade finalmente conseguiu fazer contato com um cometa. Foi na quarta-feira passada, quando o robô europeu Philae conseguiu pousar na superfície do cometa 67P Churyumov-Gerasimenko. Um pequeno mundo feito de poeira e gelo que se encontra atualmente a 500 milhões de quilômetros da Terra. E o planeta inteiro pode ver as imagens da superfície, postadas em todas as redes sociais. Foi o clímax de um relacionamento que começou cercado de superstição e pavor. Para os antigos os cometas eram arautos de desgraças e infortúnios e sua aparição no céu anunciava a morte de reis.

Foi só no século XVI que o astrônomo Tycho Brahe demonstrou, matematicamente, que os cometas eram corpos celestes, que existiam além da atmosfera da Terra. No século XVII o grande físico Isaac Newton deduziu que se tratava de objetos compactos e que suas caudas eram rastros de vapor emitidos por esses mini astros. Minis em relação aos planetas e luas. O núcleo do 67 P, que acaba de receber a visita da nave europeia, tem seis quilômetros de comprimento e se parece com duas batatas unidas por um gargalo.

O pouso do Philae não foi fácil devido a baixa gravidade do 67P. Depois de tocar o solo o robô ricocheteou com o impacto, subiu uns 500 metros no espaço e deu mais dois pulos antes de se imobilizar na superfície. As três pernas de pouso da nave contam com arpões, que deviam disparar fixando o Philae no solo. Mas eles não funcionaram. Isso fez com que o robô acabasse pousando a um quilômetro do local previsto.

É outro exemplo da vida imitando a arte. No filme “Armagedon” a espaçonave do Bruce Willis tenta pousar em um asteroide e também acaba descendo bem longe do local previsto. No momento ainda não podemos enviar naves tripuladas aos cometas devido as distâncias envolvidas. O Philae foi transportado até o cometa pela sonda espacial Rosetta, da agência espacial europeia. Ela usou a força de um foguete Ariane 5 e a gravidade dos planetas para viajar até o 67P. Uma viagem que levou dez anos. Até hoje o tempo máximo que astronautas conseguiram permanecer no espaço foi de um ano a bordo da antiga estação espacial Mir. E o recorde foi conseguido somente porque a Mir era reabastecida periodicamente com suprimentos trazidos da Terra.

Qual a importância de se estudar cometas a milhões de quilômetros da Terra? Existem dois motivos, um prático e outro científico. Cometas podem colidir com planetas, como o nosso, provocando extinções em massa. Acredita-se que foi o impacto de um pequeno cometa com a Terra que provocou a extinção dos dinossauros, há 75 milhões de anos. Para evitar que isso aconteça de novo as principais agências espaciais, como a Nasa americana e a Esa europeia estão desenvolvendo meios de desviar cometas e asteroides que se aproximem demais do nosso planeta. Para isso é preciso conhecer com precisão a composição e a estrutura dessas montanhas voadoras.

Outro motivo é científico. Os cometas são ricos em água e compostos orgânicos. A água que forma os oceanos da Terra foi trazida pelo impacto de cometas. Eles também semearam o nosso planeta com os compostos orgânicos essenciais para o desenvolvimento de moléculas como os aminoácidos. A chave da vida na Terra. Um dos objetivos do robô Philae é estudar esses compostos no local de origem, na superfície do cometa. Os cientistas querem saber, entre outras coisas, porque esses aminoácidos são canhotos, ou seja, tem suas moléculas orientadas para a esquerda.

A missão do Philae vai durar até o ano que vem. A previsão original era de seis semanas, mas os pulos que o robô deu durante o pouso fizeram com que descesse em uma região escura. Onde seus painéis solares não recebem energia suficiente. Mas por enquanto ele funciona bem e já enviou as primeiras fotos do novo mundo.

Você também pode gostar

diário do vale

Av. Pastor César Dacorso Filho nº 57

Vila Mury – Volta Redonda – RJ
Cep 27281-670

(24) 99926-5051 – Jornalismo

(24) 99234-8846 – Comercial

(24)  99208-6681 – Diário Delas
.

Image partner – depositphotos

Canal diário do vale

colunas

© 2024 – DIARIO DO VALE. Todos os direitos reservados à Empresa Jornalística Vale do Aço Ltda. –  Jornal fundado em 5 de outubro de 1992 | Site: desde 1996