Volta Redonda e Barra Mansa – Na semana passada, elenco e comissão técnica do Voltaço sofreram ataques racistas durante a partida contra o Ypiranga-RS. Torcedores do time adversário proferiram palavras como “macacos” e um boletim de ocorrência foi feito por injúria racial para que as ofensas sejam apuradas. O caso ocorreu em Erechim, no Rio Grande do Sul, distante mais de mil quilômetros de Volta Redonda, e ganhou repercussão nacional. No entanto, o problema enfrentado pelo clube de futebol da cidade no Sul do país está mais perto do que muitos imaginam.
O impacto em quem sofre com os atos criminosos pode ser devastador, assim como a situação deixa marcas em quem está ao lado da vítima. No caso do Voltaço, por exemplo, os atletas se uniram para dar uma declaração conjunta sobre o caso. “Durante todo o primeiro tempo, toda vez que o Luiz Paulo pegava na bola, a torcida do Ypiranga ficava o chamando de macaco. Ainda na primeira etapa, quando a partida parou por conta da ambulância que teve que sair do estádio, os gritos continuaram enquanto os jogadores conversavam com o treinador na beira do campo”, contaram, para prosseguir:
“No segundo tempo, quando fomos para o aquecimento, um torcedor foi para o alambrado e começou, descaradamente, a nos chamar de ‘bando de macacos’. Parecia que aquilo era normal para ele e que nos humilhar daquele jeito não era errado. Isso nos revoltou e todos os jogadores do banco de reservas foram para o alambrado e começamos a discutir com ele, que não parou e continuou os xingamentos. Aí o arbitro parou a partida e a polícia retirou o torcedor do estádio”, destacaram.
O que ocorreu com os jogadores do Voltaço, infelizmente, não é um caso isolado. Relatos de preconceito e discriminação no esporte brasileiro são recorrentes. De acordo com o Observatório da Discriminação Racial do Futebol, até julho deste ano foram registrados 29 casos de racismo no futebol brasileiro (entre internet e estádio), 09 com atletas brasileiros que jogam no exterior e 02 casos com atletas que jogam em clubes que disputam a Libertadores da América.
O instituto faz relatórios anuais desde 2014 com o objetivo de identificar e informar à sociedade brasileira sobre os casos de discriminação. Os dados apontam que em 2014 foram notificados 20 casos, já em 2015 foram 35. Em 2016, 25 casos de racismo, em 2017, 43, e em 2018 os dados ainda não havia sido computados.
Crime previsto em lei
Segundo a presidente da Comissão de Igualdade Racial e Tolerância Religiosa da OAB-VR, Eliege Domingos, o crime de injúria racial está tipificado no art. 140 § 3º do Código Penal e prevê pena de 1 a 3 anos de reclusão e multa.
– Em recente julgado, O STF equiparou o crime de injúria racial ao de racismo. Assim, a injúria racial tornou-se imprescritível e inafiançável. O crime de racismo está previsto na lei 7716/89, Lei Caó, que define as condutas resultantes de racismo e define suas penas. Além dessa previsão, há na Constituição Federal a definição do racismo como crime inafiançável e imprescritível – explicou.
A advogada destacou que em casos de injúria ou racismo, a vítima deve procurar a Delegacia Policial para registrar o fato que, em se tratando de injúria, é de ação penal pública condicionada – que depende da representação judicial da vítima. Já o crime de racismo é de ação penal pública incondicionada a representação da vítima – pode ser proposta pelo MP (Ministério Público).
Ypiranga repudia racismo
O Ypiranga Futebol Clube se manifestou sobre o caso e emitiu uma nota na qual informa que: “acompanhou a confecção do Boletim de Ocorrência e da Súmula da partida, nos quais consta a suposta ocorrência de uma injúria racial praticada por um torcedor contra um membro da equipe do Volta Redonda-RJ. E não está medindo esforços para apurar o ocorrido, e, de antemão, manifesta seu inteiro repúdio a todos os tipos de injúria que possam ser praticados dentro de um estádio de futebol. Ressalta-se que a apuração do caso será feita com grande rigor para que, caso confirmada a ocorrência, tal não se repita”, declarou.
Confira um trecho da nota: “O clube e a Brigada Militar agiram rápido para identificar o suposto ofensor quando da ocorrência da partida, de modo que, em sendo confirmadas as injúrias, o clube irá tomar medidas extremas para que o cidadão não ingresse mais nas dependências do clube. Porém, ao clube não cabe tecer juízo antecipado de condenação sem que o devido processo legal seja concluído para aferir sobre a responsabilização criminal, ou não do sujeito. Somos um clube e uma região multiétnica e multicultural, que tem o costume de bem receber os visitantes, e fatos como estes em hipótese alguma fazem parte da nossa história e cultura. O clube se coloca a inteira disposição da Justiça para prestar esclarecimentos, bem como de pessoas que presenciaram o ocorrido para tomar nota e auxiliar no esclarecimento dos fatos”, finalizou.
Outras formas de preconceito estão presentes na região Sul Fluminense
O professor André Luiz de Freitas Dias, praticante do candomblé, em Barra Mansa, destacou familiares adeptos da mesma religião chegaram a sofrer violência física, sendo vítimas de apedrejamento. André traz à tona que as casas de culto no Estado do Rio de Janeiro estão sendo perseguidas por um movimento de “milícia religiosa”.
De acordo com dados da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa no Rio, em 2018 foram 30 registros de ataques a terreiros só na Baixada Fluminense. Segundo André, a violência não é novidade.
– Minhas mães e minhas tias foram vítimas de apedrejamento. Isso ocorreu nos anos 70. Conhecemos também outras pessoas que passaram por isso. Recentemente, há 4 ou 5 anos atrás, teve o caso da garota no Rio de Janeiro, que saindo da sua casa de culto foi atacada na rua. A gente vê casas de santo sendo perseguidas por fruto não só da subida da legitimação da agressão por via de movimentos religiosos, como também, alguns segmentos que a gente pode chamar de neopentecostalismo de milícia. A todo um envolvimento nesse sentido que foi legitimado pelo atual governo. Ainda que não diretamente na sua prática de discurso, mas quando é colocada que a posição discursiva da orientação dos municípios, dos estados e do governo federal como havendo uma profissão de fé majoritária, no caso, o cristianismo e o cristianismo de segmento neopentecostal. A gente se vê encurralado como praticantes. Essa violência ainda que não esteja diretamente apontada na violência física a todo circuito de violência simbólica. Que precisa também ser visto e comentado – declarou.
A casa de culto onde André pratica sua fé nunca foi vítima de depredação e ele acredita que isso se deva ao fato da casa surgir junto ao bairro, próximo à comunidade.
– A nossa casa de culto em Barra Mansa nunca sofreu nenhum tipo de depredação do patrimônio ao longo dos anos, muito porque quando o bairro surge e a nossa casa de santo também e talvez sejam as primeiras edificações dessa rua e vai fazer 50 anos sendo parte da história do bairro não podendo ser vista de modo provisório. A ambientação, grande parte da comunidade cresceu sabendo da existência, o negócio é com a mudança da própria comunidade a gente vive num tempo em que há medo. A medo de nos comparecemos com as nossas indumentárias, de cumprir nossos ritos e nossas praticas com bastante receio de sermos atacados. Isso é uma tônica do que tem acontecido nos últimos tempos – disse.
Preconceito por orientação sexual é camuflado, diz líder de movimento
Em junho deste ano, o STF (Supremo Tribunal Federal) criminalizou a homofobia como forma de racismo. Para o coordenador executivo do VR Sem Homofobia, Natã Teixeira de Amorim, a injúria praticada por questões de gênero e de orientação sexual não diminuíram, apesar de terem se tornado crimes.
– Não, porque o preconceito por orientação sexual e identidade de gênero é muito camuflado entre a sociedade. Mas com a criminalização podemos enfrentar a sociedade de frente cobrando juridicamente respostas na garantia de direitos dessa população – comentou.
Ele relatou que a maior dificuldade que o VR Sem Homofobia encontra é a falta de apoio por parte do Poder Público.
– O esvaziamento das políticas públicas e no serviço público para a população LGBTI+. O governo divulga diversos serviços, mas na verdade os serviços não existem – disse.
O DIÁRIO DO VALE publicou em junho que cinco assassinatos foram registrados de janeiro a maio deste ano contra a população LGBTQI+ e teriam sido motivados por homofobia. Sendo que dois homicídios ocorreram em Barra Mansa, um em Volta Redonda, um em Resende e um em Itatiaia. Nove crimes motivados por homofobia constam no mesmo período no levantamento do VR Sem Homofobia.
Por Franciele Bueno
12 comments
Acredito que um indivíduo desses que é o verdadeiro primata. Se pudesse ofender o primata. O cara não evoluiu nada. Simplesmente nada. A jaula o aguarda. Que seja domesticado.
Infelizmente presenciarmos estes fatos em pleno século XX é INJUSTIFICÁVEL. Providências urgentes devem ser tomadas pelas autoridades do futebol para que estes fatos lamentáveis não venham a ocorrer.
Punição ao clube e aos torcedores por estes atos. E todos nós sabemos que o Racismo é CRIME INAFIANÇÁVEL E IMPRESCRITÍVEL, constando em nossa constituição.
É sabido que o negro é marginalizado no Brasil!
Mesmo ele tendo estudo (cultura), sendo bem sucedido!
Mas o que me consola e deveria consolar todos os negros (EU SOU NEGRO, para frisar bem), é que Deus é muito sábio!
“DO PÓ VIESTES, AO PÓ RETORNARÁS”
Creio que deu pra entender!!!!
Falta respeito na sociedade porque falta caráter. O preconceito continua forte e potente no mundo contemporâneo. Não se pode pensar em uma sociedade verdadeiramente livre, havendo esse tipo de pensamento. As escolas deveriam reimplantar a disciplina “Educação Moral e Cívica” para todas as turmas. Para que haja o respeito ao próximo.
Fui num jogo na quarta feira no Raulino, do Sub 20 contra o America.
Torcedores do VR também fizeram o mesmo com um jogador afro descendente
do America, zombando do cabelo dele, dizendo que tinha que pentear o cabelo.
Acho que também tinham que pegar esse torcedor e punir , mas todos acharam
engraçado.
Pois é! É dando que se recebe!
O estádio estava vazio, era muito fácil identificar o filho da mãe e dar flagrante nele… Por que não cobraram no ato?…
Muita ignorância. Os negros fazem parte da história vitoriosa do Brasil em tudo, inclusive no futebol. Pelé fundamental nas copas, Romário em 94, Ronaldo Gaúcho e R9 (que não era nenhum loiro de olhos azuis) em 2002. Quanta ignorância! Em tempo: se for pra definir raça, sou branco ok, e reconheço tudo de bom que nossos irmãos negros fizeram. Forte abraço!
E Federação Gaúcha de Futebol? E a CBF? Alguém vai ter que levar o problema para a FIFA?
Coincidência ou não ontem um jogador de futsal do Corinthians foi assassinado em Erechim, após discussão. Vamos aguardar as apurações.
Vamos todos cantar juntos, mi mi mi mi mi mi mi.
Injúria em futebol , infelizmente é uma realidade.
Até nas competições infantis, chega a chocar ver pais descontrolados injúria do crianças de time adversário.
Respeito a cima de tudo.
As pessoas estão tendo mais escolarização e menos educação.
Antigamente o matuto mal sabia ler e escrever, mas era respeitoso e educado.
Política, futebol e religião fazem as pessoas perderem a cabeça!
Eleitor do Bolsonaro detectado!
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