VR do futuro

Como seria a cidade daqui a 20 anos? Urbanista explica o que pode e não pode prever

by Lívia Nascimento

Volta Redonda – Uma das cidades mais importantes e desenvolvidas do interior do estado, Volta Redonda enfrenta desafios como qualquer outra. Com limitações territoriais e uma população crescente, seria possível imaginar a cidade daqui a 20 anos? Como seriam questões como transporte, crescimento, expansão, mobilidade urbana, entre outras?

Procurado para viajar nesse universo, o arquiteto e urbanista Lincoln Botelho da Cunha, uma das maiores autoridades no assunto, ressalta que é impossível estabelecer o futuro de uma cidade, mas aponta para questões que podem colaborar para um desenvolvimento positivo em diversos aspectos.

“Segundo Françoise Choay, urbanismo científico é um mito da sociedade industrial, portanto, não existe o urbanismo científico e é impossível estabelecer o futuro das cidades, pois as variáveis são inúmeras e não podem ser controladas, portanto, o urbanismo e o planejamento urbano se circunscrevem no campo da arte e da política. Volta Redonda nasceu como uma Company Town. As Company Towns do séc. XX, com as mudanças tecnológicas recentes, quase todas se extinguiram. Quanto a Volta Redonda, não creio, em princípio, que isto ocorra, pois o patrimônio urbano construído, mesmo sem a existência eventual de uma CSN, ainda assim seria uma cidade do interior como muitas outras”, analisa.

Foto: Arquivo

De acordo com Lincoln, é possível imaginar para Volta Redonda alguns cenários super otimistas em função de suas próprias características. “Por exemplo: território pequeno com uma taxa de urbanização alta, podemos pensar na possibilidade da tão falada ‘cidade dos 15 mi[1]nutos’ que, recentemente, vem sendo buscada nas experiências de planejamento urbano em grandes centros. Para isso, a questão fundamental seria a existência de um poderoso sistema de transporte público, uma enorme exclusão do automóvel para a periferia das suas centralidades e uma super adequação das condições de acessibilidade, em todo o espaço urbano, favorecendo os deslocamentos de pedestres, skates, patinetes, bicicletas etc, nos trajetos de casa-trabalho-recreação”, projeta o urbanista, que prossegue: “O acesso cada vez maior aos recursos das novas tecnologias com suas inovações e a possibilidade do uso do chamado ‘Big Data’ vêm configurando o que os especialistas no mundo do planejamento urbano conceituam como as ‘Smart Cities’. Caminhar nessa direção não depende exclusivamente da gestão municipal, mas sem uma política específica e forte de inovação tecnológica na administração municipal, a ideia de uma Smart City, fica mais distante”, alerta.

Segundo Lincoln, no exercício de prever o futuro, acaba-se por construir cenários utópicos, mas também, por vezes, grandes distopias. “ A cidade definhar num processo de pós-industrialização, enfrentar um esvaziamento na população aumentando e acumulando fatores regressivos, transformando a área e a região num território com os serviços cada vez mais precarizados, não só como ocorreu com diversas Company Town, como ocorre com inúmeras cidades periféricas de regiões metropolitanas. Pode haver ainda a degradação ambiental, o esgotamento dos recursos naturais pela atividade industrial intensiva, transformando a cidade em um caótico acampamento precarizado de apoio à produção fabril suja”, afirma.

Por fim, Lincoln faz um alerta e deixa claro que o futuro melhor para uma cidade depende da participação de todos. “Não podemos ter certezas sobre o futuro da cidade. Utopias, porém, podem nos ajudar a orientar a luta por uma sociedade mais justa, mais equilibrada – o futuro é construído cotidianamente. Entendo que só a intensa participação de todos na discussão específica por políticas públicas de construção da cidade, entendida tanto como Urbe quanto como Polis, poderá nos trazer alento para um futuro que de alguma maneira contemple nossos desejos”, finaliza o arquiteto e urbanista

Você também pode gostar

diário do vale

Av. Pastor César Dacorso Filho nº 57

Vila Mury – Volta Redonda – RJ
Cep 27281-670

(24) 99926-5051 – Jornalismo

(24) 99234-8846 – Comercial

(24)  99208-6681 – Diário Delas
.

Image partner – depositphotos

Canal diário do vale

colunas

© 2024 – DIARIO DO VALE. Todos os direitos reservados à Empresa Jornalística Vale do Aço Ltda. –  Jornal fundado em 5 de outubro de 1992 | Site: desde 1996