Asma e cigarro: uma combinação perigosa

by Diário do Vale

 

Uso da ‘bombinha’ tem que ser feito com prescrição médico, assim como demais medicamentos -Foto: Arquivo

Barra Mansa- No último dia 02, os brasileiros foram surpreendidos com a morte da atriz, escritora, roteirista e apresentadora de TV Fernanda Young, de 49 anos que morreu após ter uma crise de asma, seguida de parada cardíaca. A atriz estava no sítio da família em Gonçalves (MG), quando passou mal. Ela tinha asma desde a infância. Também nesta semana, foi celebrado, no Brasil, o Dia Nacional de Combate ao Fumo (29 de agosto).

O DIÁRIO DO VALE entrevistou o pneumologista Auriston Ferraz da Costa, que fez um alerta: o cigarro pode ser um gatilho perigoso para a saúde, principalmente para quem tem problemas respiratórios, assim como Fernanda.
Conforme explica o médico, as pessoas portadoras de asma têm especial sensibilidade à inalação de fumaças, seja ela produzida pelo cigarro ou qualquer outra substância queimada (fogão a lenha, fogueiras). Além disso, os alérgenos presentes em locais úmidos, pólen de plantas, ácaros dos colchões, travesseiros, cobertores e roupas guardadas por longo tempo, bichos de pelúcia ou animais de estimação (cães e gatos) são, juntamente com a fumaça do cigarro, os vilões para desencadear a crise asmática.

– Acredito que em função da doença, a Fernanda não fazia o uso do cigarro. Mas, o importante aqui, diante da morte dela tão precoce, é explicar que o cigarro é um grande vilão para quem tem doença respiratória. O asmático que fuma, aumenta muito as chances de piorar a doença de base e fazer uma complicação chamada de síndrome de sobreposição de DPOC (Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica)/asma – disse o médico, ao acrescentar que é preciso estabelecer que a asma é uma doença crônica, hereditária, inflamatória das vias aéreas, com características alérgicas e que a bronquite é um termo erroneamente utilizado para caracterizar crianças com asma.

Segundo Costa, embora a pessoa que utiliza o cigarro seja a maior prejudicada, devido à inalação das mais de 4000 substância tóxicas presentes na mistura do tabaco, o fumante passivo, com convívio diário com o tabagismo, também fica sujeito a ter manifestações de doenças obstrutivas, principalmente se já for um asmático, por consequência do fumo passivo.

– Fumar dentro de veículos ou em ambientes fechados, por exemplo, é um grande mal a todos os usuários e não somente para o fumante – pontuou o médico, ao acrescentar que, embora a asma seja uma doença crônica hereditária, os estudos apontam que 30% dos fumantes desenvolvem Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica, que podem ter características de enfisema ou de bronquite propriamente dita. Os outros 70 % estão sujeitos aos tumores que tem no cigarro o seu principal fator de risco como: câncer de boca, esôfago, estômago, pulmão, intestino e bexiga.

Outros fatores

Mas, de acordo com o pneumologista, além do cigarro, outros fatores também merecem cuidados e podem ser gatilhos para uma crise de asma. Entre eles, Costa cita como exemplo poeiras, mofos, perfumes, cheiros de tinta, roupas guardadas, tempo frio e seco. Segundo ele, o indivíduo asmático ao entrar em um ambiente com mofo ou poeiras, rapidamente percebe as mudanças no seu padrão respiratório com coceiras no nariz, pigarro, tosse seca ou mesmo chiado no peito.

– O exemplo da infelicidade da Fernanda Young é o cenário perfeito para desencadear uma crise: período do frio, tempo seco, foi visitar uma casa de campo, provavelmente fechada com roupas guardadas, talvez poeiras – exemplificou o pneumologista.

De acordo com Costa, para evitar fatalidades, como a da Fernanda Young, o mais recomendável é fazer o tratamento correto da doença. Conforme ele compara, num universo de 20 milhões de pessoas, em torno de 2,500 morrem, ao ano, pela doença.

– Para evitar esse triste fim, diante de numa doença tratável, é necessário que as pessoas reconheçam os sintomas e não subestime os riscos dela se complicar. Chiado e/ou sensação de aperto no peito, tosse que não melhora e falta de ar, esses sintomas que pioram a noite, podem ser manifestações da doença – alertou o pneumologista.
Questionado a que fatores estão associados às dificuldades do controle da asma, no Brasil, Costa informou que a principal causa de dados alarmantes, nesse sentido, está na não adesão ao tratamento e no não reconhecimento da doença. Segundo ele, a incidência nacional é em torno de 10% da população, ou seja, 20 milhões de asmáticos no Brasil.

– Os asmáticos são estatisticamente separados em controlados, parcialmente controlados e não controlados, as estatísticas apontam que somente 9,3% estão controlados em nosso país. 56,4% estão parcialmente controlados e outros 34,3% não controlados – classificou o médico.

Uso de ‘bombinha’

Embora muitas pessoas não vejam com bons olhos o uso da “bombinha” – medicamento inalatório – o pneumologista garante que é um mito dizer que o medicamento faz mal. Ele explica que a primeira medicação inalatória que surgiu foi o salbutamol (Aerolin®) e que tal medicação tem função de alívio, embora não a capacidade de tratar a doença. Com isso, o paciente em crise utilizava a medicação, obtinha alívio e em poucas horas o efeito cessava, fazendo com que novamente precisasse lançar mão da “bombinha”.

– Esse uso frequente passava a impressão que estava viciado e fazia com que as pessoas usassem doses altas, excedendo o que a recomendação médica previa como seguro para obter alívio, causando assim arritmias. Hoje em dia temos disponíveis muitas medicações inalatórias com ação prolongada. Capazes de estabilizar a doença, prevenindo as crises que podem levar o asmático ao pronto socorro, internação ou mesmo à morte. Uma mediação para agir no pulmão deve ser preferencialmente inalatória. As medicações orais precisam de doses muito superiores para obter efeito, uma vez que são metabolizadas pelo estômago, fígado e rim para depois atingirem o pulmão – esclareceu o médico.

Roze Martins

(Especial para o DIÁRIO DO VALE)

 

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