
Ações de prevenção à gravidez na adolescência reduzem número de grávidas-Foto: Arquivo.
Barra Mansa- O Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher, Criança e Adolescente (PAISMCA), da Secretaria de Saúde de Barra Mansa divulgou números sobre meninas que tiveram gravidez precoce nos últimos três anos no município. De acordo com dados do programa, o número de adolescentes grávidas em 2017 chegou a 284. Nos anos posteriores, houve queda, pois em 2018 foram 242 gestantes e 245 adolescentes grávidas em 2019. Para efeito do balanço, são levadas em conta meninas com idades entre 10 a 19 anos.
A divulgação ocorre ao mesmo tempo em que o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos e o Ministério da Saúde lançaram a Campanha Nacional de Prevenção à Gravidez na Adolescência. No município, todas as adolescentes grávidas realizam o acompanhamento nas unidades de saúde e, se necessário, são encaminhadas para o ginecologista do NASF (Núcleo de Apoio à Saúde da Família) para serem assistidas no Hospital da Mulher.
O PAISMCA, conforme destaca a coordenadora do programa, Williana Bruna Cardoso de Brito Oliveira, já vem realizando ações de prevenção no mesmo sentido do que é pedido pelo governo federal, com a campanha “Tudo Tem seu Tempo”. A recomendação é que sejam abordadas duas faixas etárias: de 15 a 19 anos e abaixo de 15 anos.
– No município, os profissionais das unidades de saúde realizam o atendimento individual e em grupo com os adolescentes abordando a saúde sexual e reprodutiva, Também realizamos esses grupos dentro das escolas com o Programa Saúde na Escola, abrindo espaço para discussão e esclarecimentos sobre as dúvidas e gravidez na adolescência. Sabemos que esse é um período de descoberta e alguns jovens não realizam o uso dos métodos contraceptivos, por falta de informação ou até mesmo por não conhecerem. O que acaba gerando o aumento de doenças sexualmente transmissíveis e gravidez indesejada na adolescência – destacou a enfermeira.
Riscos da gravidez precoce
Diante desses números, Williana destaca a importância de falar sobre a gravidez na adolescência, uma vez que esse tipo de gestação pode apresentar riscos tanto para mãe quanto para o bebê.
– Os riscos vão desde um parto prematuro, a chances de um recém-nascido com baixo peso. Além disso, tem a questão do aborto, entre outros problemas que também podem acontecer. É sempre importante ressaltar que para adolescentes o diagnóstico precoce e aderência ao pré-natal são de extrema importância para a qualidade da gestação, parto e puerpério, no entanto, as vezes por medo dos familiares e julgamento da sociedade esse acompanhamento e diagnóstico acabam sendo tardios – observou a coordenadora.
Elemento de discussão
Durante o lançamento da campanha “Tudo tem seu Tempo”, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, destacou a relevância da ação. “Isso é elemento de discussão, sim. Nós precisamos olhar os números e saber as consequências.
É papel de todos que têm uma responsabilidade com os jovens e adolescentes criar uma consciência. Estamos diminuindo os números [de gravidez indesejada] de 15 a 19 anos em 40%. Mas, na faixa etária abaixo de 15 anos, de 2000 a 2016, o número da gravidez infantil permaneceu no mesmo patamar. Nada mudou”, argumentou.
Sobre a orientação de abstinência, Mandetta afirmou que o assunto foi muito discutido internamente e que a orientação educativa para evitar a gravidez infantil deve ser o foco da ação do governo. “O que se diz para uma criança assim [abaixo de 15 anos] a não ser ‘tudo tem seu tempo’? Não é idade de medicalizar, de interferir. A discussão é mesmo complexa”, concluiu.
De acordo com nota publicada pelo ministério, a medida é tida como política complementar e faz parte de um pacote de “medidas preventivas e educativas que contribuam para a redução da incidência da gravidez na adolescência”.
Mudança de rotina e cuidados extra
Uma estudante de 16 anos, que preferiu não se identificar, hoje reconhece as consequências em ter sido mãe aos 15. Hoje a bebê tem nove meses e a rotina mudou por completo.
De acordo com ela, além do conflito com os pais, que no começo não aceitaram a situação, ela também sofreu por conta do parto normal. Ainda hoje enfrenta as responsabilidades de criar a filha sem a presença do pai e as privações de não poder ir a festas ou sair sempre com as amigas.
-Não me arrependo de ter tido minha filha, porque ela é tudo o que tenho, mas realmente não podia ter acontecido agora. Seria melhor quando estivesse em uma relação madura e com alguém que me apoiasse. Hoje estou atrasada em um ano na escola, dependo dos meus pais, não posso sair sempre que quero e ir a todas as festas. Além disso, fiquei com trauma por todo sofrimento que foi meu parto normal. Se eu pudesse voltar no tempo, não teria engravidado tão cedo – enfatizou.