Volta Redonda – Uma missa em memória a Dom Waldyr Calheiros de Novaes, bispo emérito da Diocese de Barra do Piraí-Volta Redonda, foi celebrada na última segunda-feira, dia 30, em homenagem aos dois anos do falecimento dele. A cerimônia aconteceu na Paróquia Santa Cecília, em Volta Redonda, e contou com a presença do bispo emérito, Dom João Maria Messi, padres, diáconos, membros de comunidades, lideranças políticas e comunitárias, e da irmã de criação de Dom Waldyr, Nice Cavalcante.
Ela resumiu numa frase o que foi Dom Waldyr: “Foi um santo esse meu irmão”.
Durante a missa, presidida pelo padre Nobuo Sano, foram lembrados diversos fatos marcantes de Dom Waldyr e o que ele representou ao povo e história de Volta Redonda.
– A missão de Jesus foi anunciar a boa nova do reino e eu posso dizer que Dom Waldyr seguiu este caminho. Era um homem de muita fé, muita oração, porque se assim não fosse ele não poderia ter feito o que fez e todos nós somos testemunhas disso. Ele passou 33 anos nesta diocese somente fazendo o bem – destacou padre Sano.
Luta contra a ditadura
Além do exemplo de fé, Dom Waldyr é lembrado por muitos pela coragem, sobretudo pelo enfrentamento as injustiças sociais, principalmente causadas durante a Ditadura Militar no Brasil. A Comissão da Verdade de Volta Redonda, que apura os abusos cometidos pelos militares na época da ditadura, inclusive foi batizada com o nome dele.
Recentemente a comissão apresentou seu relatório final e diversas páginas relatam a atuação de Dom Waldyr em meio à luta, como lembrou o padre Juarez Sampaio.
– Todo cristão deve saber fazer memória porque se nós não sabemos fazer memória, nós não entendemos a eucaristia. No dia 9 de novembro na leitura do relatório da Comissão da Verdade daqui de Volta Redonda ouvi páginas bíblicas escritas do dia de hoje. De 1966 a 1989, quando se concluiu a leitura do relatório, o grande homem que perpassou pelas dores desse povo e a ele defendeu foi o Dom Waldyr, o grande profeta – relembrou Sampaio.
Dom Waldyr faleceu acreditando na Comissão da Verdade. Ele afirmou em entrevistas que esperava que a Comissão não só descobrisse os criminosos, mas que fizesse justiça aos que ainda estão vivos.
A luta pela causa era tamanha que, segundo um dos seus amigos que também estava presente durante a cerimônia de segunda-feira, Evaldo Pontes da Silva, quando o bispo emérito já estava internado e sob efeitos de remédios, chegava a dar sinais de que estava celebrando missas e depondo em tribunais. – Uma vez ele pediu para ir ao banheiro e tentou fugir, mas nós os levamos de volta ao quarto. Quando ele chegou ficou em silêncio por meia hora e depois começou a discursar como quem estava respondendo no tribunal. Ele levantou o dedo e disse: “Prestem atenção vocês que estão aí sentados. Vocês que perseguem a Igreja. A Igreja do Concílio Vaticano II. Prenderam padres, jovens, trabalhadores e professores. Isto não está certo. Vocês que me perseguem por causa do Vaticano II, isto não está certo”. Dias depois ele veio a falecer – revelou.
O bispo
Dom Waldyr Calheiros foi bispo da Diocese de Barra do Piraí-Volta Redonda de 1966 a 1999. Participou do Concílio Vaticano II e foi um dos primeiros bispos no Brasil a colocar em prática esse novo modelo de ser igreja. Era defensor dos pobres e marginalizados.
– Dom Waldyr representou a santidade atual, de gestos e renúncias. Sempre foi aberto, generoso, entusiasta e disponível. Que aprendamos com o exemplo dele para sermos abertos, generosos e santos na fé e na vocação – destacou o bispo emérito, Dom João Maria Messi.
Nascido em 28 de julho de 1923 e natural de Murici (AL), Dom Waldyr permaneceu à frente da Diocese até se tornar bispo emérito após os seus 75 anos. Ele preferiu continuar morando na cidade, onde permaneceu ativo em seus trabalhos até o seu falecimento, aos 90 anos, em 2013. Seu corpo foi sepultado na cripta da Paróquia Santa Cecília, em Volta Redonda, onde até hoje recebe visitas e homenagem dos fiéis.
1 comment
Tem de rezar para tirar o irmão da presidência do senado
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