Pessoas obesas recorrem cada vez mais à cirurgia bariátrica

by Diário do Vale

Volta Redonda e Barra Mansa – Estudo divulgado pelo Ministério da Saúde revela que o excesso de peso no Brasil cresceu 26,3% nos últimos dez anos, passando de 42,6% em 2006 para 53,8% em 2016. Hoje, mais da metade dos brasileiros está acima do peso e, para resolver o problema que pode provocar vários danos à saúde, a principal saída dessas pessoas tem sido recorrer ao procedimento de cirurgia bariátrica. De acordo com a pesquisa, a obesidade é mais comum entre os homens: passou de 47,5% para 57,7% no período citado. Já entre as mulheres, o índice passou de 38,5% para 50,5%.

O médico endocrinologista da Unimed Volta Redonda, Lincoln Cubica de Carvalho, confirma esse aumento na procura pelas cirurgias que, segundo ele, além de estar associado ao crescimento de número de obesos no Brasil, também tem reflexo pelas falhas em novas tendências clínicas, como medicações e terapias para o processo de emagrecimento. De acordo com o endocrinologista, em geral, os homens realmente têm maior incidência de obesidades graves, mas nos últimos anos, os percentuais têm se igualado bastante entre o público feminino e masculino.

– É importante ressaltar que não é recomendável as pessoas fazerem uma ‘dieta para engordar’ e se enquadrar no peso ideal para cirurgia, pois talvez o procedimento não trará tantos resultados. Além do que, isso desprepara a mente e o metabolismo para as restrições alimentares que surgirão após a cirurgia, como dietas líquidas e pastosas nas primeiras semanas – esclareceu o médico.

Conforme explicou Carvalho, a cirurgia bariátrica é encomendada para todos os indivíduos com obesidade grau II (IMC = ou > 35kg/m2 associado a doença crônica como diabetes, hipertensão, doenças ortopédicas, asma, doenças pulmonares crônicas, apneia obstrutiva do sono e doenças vasculares) ou obesidade grau III (IMC = ou > que 40kg/m2 independente de outros fatores).

– Estes pré-requisitos tendem a se reduzir nos próximos anos para faixas de menor grau de obesidade, haja vista os resultados obtidos em estudos médicos. Entretanto, hoje, para pessoas com sobrepeso e obesidade grau I (IMC entre 25 e 34) o tratamento clínico multidisciplinar, que incluiu mudanças no estilo de vida, atividade física, suporte psíquico e nutricional, ainda é a primeira escolha – destacou o médico, ao ressaltar que os riscos pós-operatórios da bariátrica são comuns como em qualquer cirurgia abdominal, podendo provocar infecções, dores e hérnias, entre outros.

Risco de engordar após a cirurgia

Embora garanta 100% de resultado para emagrecimento, pessoas que se submetem a cirurgia bariátrica devem manter cuidados especiais no dia a dia, pois há o risco de voltarem a ganhar peso. De acordo com o endocrinologista, muitos pacientes voltam a ter ganho após dois e quatro  anos do procedimento, entretanto, mantendo-se abaixo do peso anterior a cirurgia.

– Um pequeno percentual recupera peso totalmente podendo, em alguns casos, ser operado novamente pela falha de outras opções terapêuticas. Mas, as medidas que os operados tomam no primeiro ano após cirurgia são cruciais para definir o futuro de seu peso – alertou o médico.

Conforme explica Carvalho, principalmente no que diz respeito à constituição metabólica, indivíduos que fazem bariátrica necessitam de trabalho de ganho de massa magra contínuo e intenso (musculação) principalmente as mulheres, uma vez que isso é o que reduz o risco de reganho de peso. Além disso, segundo o endocrinologista, os pacientes devem sempre estar atentos as reposições de vitaminas (principalmente D e B12), ferro, e outros minerais para um melhor controle da saúde.

Acompanhamento psicológico também se faz necessário

Por ser um procedimento que, como qualquer outra cirurgia, oferece riscos, o acompanhamento psicológico também é muito importante para o paciente. Conforme explica a psicóloga Gisele Costa e Silva, nesse processo é avaliado o estado de saúde emocional e feito um auxílio quanto ao conhecimento sobre os aspectos envolvidos na cirurgia, como mudanças de hábitos, benefícios e expectativas envolvidas.

– Tudo isso é importante, porque a cirurgia bariátrica não pode ser considerada como uma tentativa fácil e prática de emagrecimento, sem que os comportamentos também sejam mudados – observa Gisele.

De acordo com a psicóloga, o objetivo da avaliação é identificar se há alguma questão emocional importante ou algum transtorno que possa dificultar esta pessoa a passar pelo procedimento, levantar fatores que contribuíram para a obesidade e se ela está realmente preparada para passar por este processo de mudança, que não acaba com a realização da cirurgia.

– Após a avaliação, além das orientações técnicas, também trabalhamos as expectativas envolvidas na cirurgia e questões emocionais que possam existir. É importante salientar que a cirurgia não é causadora de problemas psicológicos ou comportamentais. Porém, se esta pessoa come por ansiedade, têm suas atividades sociais associadas ao ato de comer e beber, possui compulsão alimentar e deposita a expectativa da resolução de todos os seus problemas na cirurgia, ela estará mais vulnerável a sofrer danos emocionais como, por exemplo, algum transtorno depressivo – esclareceu Gisele.

Mudança de vida

Após muitas dietas, e vários tratamentos na tentativa de emagrecer, a professora Loziani dos Santos Souza Bilac, de 38 anos, decidiu passar pelo procedimento de cirurgia bariátrica. Além da questão do sobrepeso, a professora também levou em consideração os riscos que a obesidade poderia provocar a sua saúde futuramente, já que na família existem muitos casos de hipertensão.

– A minha vida inteira fiz dietas, mas emagrecia e engordava de novo. Ao chegar certa idade ficou difícil perder peso e, então, eu resolvi operar. Toda a família do meu pai sofre com hipertensão, já perdi uma prima com apenas 32 anos por conta de um infarto fulminante e isso tudo me fez refletir a necessidade de cuidar da saúde – ressaltou Loziane, que é mãe de dois meninos e uma menina.

De acordo com ela, que operou em julho de 2016 e perdeu 47 quilos, ter optado pelo procedimento foi a melhor decisão. Além da questão da autoestima, a professora destaca que o fato de ter emagrecido também contribuiu muito com sua qualidade de vida, disposição para as tarefas do dia a dia e bem estar.

– Minha vida mudou para melhor depois da cirurgia. E acabou que isso refletiu em uma alimentação saudável para toda a minha família. As frituras acabaram e os doces quase nunca têm espaço – enfatizou Loziani.

Embora também tenha feito várias dietas, academia e, o mais arriscado, tomado vários medicamentos controlados para emagrecer, a dona de casa Luciana da Silva Nascimento, de 37 anos, é outra que conseguiu vencer a obesidade após a cirurgia bariátrica. Ela recorda que o sobrepeso sempre foi um problema em sua vida, desde o período da adolescência.

– Nessa fase foi quando mais sofri com a obesidade porque, infelizmente, a sociedade é muito cruel com quem não está dentro dos “padrões” de beleza. Ganhei muitos apelidos na escola, ouvi muitas pessoas da minha família dizendo que eu não tinha força de vontade para emagrecer e quando fiz 20 anos resolvi tomar os remédios. Por muito tempo consegui o resultado que queria, mas depois engordei em dobro e a situação me deixou muito deprimida – recorda a dona de casa.

Aos chegar aos 126 quilos, ela se conscientizou de que a saída não poderia ser outra, a não ser operar. A cirurgia foi realizada em outubro de 2015 e, hoje, Luciana se orgulha por ter alcançado o objetivo de ter 70 quilos. Segundo a dona de casa, recuperar a autoestima foi uma das melhores coisas que já aconteceu em sua vida.

– Entrar em uma loja e encontrar a numeração para a roupa que você sempre quis usar é uma coisa mágica para quem sempre esteve acima do peso. Com certeza a cirurgia me fez fazer as pazes com o espelho e, além disso, contribui com a minha saúde. Já não tenho mais dores nas articulações e meu colesterol, que era muito alto, está sempre controlado – afirma Luciana.

Melhor decisão: Loziani dos Santos Souza Bilac operou em julho de 2016 e perdeu 47 quilos (Foto: Arquivo pessoal)

Melhor decisão: Loziani dos Santos Souza Bilac operou em julho de 2016 e perdeu 47 quilos (Foto: Arquivo pessoal)

 

Excesso de peso é maior em pessoas com menor grau de escolaridade

O levantamento do Ministério da Saúde revela que, no Brasil, o indicador de excesso de peso aumenta com a idade e é maior entre os que têm menor grau de escolaridade. Nas pessoas com idade entre 18 e 24 anos, por exemplo, o índice é de 30,3%. Já entre brasileiros de 35 a 44 anos, o índice é de 61,1% e, entre os com idade de 55 a 64 anos, o número chega a 62,4%. Já na população com 65 anos ou mais, o índice é de 57,7%.

Em relação à escolaridade, 59,2% das pessoas que têm até oito anos de estudo apresentam excesso de peso. O percentual cai para 53,3% entre os brasileiros com nove a 11 anos de estudo e para 48,8% entre os que têm 12 ou mais anos de estudo. A pesquisa diferencia excesso de peso ou sobrepeso de obesidade. A pessoa com sobrepeso tem Índice de Massa Corporal igual ou maior que 25 quilos por metro quadrado (kg/m2). Já a obesidade implica em IMC igual ou superior a 30 (kg/m2).

De acordo com os dados, a prevalência de obesidade no país duplica a partir dos 25 anos de idade e o problema também é maior entre os que apresentam menor escolaridade. Nas pessoas com idade entre 18 e 24 anos, por exemplo, o índice é de 8,5%. Já entre brasileiros de 35 a 44 anos, o índice é de 22,5% e, entre os com idade de 55 a 64 anos, o número chega a 22,9%. Na população com 65 anos ou mais, o índice é de 20,3%.

 

Por Roze Martins

(Especial para o DIÁRIO DO VALE)

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