Há um certo ‘glamour’ na espera e apostas no tema da redação do ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio), fato que o INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Nacionais Anísio Teixeira), tão logo iniciada a prova, disponibiliza o tema. Este ano não foi diferente, às 14h:21 do ultimo domingo (5), já estava público tema nas redes sociais e nos grandes jornais. O MEP (Movimento Ética na Política), desde 2018, procura ouvir os professores ligados à área de linguagem (redação, português e literatura), no esforço de colaborar e buscar melhor compreensão do tema tão esperado. “Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil,” trabalhado pelos estudantes provocou nos professores do Pré Vestibular Cidadão do MEP importantes observações e possibilidades para o pensar dos alunos. Para os professores a proposta o INEP foi considerada atual e instigante para os estudantes.
DEPOIMENTOS
“O INEP mais uma vez trouxe a invisibilidade como tema. No entanto, dessa vez, o foco foi o trabalho doméstico, delegado sempre ao público feminino. Os alunos mais atentos poderão usar a literatura, por exemplo, com trechos do livro “Quarto de despejo”, de Carolina Maria de Jesus e as obras audiovisuais “Barbie” e “O conto da aia” – todas trazem essa temática de forma direta ou indireta. Apesar de a frase temática ser longa, os alunos que observam o cotidiano de mulheres ao seu redor conseguirão desenvolver bem o texto.”
Juliana Lima, professora de redação.
“A provocação para que os estudantes reflitam e debatam sobre a desigualdade social de gênero é a volta do posicionamento declarado por parte do MEC. Além disso, uma relevante oportunidade para que, na transição para a vida adulta, meninos e meninas possam questionar a si próprios e repensar como será seu ingresso na atuação prática da cidadania. Além disso, essa reflexão anterior ao ingresso no espaço acadêmico oportuniza que esse debate se estenda intramuros universitários. Quanto ao desenvolvimento da proposta, entendo que o tema facilita bastante a diversidade de recortes do tema e de referenciais teóricos. Isso pode garantir maior facilidade dos estudantes, em especial de classes menos favorecidas, em apresentar propostas de intervenção conectadas com a plausibilidade da questão. Como mulher e mãe solo, gostei do tema, creio que será também um bom recurso de seleção para as cabeças mais conectadas com a cooperação que a sociedade atual tem exigido.”
Abigail Ribeiro, professora de linguagem.
“O melhor tema dos últimos anos de redação do Enem! Falar sobre o papel de cuidado que recai sobre a mulher é um assunto extremamente atual (embora não novo), mas igualmente engendrado estruturalmente na sociedade, a ponto de se tornar invisível para grande parte dela. Exceto para elas, que sofrem na pele ao ter que cumprir uma jornada dupla de trabalho, sendo o segundo não remunerado, muitas vezes nem mesmo reconhecido pelo seu seio familiar. Eu sempre recorro à frase de Virginia Woolf, que lá no século XIX afirmava que “pela maior parte da história, anônimo foi uma mulher”. Infelizmente, esse trabalho anônimo persiste séculos depois, limitando a vida das mulheres ao ambiente interno, à imposição do ofício materno, à resignação compulsória, enfim, reduzindo sua vida, muitas vezes, ao cuidado e ao outro, sobrando o mínimo para si. Agora, não é fácil propor uma solução para um problema tão complexo como esse. Mas tenho certeza que os meninos e meninas farão com a consciência e a sabedoria que eles construíram durante toda a preparação! “
Yasmim Nascimento, professora de português.
“O tema da redação do Enem seguiu a tendência esperada: expôs uma relevante questão social cujas raízes se encontram nas desigualdades do Brasil. Como de costume, o estudante deve não só analisar o problema, mas também buscar uma proposta de intervenção. O panorama coletivo da mulher e o conceito de invisibilidade foram trabalhados em sala. Nossos alunos estavam preparados.”
Ciro Santos, professor de redação.
“Tema inesperado. Podemos dizer que é um tema com uma questão extremamente sensível e invisibilizada, ou seja, podendo desconstruir um olhar sobre a mulher no trabalho doméstico. Desse modo, podemos citar sobre o filme Barbie ou a novela Empreguetes. Podemos observar críticas ao machismo e desigualdade social. Reacende ou, na verdade, traz para discussão um tema ignorado pela sociedade ao denominar a mulher como “do lar”, como se ela ficasse em casa apenas à toa.”
Vitor Manuel, professor de literatura.
“O tema “Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil” faz refletir sobre a realidade de milhares de que submetem à desvalorização cotidiana em seus trabalhos domésticos ou como cuidadoras de pessoas, em diversas situações, tantas vezes por necessidade de sobrevivência. Tal cenário remete, sem dúvida, ao patriarcalismo enraizado em nossa sociedade que compreende a função do cuidado como inerente à condição feminina, como se fosse uma missão. Certamente os estudantes se assustaram, inicialmente, com a extensão da frase temática, mas os textos motivadores clareiam e guiam possibilidades de argumentação que podem ser associadas a razões sociais, políticas e econômicas.”
Elisa Andrade, professora de redação e literatura.
TRABALHADORA DOMÉSTICA ELOGIA O TEMA DA REDAÇÃO
“Tema importante da prova do ENEM, pois muitos das estudantes têm as mães que trabalham fora, outras já trabalham, tenho acompanhado muitos casos. O tema para falar sobre o trabalho das mulheres dá credibilidade ao nosso trabalho, é reconhecimento. Estou muito feliz de saber que isto está na prova do Enem. É uma conquista, estou na torcida para que os estudantes tenham feito uma boa redação.” Declarou Jorgina de Souza, presidente do Sindicato das Trabalhadoras Domésticas de VR, mulher destaque pelo MEP em 2021.