Resende –
Com cerca de três mil notificações e 396 casos confirmados de dengue, Resende está enfrentando uma epidemia da doença. Os números foram divulgados pela Secretaria Municipal de Saúde e contabilizam do mês de dezembro do ano passado até o último dia 19. E a situação preocupa os moradores da cidade.
Uma aposentada, que preferiu não se identificar, disse que diversos pontos da cidade contribuem para o aumento dos focos de dengue. Ela contou ao DIÁRIO DO VALE que ela e o marido chegaram a fazer e entregar um ofício para a prefeitura. No documento, eles descrevem o que consideram “falta de medidas eficazes para combater à dengue”. Entre os supostos problemas citados estão: o abandono do centro histórico de Resende, praças descuidadas e sem escoamento de água, bocas de lobos entupidas, e tampas de esgotos afundadas.
– Meios e verbas para investir em medidas preventivas têm. Mas falta organização e gerência, para que todos os setores da prefeitura possam focar no caso da dengue. É preciso ter um direcionamento e um controle sobre os casos. Não há interação, por isso que eles estão tendo dificuldade em lidar com essa epidemia – disse a aposentada, que lembrou que junto ao ofício entregou um abaixo-assinado com aproximadamente 100 assinaturas. O objetivo seria alertar a prefeitura sobre o agravamento da epidemia.
Na opinião da aposentada é importante criar um meio de comunicação para informar e tranquilizar a população em relação à dengue.
– Se tivesse um centro de ligações para que a população pudesse recorrer em caso de suspeita dengue, ou se quiserem denunciar um local que tenha foco do mosquito. Enfim, se há esse canal de comunicação, nós não sabemos, porque não está sendo divulgado – reclamou.
Já uma outra aposentada, que também preferiu não se identificar, contou que estava sentindo os sintomas da dengue no último sábado e enfrentou uma grande demora para ser atendida no Hospital de Emergência de Resende.
– Fiquei assustada, o hospital estava lotado. Tinha muita gente com dengue aguardando atendimento. Eu cheguei às 8h e fui ser atendida só às 14h. Tinham apenas três médicos atendendo, e pior é que quando chegava alguém acidentado ou com uma emergência maior era prioridade, então quem está com dengue não tem nenhuma prioridade – indignou-se a moradora.
Para ela, o atendimento hospitalar deveria ser intensificado diante da epidemia de dengue na cidade.
– Fui atendida por um médico, e fiz o exame de sangue, onde foi constatado o vírus da dengue. Mas só fui sair do hospital às 20h. O hospital, mesmo sabendo da epidemia, não mudou nada. Não tem médicos suficientes na emergência. Além disso, a Santa Casa não atende pessoas com dengue – reclamou a aposentada.
Prefeitura diz não poupar esforços no combate
Em respostas às reinvindicações da moradora, a prefeitura de Resende, através de sua assessoria de imprensa, informou que não tem poupado esforços no combate ao mosquito Aedes aegypti – transmissor da dengue.
Segundo a prefeitura, vigilantes sanitários do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ), em parceria com agentes comunitários das unidades de saúde, realizam inspeções aos imóveis do município durante todo o ano. Durante as visitas, os moradores recebem orientações sobre as medidas de prevenção à doença.
Este ano, a Secretaria Municipal de Saúde conta também com o apoio do Exército, através de soldados da Aman (Academia Militar das Agulhas Negras), que também fazem o combate aos focos da dengue.
O local que mais tem atraído a atenção dos órgãos públicos é a região da Grande Alegria. Nesta localidade concentra-se mais de 60% dos casos confirmados da doença no município e ações de limpezas foram intensificadas, uma delas foi a “Megaoperação de Combate à Dengue”, realizada nos dias 24 e 25 de fevereiro. A ação teve a participação de mais de 500 pessoas entre militares da Aman, vigilantes sanitários do CCZ e funcionários de outras secretarias, como a de Serviços Públicos.
As equipes percorreram 8.120 imóveis para vistoriar a incidência de focos do Aedes aegypti e coletaram 119 amostras de larvas, sendo que 77 delas deram positivo para o mosquito.
Durante a operação, que também contou com o apoio da Polícia Militar para atender casos em que os moradores impedissem a entrada dos vigilantes. Foram 33 imóveis que estavam fechados, sem moradores ou que as pessoas se recusaram a receber as equipes.
Para conseguir eliminar os focos de dengues até mesmo em locais fechados ou particulares, a 1ª Vara Cível concedeu uma liminar onde os funcionários do combate à dengue podem entrar no imóvel para realizar a vistoria.
Mutirões e atendimento médico
Durante os mutirões de combate à dengue nos bairros, os funcionários municipais recolhem materiais que podem acumular água e se tornar criadouro do mosquito transmissor da dengue, como garrafas, pneus, latas velhas, tambores, caixas d’água, vasos sanitários, entre outros.
Além de garantir as ações de combate à dengue com as visitas domiciliares e o carro com inseticida UBV, a Secretaria de Saúde mantém o atendimento médico aos pacientes com suspeita da doença.
A Unidade Básica de Saúde (UBS) da Cidade Alegria presta atendimento exclusivo para esses pacientes. No local, segundo a Superintendente de Atenção Básica em Saúde, Ana Paula Bueno, foram instaladas 13 cadeiras de hidratação enviadas pelo Governo do Estado e atualmente são atendidos cerca de 150 pacientes por dia.
– Nesta unidade, nós temos de dois a três médicos atendendo todos os dias, das 8 às 17h. Os pacientes realizam exames laboratoriais de acompanhamento e fazem a hidratação quando há indicação – explicou Ana Paula.
Além da UBS da Cidade Alegria, todas as unidades de saúde do município estão aptas a atender os casos de pacientes com os primeiros sintomas da doença. Após o diagnóstico, se a pessoa for moradora da Grande Alegria, será encaminhada à UBS daquela região, enquanto os moradores dos demais bairros da cidade são acompanhados nos PSFs (Postos de Saúde da Família), ou no Hospital de Emergência, que tem um médico exclusivo para atendimento de segunda a sexta-feira, das 8 às 17h – nos casos de emergência, os pacientes são atendidos normalmente no pronto atendimento 24 horas por dia.
Participação da população
Na avaliação da Secretaria de Saúde, a participação da população no combate à dengue é fundamental. De acordo com o coordenador do CCZ, Rafael Carvalho, é importante a colaboração dos moradores, tanto nas ações de prevenção como em aceitar a visita dos vigilantes sanitários.
– Ainda encontramos nos quintais latas, pneus, depósitos de plástico e baldes com acúmulo de água. A população precisa se conscientizar e eliminar os possíveis criadouros de suas residências. Além disso, a visita do agente é importante para orientar e verificar esses focos – ressaltou.
Segundo o coordenador do CCZ, as inspeções de rotinas nos bairros acontecem de dois em dois meses, e o índice de reincidência é muito alto: os agentes passam nas residências, encontram larvas, fazem o controle e quando retornam na inspeção seguinte, a situação continua a mesma.
– O trabalho da prefeitura não é eficaz se não houver a participação da comunidade. Nas visitas, os agentes orientam os moradores e controlam os focos do mosquito transmissor da dengue. Mas os moradores devem realizar constantemente a limpeza de seus quintais e verificar possíveis focos – reforçou.
Angra redobra atenção
aos casos de dengue
Para evitar que a cidade sofra uma epidemia de dengue, como ocorre em Resende, a prefeitura de Angra dos Reis redobrou a atenção e os esforços no combate à doença. Como medida preventiva, a Secretaria de Saúde, por meio das diretorias de Vigilância Ambiental e Epidemiológica, realiza ações diárias, que inclui visitas domiciliares e bloqueio do mosquito, para evitar a proliferação do inseto. Além disso, a secretaria também intensificou o atendimento nos hospitais com as ações de vigilância e acompanhamento dos casos suspeitos.
A secretaria de Saúde alertou ainda, que para evitar que o município sofra com uma epidemia, a população deve se unir no combate aos focos do mosquito, que são encontrados dentro das residências.
Segundo a prefeitura, o bairro Parque Mambucaba é o local que concentra a maior atenção da secretaria de Saúde, devido ao grande número de pessoas e casos registrados. Mutirões estão sendo feitos semanalmente no bairro.
De acordo com as informações da secretaria de Saúde, até hoje, 157 casos suspeitos de dengue foram notificados, sendo que desses, 21 deram positivo, 19 descartados e outros 177 aguardam resultado de sorologia.