Terror na França: Voltar à rotina é o maior desafio, afirma psicóloga de Barra Mansa

by Diário do Vale
Intercâmbio: Com o Jardim do Luxemburgo ao fundo, Caroline vai conhecendo a França e quer continuar vivendo no país (Foto: Arquivo pessoal/Caroline Amélia)

Intercâmbio: Com o Jardim do Luxemburgo ao fundo, Caroline vai conhecendo a França e quer continuar vivendo no país (Foto: Arquivo pessoal/Caroline Amélia)

Volta Redonda e Paris – Dias depois dos atentados que mataram 129 pessoas e deixaram mais de 250 feridas em Paris, na França, o maior desafio é voltar a fazer as tarefas do cotidiano. Foi assim que a psicóloga de Barra Mansa, Caroline Amélia, definiu o sentimento após os ataques ocorridos na última sexta-feira, 13. Ela, que está há dois meses em Clichy, uma cidade que faz limite com a capital francesa, afirmou que os franceses continuam muito abalados e com medo.

– O que tem sido mais difícil é encarar o medo e seguir em frente, voltar à vida cotidiana. É um incômodo constante, não sei por quanto tempo vai durar. Estava ouvindo essa semana uma transmissão de rádio onde o programa começou mais ou menos assim: “Hoje na redação estávamos nos perguntando sobre o que falar, se voltaríamos a nossa programação normal, e decidimos que sim, porque a vida tem que continuar. Vamos trazer atualizações sobre os atentados, mas também falaremos de outros assuntos”. Tive aula (de francês) na terça-feira e meu professor estava bem abatido. Ele disse que não perdeu ninguém próximo, mas que conhecia muito bem os locais e já tinha ido a todos. E que eram muito queridos por ele – contou.
Caroline disse que no dia dos atentados estava em um bar com o namorado, que é francês e um amigo dele. Eles assistiam ao amistoso de futebol entre França e Alemanha em um telão montado quando receberam informações por telefone e viram um plantão de notícia durante a transmissão do jogo.
– A gente chegou por lá por volta das 21h15 (18h15 horário de Brasília). Estávamos eu, meu namorado e um amigo dele. Uns 15 minutos depois, o pai desse amigo ligou para ele e falou do atentado no Restaurant Le Petit Cambodge, que tinham morrido pessoas mas ainda não se sabia do que se tratava. Fui observando que começou uma movimentação, todo mundo recebendo ligações, alguns já chamaram táxis e foram embora, mas a maioria ficou. Mais informações iam chegando por telefone e internet, e nós decidimos ficar. No final da partida de futebol, entrou uma reportagem e aí ficamos sabendo melhor do que se tratava. Decidimos esperar no bar, até as coisas se acalmarem – detalhou, lembrando que para voltar para casa precisava passar por ruas em que os atentados ocorreram.
Apesar disso, a psicóloga disse que as pessoas em sua maioria se mantiveram calmas.
– Os franceses, de forma geral, são mais emocionalmente controlados que nós. Eu quis chorar. Alguns até fizeram piada da situação, outros revidaram que não era o momento e quase teve briga no bar. Os donos do bar desligaram a reportagem e deixaram música tocando – disse Caroline.
Ao ser questionada se durante a exibição da reportagem na televisão eles ficaram sabendo de que se tratava de uma ação terrorista, ela disse que não mas que todos imaginavam.
A jovem contou que ficou no bar até por volta de 1h, aguardando notícias. Depois desse tempo, ela, o namorado e o amigo dele, chamaram um táxi para assim conseguirem ir para casa.
– Chamamos um táxi que fez um caminho maior, mas que não passaria pelos locais do ataque. As principais estações de metrô foram fechadas e não era seguro. O táxi chegou muito rápido até o bar, mas depois foram uns 15 minutos de tensão até chegar em casa. Fomos para casa do meu namorado no 5ème (bairro), e como estava sem internet no celular, enquanto estava no bar dependia de informação dos outros, depois quando chegamos em casa tinha várias mensagens no Facebook, pesquisamos na internet e ouvimos as notícias na rádio – disse, completando: “O sentimento é bem ruim mesmo, uma sensação de fragilidade, de poder ser atingido a qualquer momento”.
Ao saber da gravidade dos atentados, ela logo entrou em contato com a família em Barra Mansa e os tranquilizou, dizendo que estava bem. Segundo Caroline, as notícias ainda não tinham chegado ao Brasil.
Os dias seguintes a noite de terror em Paris foram atípicos e só a partir da última segunda-feira é que a começou a “voltar ao normal”, segundo a jovem.
– No sábado ficou quase tudo fechado, lojas, cinemas, museus. As pessoas ficaram em casa, mas algumas ainda foram às ruas fazerem homenagens aos mortos e feridos nos ataques. Na segunda-feira é que a vida “voltou ao normal”. As pessoas foram trabalhar, as crianças à escola e as linhas de metrô também voltaram a funcionar. As estações dos lugares dos atentados continuam fechadas – comentou.
A psicóloga, que atualmente participa de um programa de intercâmbio e mora com uma família que a abrigou “em troca” dos serviços de babá, disse que não conhecia ninguém vítima dos ataques, mas que um amigo de seus anfitriões morreu. O homem era considerado desaparecido até terça-feira, mas foi identificado como um dos mortos.
O DIÁRIO DO VALE perguntou a Caroline se as pessoas comentam ou falam sobre os atentados, ou se isso é um assunto proibido no país e ela prontamente respondeu.
– Esse é o assunto número um de todas as mesas. Eu conversei com meus amigos e com a família que moro, até a menina de que cuido sabe. Ela tem seis anos e meio, mas os pais e a professora conversaram com ela sobre os atentados. Mas com certeza as pessoas querem seguir em frente – frisou.
Apesar de todo o clima de tensão, Caroline disse que quer continuar no país até mesmo depois que seu intercâmbio terminar.
– Meu contrato é de um ano, mas pretendo ficar mais. Preferia não ter passado por isso, mas agora faz parte da minha história – finalizou.

Foto: Reprodução internet/Google Maps Rota do perigo: Caroline estava no Le Supercoin (circulado acima), enquanto um dos ataques ocorreram no Bataclan (circulado abaixo)

Foto: Reprodução internet/Google Maps
Rota do perigo: Caroline estava no Le Supercoin (circulado em cima), enquanto um dos ataques ocorreram no Bataclan (circulado na parte de baixo)

Atentados

O grupo radical Estado Islâmico reivindicou a responsabilidade pelos ataques, que já é o pior da história recente da França. Explosões ocorreram perto do Stade de France, durante um jogo entre as seleções da França e Alemanha, e três tiroteios espalhados pela capital francesa – entre eles o na casa de show Bataclan – deixaram 129 mortos e mais de 250 feridos, segundo a polícia parisiense.
Após os ataques, o presidente francês, François Hollande, afirmou em declaração em rede nacional que o país está em estado de emergência e que as fronteiras estavam fechadas.
Na quarta-feira, uma megaoperação ao norte de Paris, em Saint-Denis, matou duas pessoas, entre elas um homem que seria o mentor dos atentados, o belga Abdelhamid Abaaoud, e prendeu outras oito suspeitas de estarem planejando um ataque em La Defense – bairro empresarial na zona metropolitana de Paris. Houve troca de tiros entre os policiais e os homens que se escondiam dentro de um apartamento, que seria o esconderijo do grupo.
Logo no início da operação, uma mulher-bomba, ativou seu colete de explosivos. Ela e outro terrorista morreram e três policiais ficaram feridos.

Por Arlindo Novais

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4 comments

ÊTA POVINHO 22 de novembro de 2015, 11:41h - 11:41

Pois é. A Carolina fala que “– Esse é o assunto número um de todas as mesas.” mesmo tendo eles um jogo e apenas uma tragédia com poucas pessoas em relação a tragédia em Mariana.

Enquanto aqui os brasileiros continuam falando de futebol diante de milhares de desabrigados além do maior crime ambiental da América do Sul atualmente.

Lá eles responsabilizam os terroristas, aqui responsabilizam o POVO, os POLÍTICOS e o MEU BRasil. Esta é a diferença entre os Europeus e Brasileiros.

ÊTA POVINHO 22 de novembro de 2015, 11:44h - 11:44

Ah, será que ela sabe o que aconteceu em Mariana? Será que o DV perguntou?

bocavr 22 de novembro de 2015, 11:00h - 11:00

Quero ver é encarar linha Amarela,Vermelha e a Brasil,no Rio de Janeiro debaixo de AR-15,FAL,GRANADAS,GLOCK 9 mm,pelo menos três vezes por semana e não um atentado de 10,15 ou 20 anos(essas barbárie acontecem)isso é muito mais catastrófico do que o que aconteceu na França,lá é primeiro mundo,cai aqui na SELVA.Que Deus nos proteja,somos TODOS a criação DELE.

Rodrigo Zando 22 de novembro de 2015, 10:36h - 10:36

Voltar à rotina deve ser difícil. Agora… imagine algo pior: voltar a Barra Mansa.

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