Uruguaio que ‘troca bondades’ na estrada faz parada em Volta Redonda

by Diário do Vale
Franka, Thaisa, Dulce, Geancarlo e Caroline formam corrente em Volta Redonda

Franka, Thaisa, Dulce, Geancarlo e Caroline formam corrente em Volta Redonda


Volta Redonda – 
Quem viveu os anos 2000 e gosta de cinema deve se lembrar bem do filme “Corrente do Bem”. Nele, uma criança propõe na escola um jogo no qual a pessoa, a cada favor recebido, tem de retribuir para outras três pessoas, e assim sucessivamente. Na película, a coisa cresceu e se tornou uma imensa fonte de bondade. Guardadas as devidas proporções e com a realidade na direção, o uruguaio Franka Gonzales, de 59 anos, percorre as estradas brasileiras de bicicleta, despertando que há de melhor no próximo.

Depois de muito asfalto e histórias colhidas, o cabeleireiro chegou a Volta Redonda. Vindo de Pelotas e com uma passagem emocionante por São Paulo, na Cidade do Aço ele conseguiu escrever mais um capítulo na impressionante jornada. Ele está hospedado na casa de Geancarlo Felippe, no bairro São Lucas, a quem conheceu num grupo de mochileiros na internet. O que seria uma rápida passagem acabou em mais uma boa história da corrente que ele puxa.

Na segunda-feira, dia 6, Franka chegou com sua bicicleta e o fiel escudeiro Guri, um Galgo Inglês resgatado de maus tratos vivenciados junto a caçadores de javalis do Sul do país. Geancarlo foi buscar os novos amigos e, de cara, perceberam uma necessidade primordial dos viajantes: aos 14 anos, Guri precisava muito de uma “revisão geral”, tal qual a bicicleta (mas por hora vamos nos ater ao animal). Apesar de bem cuidado, Guri tinha uma ferida no olho e precisava de atenção veterinária.

Aí começou uma verdadeira saga de troca de bondades e experiências. Geancarlo lembrou-se de uma amiga, Thaisa Vidigal, que tem carinho especial por animais. Thaisa, por sua vez, entrou em contato com o veterinário Antonio Luiz Ferreira Tuis, que então passou a cuidar de Guri. O cão ganhou renovação de vacinas, banho, remédios e uma cirurgia nos olhos. Está quase 100% (diferente da bicicleta, que está mal) e no sábado vai retornar à estrada com seu dono.

Nesse meio tempo, foram dois cortes de cabelo feitos por Franka. Um para o veterinário e outro para Caroline Fernandes, namorada de Geancarlo. Só para constar: o cara é bom com a tesoura nas mãos. Thaisa e sua mãe, Dulce Vidigal, ainda descolaram, na Gaiola de Ouro, um bom estoque de ração para Franka alimentar Guri em sua viagem. Não ganharam cortes de cabelo, pois já estavam com as madeixas ajustadas quando conheceram Franka.

Mas nem por isso o uruguaio deixou de “fazer a cabeça” delas. Mais que os penteados, Franka gosta muito de contar as histórias que junta. Tem nelas algo tão ou mais valioso do que o que aprendeu nos cursos que fez ao longo de sua vida antes da jornada começar. Para quem sabe escutar, talvez esteja ali o maior bem que ele esteja praticando. “Na estrada realmente aprendemos que tudo passa. Parece óbvio, mas é uma verdade que as pessoas devem aprender a valorizar”, disse o aventureiro.

Outro “ensinamento” que traz para os seus ouvintes tem um ar de filosofia de para-choque de caminhão. Mas útil para quem deseja “mochilar” por aí. “Aprendi na estrada que é muito mais importante dizer o que você está fazendo e para onde vai. Muito mais importante do que quem você é”, diz ele, para enfim entrar na sua história pessoal.

Sem tarja preta

Após um diagnóstico de depressão, Franka saiu do consultório médico com receituário para comprar remédios tarja preta. A recessão econômica, uma separação e dois aluguéis (da casa e do espaço num salão) combaliram o hoje falante uruguaio.

Antes de tomar as primeiras doses, pegou a bicicleta para ir de Pelotas-RS, onde vivia e trabalhava em um salão de beleza, até uma cidade próxima. O objetivo da viagem era ministrar uma palestra sobre o uso de Reiki (técnica japonesa de relaxamento)contra as drogas. O paradoxo entre buscar a cura para dependentes químicos e ele próprio começar a tomar remédios fez com que a viagem tivesse início.

– Ao sair da palestra decidi não voltar mais para o mundo em que eu vivia. Nada de priorizar as belezas, ou as fofocas dos salões. Quero me encontrar e neste meio do caminho aprendi algo interessante. Tudo retorna. Toda vez que faço um bem na estrada, um bem me chega. Tem sido assim. E quando as coisas apertam, me lembro que tudo passa. E vai passar – relatou Franka.

O objetivo inicial da viagem era seguir de bicicleta até o Ceará. No entanto, Franka afirmou que a viagem ganhou novo sentido e, atualmente, não é prudente dizer até onde vai. Ele diz, no entanto, que em breve achará um lugar – ou momento – certo para aportar. Até lá, se agarra ao que classifica como pequenos milagres que acontecem na estrada para seguir adiante. “Receber um prato de comida quando estamos com muita fome, uma carona quando estamos muito cansados, e ter a ajuda das pessoas quando precisamos são pequenos milagres”, diz ele.

 

Na cracolândia, hora de doação
antes de rumar para a região

 

Prova de que Franka Gonzales é mesmo um cara diferente se deu em São Paulo, onde fez uma parada no fim do mês passado. Entre muitos lugares que poderia ter visitado com Guri, escolheu a cracolândia. E mais: ficou como voluntário durante dias cortando cabelos dos usuários de drogas.

– Os primeiros dias foram bem pesados, chorei muito. Mas depois me encontrei cortando os cabelos, sendo útil. É uma experiência sem igual, que me mostraram muitas lições – disse.

De São Paulo, Franka foi ao Paraná e de lá pretendia ir ao Rio de Janeiro por uma rota diferenciada da costumeira. O uruguaio, então, avisou no grupo de “mochileiros” da internet para onde seguiria e recebeu dicas de Geancarlo Felippe para passar por Volta Redonda. “Ele teria mais estrutura na estrada. Encontraria mais postos de gasolina e mais apoio se precisasse de algo”, disse o novo anfitrião.


Uma bicicleta nova para Franka e Guri

Franka Gonzales tem data para partir. No sábado ele pega novamente a estrada, tendo ainda o Ceará como destino final. No entanto, ele e seus novos amigos voltarredondenses ainda esperam que um novo pequeno milagre ocorra. É que a bicicleta de Franka é de carga, pesada e sem marcha. Ele ainda puxa uma carrocinha, onde vai Guri. Os amigos iniciaram uma cruzada para tentar uma nova “magrela” para o uruguaio.

– A carrocinha deve ser reformada pelo pai de Thaisa Vidigal. O empresário Tarciso Andrade. Mas falta uma bicicleta que permita o restante da viagem com mais tranquilidade. Vamos torcer para que alguém se manifeste – disse Geancarlo Felippe.

Franka tem celular e pode ser contatado pelo 53-999429944 ou por 53-984416071. Quem ajudar certamente terá um pouso no lugar que esse uruguaio decidir se estabelecer. De quebra, entra em uma corrente do bem.

Por Rafael de Paiva

 

Guri na carrocinha pela qual acompanha a viagem

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Bicicleta é pesada e não conta com marchas

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3 comments

Lindomar 10 de novembro de 2017, 19:15h - 19:15

Trouxe o bom?

El gringo 9 de novembro de 2017, 16:59h - 16:59

Tinha que ser um uruguaio, brasileiro não tem essa nobreza,.

Fernandes Machado 9 de novembro de 2017, 20:24h - 20:24

Infelizmente tenho que concordar com vc amigo ..

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