A ascensão e queda do império Playboy

by Diário do Vale

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Semana passada os executivos da Playboy surpreenderam o mundo anunciando que a revista do Hugh Hefner não vai mais publicar ensaios com mulheres nuas. Aqui no Brasil a Valesca Popozuda entrou em pânico, porque sonhava em ser o recheio de uma edição futura. Não precisa temer por isso. É só a edição americana que não vai mais publicar nus femininos. As edições estrangeiras, como a brasileira, a francesa e a italiana continuam na antiga linha.
O motivo do fim das “centerfolds”, como eram chamadas pelos americanos, é a concorrência da internet. Como disse o presidente da empresa, Scott Flanders: “Com a internet você está a um clique de distância de todo conteúdo sexual possível”.
O prejuízo foi grande. Fundada em 1953 a Playboy chegou a vender 5,6 milhões de cópias no seu apogeu, na década de 1970. Hoje em dia não consegue vender mais do que 800 mil exemplares. No Brasil, a revista começou com o fim da censura da ditadura militar, aí por volta de 1979. As principais modelos daquela época eram a Xuxa e a Luíza Brunet. Brunet virou empresária e não renega o seu passado. Xuxa ameaça processar qualquer um que postar os seus antigos ensaios na internet.
Na década passada a Playboy brasileira chamou muita atenção com ensaios protagonizados por atrizes da Globo. Como a Flavia Alessandra e a Cleo Pires. Mas acabou tendo prejuízo. Há dois anos a revista pagou uma nota pela nudez da Nanda Costa, a Morena da novela “Salve Jorge”, que fazia sucesso naquela época. No mesmo dia em que a revista chegou às bancas o ensaio inteiro estava disponível, de graça, na internet. É por isso que nos EUA a revista vai disponibilizar esses tipos de fotos só nas redes sociais e em seus aplicativos na internet.

Mais que nus

Mas a Playboy não era só mulher nua. A revista ficou famosa pelas longas entrevistas que publicava com personalidades como o presidente Jimmy Carter, Martin Luther King e o cineasta Stanley Kubrick. Kubrick deu uma das melhores entrevistas de sua vida para a Playboy logo depois do lançamento do filme “2001: Uma odisseia no espaço”.
A revista também publicava literatura da melhor qualidade. Incluindo ficção científica. Arthur C. Clarke, um dos mestres da moderna FC publicava seus romances de forma condensada na Playboy e depois eles saíam em livro. Foi assim que li “As fontes do paraíso” e “2010 a odisseia 2”. Primeiro dava uma olhada na versão condensada da Playboy e depois comprava o livro para ver os detalhes.
Essa ligação da revista do senhor Hefner com a fantasia espacial acabou sendo explorada pelo cinema. No filme “Criaturas 2” um alienígena xenomorfo chega na Terra e encontra o exemplar da foto aí ao lado, com a modelo texana Debra Jenssen posando no piano. Precisando de um disfarce humano o extraterrestre vira uma cópia exata da senhorita Jenssen. Uma cena que foi copiada depois nos Homens de Preto.
Quando comecei a minha carreira como escritor, nos anos 80, tive o apoio da edição brasileira. Seu editor me ligou lá de São Paulo pedindo um conto sobre a passagem do cometa de Halley pela Terra. Era o ano de 1985, eu tinha acabado de me formar e estava começando a trabalhar como repórter na redação do JB. Fiz o conto que a Playboy tinha pedido, mas não foi fácil. Naquele tempo não sabíamos quase nada sobre cometas. Como era a superfície e a atmosfera do Halley, mas o resultado ficou tão bom que foi traduzido até para o francês e publicado lá na Europa.
Sem as mulheres nuas e as entrevistas com personalidades famosas é muito difícil que a Playboy sobreviva por muito tempo. Mas é preciso reconhecer que de todas as revistas americanas famosas, do século passado, ela foi a que resistiu mais tempo. A Collier´s acabou nos anos 50, a Life morreu nos anos 60. Só resta a Playboy, um fóssil vivo.

Modelo: Alienígena copiou a forma da Debra Jenssen (Foto: Divulgação)

Modelo: Alienígena copiou a forma da Debra Jenssen (Foto: Divulgação)

 

JORGE LUIZ CALIFE | [email protected]

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2 comments

jorge 22 de outubro de 2015, 00:15h - 00:15

É fato que tem muitas entrevistas interessantes! Mais até que muitos ensaios, de gosto duvidoso!

Al Fatah 21 de outubro de 2015, 00:08h - 00:08

Quem hoje em dia vai querer pagar por algo que se vê de graça em centenas de site internet afora? O único argumento da Playboy era o nu de famosas, despertando a curiosidade do público (muitas mulheres compram), mas isso não é suficiente para garantir vendagens sustentáveis… O que há de mais valioso é seu nome, sua marca, e isso vai perdurar por muitos e muitos anos…

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