A cabeleira

Por Diário do Vale

Ocupei meu lugar na tradicional fila da padaria, mas a visão idílica tirou minha concentração. E não estou falando da visão dos croissants ou do pão de queijo.
A moça à minha frente tinha uma cabeleira armada tão grande que ocupava uns dez metros cúbicos do concorrido espaço da padoca lotada. E antes que o leitor se apresse em conclusões precipitadas, já adianto meu veredito instantâneo:
Caí de joelhos por aquela floresta impenetrável de fios dourados reluzindo os primeiros raios da manhã nos cachos rebeldes que formavam aquele cipoal divino. Parecia a coroa de fios de ouro de alguma diva saída diretamente dos anos 80.
Veio-me à mente imagens de Jenifer Beals (a protagonista do filme Flashdance), lindíssima Ísis de Oliveira, ou, em uma versão mais contemporânea, a personagem Mônica Gastambide, da série “La casa de Papel”, da Netflix.
Aliás, fazia muito tempo que não via cabeleiras desfilando por aí, nem na TV nem nas padarias da vida real.
É provável que nunca tenha visto a menina da padaria antes, mas se a vi certamente foi com os cabelos alisados de chapinha, como se fossem pão na chapa. Um sacrilégio. A chapa é pop e o pop não poupa ninguém.
Não poupa nem a chapa, que agora é xepa. A moda muda.
Fico pensando no poder da indústria que faz milhões de pessoas se enquadrarem em um molde, mesmo quando esse molde não te pertence. Quantas mulheres, ruivas, negras, morenas iluminadas ou loiras, tiveram que renunciar à beleza libertária de seus cachos para se adequar ao padrão vigente. Cinderelas postiças que precisam amputar o dedão do pé para não virarem abóbora na temporada outono-inverno.
Para a mulher essas tendências parecem mais cruéis e descem goela abaixo feito sentenças culturais irrevogáveis, mas não que os homens estejam totalmente isentos delas.
A caçada aos pêlos corporais foi o traço mais notório disso. Aparecer numa praia de peito peludo o coloca instantaneamente em categorias que oscilam entre o ogro e o tiozão. E se pega mal ter pelos no corpo, é cada vez mais cool ter barbas, preferencialmente barbas densas e cortadas em barbearias hype que mais parecem a fusão de um pub com um fliperama.
É possível ser belo com barba ou sem, e ser linda com cabeleira, careca ou com chapinha, não é essa a questão. A questão é que você tem o direito de ser quem é, e se julgar bonita pela sua régua, ou das pessoas que realmente importam para você.
Porque no final das contas, a moda muda, mas tem a estranha mania de andar em círculos. Daqui a dez anos você vai se achar ridícula com a roupa que acha linda hoje, e daqui a mais algum tempo a mesma moda ridícula voltará repaginada às vitrines do mundo. Mas você continuará sendo você, e sendo bonita com aquilo que lhe faz única, nariz adunco, barba cerrada ou cabeleira armada.
Porque ser autêntico nunca vai sair de moda.

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