Há pouco tempo comentei aqui nesta coluna sobre a nova corrida de armamentos que ameaça o nosso planeta, em plena era do aquecimento global. No lugar de investir no controle das pandemias e no combate as mudanças climáticas, as grandes potências voltam a gastar bilhões de dólares em armamentos e a trocarem ameaças. O que coloca em dúvida a capacidade de sobrevivência da espécie humana. Na semana passada o mundo acompanhou a chamada “crise dos submarinos” envolvendo Austrália, França, Estados Unidos e China.
Para quem não acompanhou aqui vai um resumo. A Austrália estava negociando a compra de uma série de submarinos convencionais, da classe “Attack” fabricados nos estaleiros franceses. Os australianos querem rearmar sua marinha porque se sentem ameaçados pela expansão das forças navais chinesas. Recentemente a China colocou em operação um novo porta-aviões e tem uma frota de submarinos nucleares portadores de mísseis.
A crise começou quando os australianos romperam o contrato com a França e anunciaram que vão comprar submarinos nucleares americanos. O ministro francês das relações exteriores, Jean Yves Ledrian, comparou a atitude americana a uma “punhalada nas costas”. Em represália a França chamou de volta seus embaixadores na Austrália e nos Estados Unidos. Os australianos se defenderam explicando que os submarinos convencionais da França não atendiam a todas as suas necessidades. O primeiro ministro australiano Scott Morrison disse que já tinha mencionado a possibilidade de cancelar o acordo num jantar que teve com o presidente francês Emannuel Macron. “Eu fui claro num jantar em Paris sobre nossas preocupações quanto à capacidade dos submarinos convencionais para lidar com o novo ambiente estratégico em que estamos” disse Morrison numa entrevista.
A China, é claro, também não gostou da notícia. Um porta-voz do governo de Pequim disse que a Austrália vai se tornar alvo dos mísseis nucleares chineses se comprar submarinos nucleares. Ou seja, a China tem submarinos e mísseis nucleares mas acha que seus vizinhos não podem ter. Na verdade toda essa corrida armamentista no Pacífico é o resultado da atitude agressiva do governo chinês contra seus vizinhos. Que se traduz em movimentação de frotas navais e ameaças a ilha de Taiwan. Cujos habitantes não desejam, de forma alguma, serem anexados a China.
Já vimos esse filme antes. No século passado Estados Unidos e União Soviética torraram bilhões de dólares com armas nucleares que só serviram para ameaçar a existência humana neste planeta. Dinheiro que poderia ter sido investido em medicina e projetos científicos. Os americanos construíram uma frota de porta-aviões gigantescos, armados com bombas atômicas, enquanto os soviéticos investiam em submarinos. E o que aconteceu depois? Os super porta- aviões americanos acabaram virando sucata e sendo desmanchados em estaleiros. Um deles, o USS Midway virou navio museu, ancorado no porto de San Diego. Os poderosos submarinos soviéticos também viraram sucata e ainda obrigaram o governo russo a gastar mais dinheiro para se desfazer dos reatores radioativos desses submarinos.
E agora vemos o mesmo filme começar de novo. Numa época em que a verdadeira ameaça são os novos vírus e as mudanças climáticas. Desse jeito a espécie humana não vai conseguir passar pelo Grande Filtro. O que é o Grande Filtro? Trata-se de uma hipótese criada pelos astrônomos para explicar a ausência de civilizações extraterrestres em nossa galáxia, a Via Láctea. O Grande Filtro seria uma barreira que impede a vida inteligente de se expandir pelo universo. As civilizações que surgem se autodestruiriam ou seriam destruídas por catástrofes naturais.
E tudo indica que essa barreira esta no nosso futuro próximo, não no nosso passado. Afinal, nas condições atuais, uma guerra com armas nucleares seria o fim da civilização humana.