A Fortaleza da Laje, a Blake Lively e o tubarão

by Diário do Vale

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Entre os filmes que chegam aos cinemas, este ano, está o suspense “Águas Rasas” com a atriz americana Blake Lively. Por dever do ofício assisti ao trailer outro dia na internet. Uma surfista jovem e bonita vai nadar em uma praia paradisíaca lá para os lados da Austrália. E dá de cara com um tubarão branco. Incapaz de voltar para a praia a moça busca refúgio em uma pedra que fica no meio da baía. Um simples recife batido pelas ondas. Ela fica lá em cima, esperando o tubarão ir embora, mas ele não vai. E a maré está subindo e logo a pedra que serve de refúgio vai ficar submersa.

É o tipo do filme barato, fácil de fazer e que mantém a plateia grudada na tela até o final. A pedra que serve de refúgio para a mocinha me lembrou uma fortaleza que fica na entrada da Baía de Guanabara, lá no Rio de Janeiro.

Oficialmente é o Forte Tamandaré da Laje e existe desde os tempos do império. Quando eu era criança, morando no Rio e em Niterói, não perdia a oportunidade de admirar aquela casamata de concreto, erguida sabe-se lá como sobre uma rocha varrida pelas ondas.

Meu pai contava que a guarnição daquela fortaleza ficava isolada durante os dias de ressaca. Quando as ondas varriam o bunker de concreto e impediam que as lanchas se aproximassem para trazer suprimentos ou trocar a guarnição. Segundo a Wikipédia a ideia de instalar canhões em cima daquele rochedo foi do francês Villegaignon. Aquele que tentou fundar uma colônia na Baía de Guanabara e foi expulso pelos portugueses.

Os franceses tiveram a ideia, mas não conseguiram construir o forte. Ele acabou surgindo na época do Brasil colônia, no século XVII, para defender a entrada da baía das incursões de navios inimigos e de corsários ocasionais. A casamata tem as dimensões do rochedo sobre o qual foi erguida. Cem metros de comprimento por 60 de largura. Foi sendo modernizada ao longo dos anos e a forma atual, que me fascinou durante a infância, data do início do século XX. Quando recebeu uma torreta com canhões de 240 mm e outra com canhões de 150 mm.

Local

Os militares mantiveram uma guarnição no local até a fortaleza ser desativada, em 1997. A essa altura já tinha se tornado totalmente obsoleta, como os outros fortes que cercam a baía de Guanabara. Fortalezas com canhões são inúteis em uma era de aviões supersônicos e submarinos que disparam mísseis com alcance de mais de mil quilômetros. Mas há quem sonhe em transformar o lugar em uma atração turística. Os canhões enferrujaram, mas a estrutura de concreto continua a resistir ao impacto das ondas.

Seria um bom lugar para a Blake Lively se esconder daquele tubarão. Isso se ela se atrevesse a nadar nas águas poluídas da Baía de Guanabara. Uma das primeiras representações da Fortaleza da Laje é o quadro “Caça à baleia na Baía de Guanabara”, que Leandro Joaquim pintou no final do século XVIII. Isso mesmo, as baleias frequentavam a Baía de Guanabara há duzentos anos atrás. O que aconteceu com elas? Foram mortas e esquartejadas como a maior parte da vida selvagem deste país.

Hoje em dia a Baía de Guanabara está tão poluída que nem os tubarões se atrevem a entrar lá. Mas vai servir de cenário para as provas de iatismo durante as Olimpíadas deste ano. Coitados dos velejadores. Sem entrar na água dá para admirar a Fortaleza da Laje do alto do Pão de Açúcar. Ela fica bem embaixo, perto do canal de navegação usado pelos navios cargueiros.

Quanto a Blake Lively, o filme dela estreia só em agosto. Mas não se preocupem, ela está mais segura lá na Austrália, na companhia daquele tubarão branco do que os moradores do Rio de Janeiro, poluído e cruzado por balas perdidas.

Sozinha: Blake Lively e sua pedra

Sozinha: Blake Lively e sua pedra

 Abandonada: A fortaleza vista do Pão de Açúcar


Abandonada: A fortaleza vista do Pão de Açúcar

 

JORGE LUIZ CALIFE | [email protected]

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1 comment

Al Fatah 1 de abril de 2016, 08:00h - 08:00

Eu já ia falar: “aposto que a tal atriz é loira”. Não deu outra… kkkkkkkkkkkk!

Relato muito interessante e, como sempre, repleto de fatos curiosos. Não sabia que baleias já frequentaram as águas da baía, sabia só dos golfinhos, toninhas e botos. Hoje elas não passam nem perto, até mesmo no mar aberto são raras por aqui, tudo devido à caça predatória do século XIX e início do XX, que reduziu seu número a uma ínfima fração do que havia antes em todo o mundo. Elas conseguem se comunicar a centenas de quilômetros de distância, mas os ruídos da atividade humana no oceano (barulhos de sonar, motores navais e perfurações) têm perturbado a tal ponto que a simples tarefa de encontrar parceiros e se reproduzir ficou prejudicada…

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