Antoni Gaudi nasceu na Espanha, num povoado perto de Barcelona em 1552, e se formou em Arquitetura. Ele é considerado um dos mais geniais e revolucionários arquitetos de todos os tempos. Suas obras foram tão marcantes que são praticamente símbolo da cidade de Barcelona. Os maiores cartões postais da cidade, como Parque Guell, Casa Milá, Casa Blatló e Sagrada Família, são obras dele.
Neste artigo eu vou elencar quatro pontos que eu considero importantes da sua vida e obra.
Inteligência espacial
Durante muito tempo, cientistas tentaram medir a inteligência das pessoas com testes de QI, mas que no fundo mediam apenas a inteligência matemática, a capacidade de raciocínio lógico. Hoje em dia já se sabe que possuímos uma série de inteligências, e uma delas é a inteligência espacial.
Os grandes escritores são aqueles com capacidade de abstração para preencher folhas em branco.
Os grandes músicos são aqueles com sensibilidade para preencher os silêncios.
E os grandes arquitetos são aqueles com inteligência para preencher de maneira singular os espaços vazios. Gaudi tinha um senso incomum de tridimensionalidade.
Suas obras desafiam a lógica, ele criou espaços e formas únicas, era como se ele antes de ser um arquiteto ele fosse um escultor de formas e depois transpusesse essas obras para suas construções.
E isso tem origem na sua infância, seu pai era caldeireiro, e talvez essa experiência de dar forma às coisas o tenha inspirado.
Inspiração na natureza
Gaudi foi uma criança de saúde debilitada, acabou passando muitas temporadas no campo, em contato com a natureza e isso acabou sendo uma grande fonte de inspiração para ele.
Suas obras quase não têm linha reta, padrão ou simetria. Porque a essência da natureza é a liberdade. Você pode pegar dois galhos da mesma árvore e eles nunca serão iguais. Uma linha de montagem industrial produz coisas rigorosamente iguais, mas a natureza produz formas únicas, singulares.
Veja que emblemática essa frase do Gaudi:
“A Originalidade consiste em voltar à Origem”. E a natureza é a origem de tudo.
Vanguardismo
Gaudi foi mais do que um arquiteto, ele foi um gênio que estava muito à frente de seu tempo. Ele projetou coisas que seriam impossíveis de serem concluídas com a tecnologia do seu tempo.
Muitos dos seus projetos foram tão ousados que foram rejeitados na sua época. O Parque Guell, projetado para ser uma espécie de condomínio residencial de luxo, fracassou, ninguém quis se mudar para lá.
Toda obra muito criativa, que rompe com um padrão dominante corre esse risco, da rejeição pública. Ele tinha uma mente tão criativa e revolucionária que era difícil compreendê-lo.
Como estudante de arquitetura ele teve uma trajetória um pouco irregular e ambígua, tanto que quando concluiu seus estudos o Diretor da Faculdade afirmou: “eu não sei se a gente deu o diploma para um doido ou para um gênio. O tempo dirá”.
Um século depois da sua morte, milhões de pessoas visitam suas obras, ficam horas na fila para visitá-las e veneram o seu legado. O tempo já cravou seu veredito. Gaudi pode até ter sido um pouco doido, mas mais do que tudo, ele foi GENIAL.
Religiosidade e senso de propósito
Na juventude ele obteve algum sucesso profissional quando adulto e frequentou a vida social de Barcelona, ia a shows, espetáculos, bons restaurante e tinha uma boa vida.
Mas nos seus últimos anos ele foi tendo um senso cada vez mais forte de religiosidade, foi abandonando a vida social, passou a ter um estilo mais simples, frugal, andava em roupas rasgadas e humildes e passou a se dedicar com fervor à obra mais importante de sua vida: a Igreja da Sagrada Família.
Ele sabia que sua principal obra era complicada demais para ser concluída no seu tempo.
E ele fez todo o necessário para que as gerações futuras pudessem concluir: deixou maquetes, plantas, desenhos e modelos em gesso, além de discípulos mais jovens encarregados de tocar a obra adiante.
Ele morreu atropelado por um bonde em 1926. Pouco tempo depois a Espanha entrou em Guerra Civil, Barcelona foi bombardeada e muitos dos seus escritos e maquetes foram destruídos.
A obra ficou paralisada por muitos anos, mas nos anos 70 foi feito um trabalho minucioso de reconstrução das ideias dele para a Igreja, e a partir dos anos 80, com mais tecnologia, as obras foram retomadas com mais velocidade.
Suas ideias foram tão avançadas e afrente do seu tempo que mesmo hoje os construtores enfrentam muitos desafios para levar a cabo o projeto, que vem sendo utilizado com tecnologias de ponta como impressão 3D e até mesmo uso de robôs parra construir peças mais complexas.
Gaudi tinha um profundo senso de religiosidade e propósito e queria ter certeza que deixaria um legado para as futuras gerações. E ao que tudo indica, sua obra prima, a Sagrada Família, ficará pronta em 2026, ano em que se comemora os 100 anos da morte desse arquiteto catalão, um pouco doido, mas muito, muito mesmo, genial.
Alexandre Correa é professor da FGV, escritor e palestrante corporativo. Ele está no YouTube, no Facebook, no Linkedin, no Instagram, no SPC e no Serasa. E não está no Tinder porque sua mulher não deixa.
1 comment
Gaudi nasceu em 1852, corrijam por favor.
Comments are closed.