A guerra contra o verde em Pinheiral

by Diário do Vale

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Pinheiral: O verde fica cada vez mais raro (Foto: Pinheiral)

Pinheiral: O verde fica cada vez mais raro (Foto: Pinheiral)

Pinheiral é uma das cidades com menos áreas verdes em nossa região. O pessoal lá não pode ver uma árvore que corre logo para pegar a moto serra. Em consequência disso o município sofre mais com a estiagem. No verão passado choveu muito em Piraí e Barra do Piraí enquanto não caia uma gota de água em Pinheiral. Os riachos viraram poças de água estagnada. Isso acontece porque a vegetação atrai a umidade e favorece o clima chuvoso. E o pior é que o mau exemplo vem de autoridades e educadores, que deveriam ser os primeiros a defender a natureza.

Vejam por exemplo o que aconteceu no Colégio Agrícola, hoje Instituto de Educação Ciência e Tecnologia da UFF. O campus é uma das poucas áreas com árvores e sombra que ainda restam no perímetro urbano de Pinheiral. Uma ilha de vegetação do lado da cidade. As pessoas costumam ir lá fazer caminhadas no fim de semana, fugindo do sol e do calor. Meu cachorro, o Branco, adora ir lá no início da tarde. Infelizmente, mesmo ali, no colégio agrícola, as moto serras já andaram fazendo seu trabalho nefasto.

 Destruição

Atrás do campo de futebol do campus, ao longo das margens do Cachimbal, havia uma série de limoeiros. Produziam um limão saboroso, muito melhor do que esses que se compra em supermercados. Fiz muita limonada com aqueles limões do colégio agrícola. Até o ano passado quando a destruição começou. Primeiro cortaram a arvorezinha que ficava embaixo da ponte, depois trucidaram a outra, perto da bomba de água. Deixando os frutos verdes e as folhas espalhadas pelo chão. Infelizmente isso era apenas o começo.

A trilha que vai do campo de futebol até as colmeias da apicultura era cercada de amoreiras e plantas exóticas. Elas formavam uma espécie de túnel verde em volta do caminho. Mesmo no auge do verão, com um calor de 40 graus, era fresquinho ali naquela trilha. As plantas criavam um microclima. O lugar era tão bonito que ambientei ali uma sequencia do meu livro para crianças, “O cachorro que tinha medo de trovoada”.

No final do ano as amoreiras ficavam carregadas de frutas pretas e doces. Meu sobrinho passava por ali e saia com um copo cheio de amoras. Tinha umas plantas que formavam umas tendas naturais onde podíamos nos abrigar da chuva. E davam umas flores enormes que atraiam as abelhas. Esse lugar mágico agora só existe na memória e nas páginas do meu livro. O pessoal da moto serra também passou por lá.

Domingo passado estive naquela trilha e fiquei perplexo ao ver as plantas derrubadas. As amoreiras cortadas e reduzidas a estilhaços de madeira seca. Perguntei a um dos guardas do campus porque não tinham poupado nem a amoreira. “Dava muita umidade”, ele respondeu. A umidade de que ele fala era o microclima fresco daquela trilha. Agora, no próximo verão o calor vai ferver por ali. Para as abelhas, coitadas, só restou uma pequena moita de flores cor de laranja.

 Casa de ferreiro, espeto de pau

Fico pensando em como isso deve confundir as cabeças dos alunos daquele instituto. Enquanto estudam meio ambiente eles vem o pessoal da escola derrubar árvores frutíferas. Só porque as plantas produzem sombra e umidade. Como é que uma instituição que produz mudas e tem projetos de recuperação da Mata Atlântica não respeita as árvores do seu campus? É aquela história da casa de ferreiro, espeto de pau.

 Processo de desertificação

E o que acontece em Pinheiral é só uma pequena amostra do que acontece no resto do Brasil. Onde a floresta amazônica vem sendo destruída a ferro e fogo, com a conivência do governo federal.

No final, quem vai pagar por isso é o povo brasileiro. Essa estiagem que estamos enfrentando é parte do processo de desertificação que avança pelo país. Sem uma mudança de atitude vamos legar um deserto para as gerações futuras.

Jorge Luiz Calife / [email protected]

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5 comments

Daniel 5 de maio de 2015, 19:45h - 19:45

Caro Jorge,
Sempre fui leitor da sua coluna a qual considero uma das melhores do jornal Diário do Vale, sempre com assuntos novos e interessantes.
No entanto a coluna acabou sendo uma grande bola fora, comparar a eliminação de algumas árvores com sendo a origem da falta de água e o desmatamento da Amazônia foi completamente desproporcional, talvez motivado pela perda das plantas favoritas da área, as quais também tenho uma lembrança muito agradável um minha memória.
Como ex-aluno do antigo CANP, sei dos grandes esforços que servidores e alunos do Colégio fazem para recuperação das áreas degradadas e um exemplo emblemático pode ser visto de longe, a recuperação da grande voçoroca que existia nas proximidades.
As respostas já foram apresentadas pela resposta do IFRJ publicada aqui mesmo no Diário do Vale, portanto, não estou aqui para criticar, apenas para sugerir uma visita aos setores do colégio, em especial o de reflorestamento para que possa verificar in-loco os projetos que estão em andamento e os que já foram concluídos.
Um abraço!

Pelinho 5 de maio de 2015, 15:19h - 15:19

Que artigo medonho… isso é plantar desinformação na sociedade.. onde se viu isso ?…. “No verão passado choveu muito em Piraí e Barra do Piraí enquanto não caia uma gota de água em Pinheiral. Os riachos viraram poças de água estagnada. Isso acontece porque a vegetação atrai a umidade e favorece o clima chuvoso”. Caro Calife o fato de uma área ter cobertura vegetal não acarreta em clima chuvoso .Você que é “sábio” desde a geologia da lua sabe que a cobertura vegetal tem um papel importantíssimo para o controle de sedimentos nos rios (e consequentemente assoreamento) e para a infiltração das águas subterrâneas que recarregam os rios por isso no passado mesmo no período das grandes estiagens o volume dos rios não diminuía drasticamente pois ainda havia uma significativa contribuição das águas subterrâneas já que existia uma cobertura vegetal MAIOR e uma impermeabilização MENOR da cidade. A sociedade precisa entender e lutar pelo meio ambiente mas não como eco-bobos revocando as sombras das árvores do passado. É preciso entender a importância das árvores no contexto urbanístico amenizando o calor, “isolando” ruídos e em um contexto regional para a recarga das águas subterrâneas e assoreamento dos rios. A crise hídrica nacional infelizmente é vista apenas da ótica dos rios e lagos sem nenhuma gestão integrada com as águas subterrâneas que alimentam os rios

Caique 28 de abril de 2015, 19:43h - 19:43

O colégio já está desvinculado a UFF.

Thays 28 de abril de 2015, 12:34h - 12:34

Meu caro, invés de sair falando asneiras na internet, por que não vai ao campus e procura se informar melhor? Você não conhece nada, nem o trabalho das pessoas naquele lugar. Como o Geisler disse, algumas árvores são cortas por motivos bem específicos. Existem projetos ecológicos, existem pessoas que mesmo sem ganhar nada em troca, estão lá pra ajudar em plantios e outras coisas. Não é porque você não está vendo a atitude de reflorestar que ela não existe.

Geisler Vanil 28 de abril de 2015, 08:52h - 08:52

Os cortes de árvore que possam por ventura acontecer na escola são acompanhados e muito bem estudados. Se por acaso for realmente inevitável cortar alguma árvore são sempre realizados plantios compensatórios que buscam minimizar o impacto. É fundamental sim evitar o desmatamento, mas isso é bem diferente de controle das árvores, alguns cortes são necessários devido a riscos de queda ou mesmo pela árvore estar morrendo. Estudei no Campus e sei bem do que estou falando, como ex aluno não tive minha cabeça confundida afinal sabíamos o porque estava acontecendo cada procedimento. Hoje, trabalho no Jardim Botânico no setor de fitossanidade, ás vezes é inevitável ter que retirar uma árvore, sentimos muito, mas faz parte. São seres vivos como nós, e assim como agente, para elas a vida também tem um fim. Penso que o senhor deveria antes de publicar uma matéria dessa, pesquisar um pouco melhor. Ir até a fonte e saber quais foram os motivos da causa. O serviço da informação é de suma importância, mas quando ele vira desserviço já não serve de nada.

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