A mania dos spoilers e os produtores que revelaram o final

by Diário do Vale

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Na página do Internet Movie Database todo mundo pode ser crítico de cinema. É só se registrar e escrever um texto, elogiando ou malhando o filme que você acabou de assistir. Só existe uma regra. Se o texto revelar detalhes da trama, ou comentar o final do filme, é preciso indicar que ele contém “spoilers”. É um termo americano que significa estragar o prazer do público de descobrir sozinho os segredos da trama. O curioso é que esta preocupação é nova. No século passado houve casos de distribuidoras e editoras que “entregaram” os mistérios de filmes e livros já na embalagem do produto.

É o caso da primeira versão de “O planeta dos macacos”, filmada em 1967. No filme Charlton Heston é um astronauta que chega a um planeta, muito parecido com a Terra. Este mundo é dominado por macacos superinteligentes e os seres humanos viraram selvagens nus, que os macacos caçam por esporte. O filme tem quase duas horas de duração até a revelação final, na última cena, onde o astronauta Taylor entra na “zona proibida” e descobre a verdade sobre o planeta dos macacos.

O filme virou clássico da ficção científica e teve dezenas de sequências e refilmagens. Mas nenhuma se compara a originalidade da primeira versão, dirigida pelo cineasta Franklin J. Schaffner. No ano 2000 a Fox do Brasil lançou “O planeta dos macacos” em DVD. A produtora devia achar que todo mundo já tinha visto o filme. Porque colocou uma foto do final do filme na capa do DVD. A última cena, em que Taylor encontra a estátua da Liberdade e descobre que está na Terra! É o que eu chamaria de “spoiler” oficial.

Outro caso foi o da editora Hemus, que publicou os livros do mestre da ficção científica, Isaac Asimov, no século passado. Os livros eram bem traduzidos e a editora aproveitava as mesmas capas das edições americanas. Um dos livros é a aventura espacial “Lucky Star and the moons of Júpiter” com uma história sobre um herói espacial que Asimov criou para um seriado de televisão (que jamais se concretizou).

No Brasil “As luas de Júpiter” saiu com o título de “O robô de Júpiter”. Na história a Terra está em guerra com o império espacial de Sirius. Os inimigos enviam androides de todos os tipos para se infiltrarem entre os humanos como espiões. Lucky Star suspeita que um dos astronautas da base em Júpiter seja na verdade um robô de Sirius. Ele passa o livro todo tentando descobrir o mistério, vários suspeitos se revelam humanos inocentes até que o espião robô é descoberto no último capítulo. É o cachorro pastor alemão que serve de guia para um dos astronautas.

E o que fez o artista americano? Mostrou o cachorro robô já na capa do livro. Aí acabou o mistério, quando o cachorro aparece na história o leitor já sabe que ele é o robô de Sirius. Outro caso de spoiler dos produtores foi o filme “2001: Uma odisseia no espaço”, do diretor Stanley Kubrick. Originalmente o artista Robert McCall pintou uma série de pôsteres para servirem de cartaz para a odisseia espacial. O cartaz escolhido foi o da nave da Pan American deixando a estação espacial em órbita da Terra. É um cartaz bonito, que também foi reproduzido na capa da trilha sonora do filme.

O problema é que um dos publicitários da MGM achou que a pintura de McCall prometia um filme de aventuras. Um Flash Gordon moderno. E o conteúdo metafísico da obra frustrava a plateia, que esperava uma aventura mais convencional, como o Lucky Starr aí em cima. Para o relançamento do filme, em 1972, foi criado um novo cartaz. Com a cena final de 2001, repetindo o erro cometido no Planeta dos Macacos.

Hoje existe mais cuidado na parte da divulgação. E o público não corre o risco de conhecer o final da trama só olhando para a capa do livro.

Spoilers: O planeta dos macacos e o cachorro robô

Spoilers: O planeta dos macacos e o cachorro robô

planetamacacos

JORGE LUIZ CALIFE | [email protected]

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1 comment

Maniac 8 de abril de 2016, 06:50h - 06:50

É isso aí!

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