A questão da ideologia nas escolas

by Diário do Vale

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A crônica de hoje foi escrita graças ao meu cachorro, o Branco. Sem ele, este comentário não teria sido possível. Na semana passada, eu saí para caminhar com ele, e o meu fiel companheiro cismou de seguir pela Rua Domingos Mariano, lá em Pinheiral. Geralmente, não ando pela Domingos Mariano devido à poeira. Os prefeitos de Pinheiral nunca se interessaram em asfaltar o trecho que vai do campo do Capitólio até o viaduto inacabado e, quando passa muito tempo sem chover, a poeira parece cenário de filme de faroeste.

O fato é que encarei a poeira e segui o Branco até o viaduto. Embaixo da construção inacabada, ele começou a cheirar uma caixa de papelão com uns livros dentro. Peguei a caixa antes que o Branco a usasse para “marcar território”. Dentro da caixa havia quatro livros didáticos do Ensino Médio, que tinham sido usados no CIEP de Pinheiral. Não sei por que algum aluno tinha abandonado aqueles livros embaixo do viaduto. Tinha um livro de química, um de matemática, um de filosofia e um livro de história.

Peguei o livro de história, curioso para saber o que eles andam ensinando nas escolas hoje em dia. Levei para casa, folheei e fiquei perplexo com o conteúdo ideológico do livro. Aquilo não era um livro para ensinar a história do Brasil ou a história da humanidade. Era um livro de doutrinação política para formar militantes de esquerda. A ênfase da obra era a história do século XX, com destaque para a Revolução Russa, a Revolução Chinesa, a Revolução Cubana, a luta contra a ditadura no Brasil e por aí afora.

A revolução tecnológica, que mudou nosso modo de vida a partir da década de 1960, foi ignorada pelos autores. A única menção è informatização e aos novos meios de comunicação aparece num pequeno parágrafo. Onde os autores advertem aos alunos que a matéria-prima dos chips de computador e celular vem da exploração dos trabalhadores nas minas africanas. A televisão é mostrada como um instrumento de propaganda capitalista e a imprensa só divulga mentiras. E o livro termina com a eleição de Lula com o título “Lula, além do bem e do mal”.

Com os livros adotados hoje em dia,
professor não precisa opinar

Fiquei pensando na história que eu aprendi na minha adolescência. No segundo grau, naquele tempo, estudávamos as civilizações clássicas: Egito, Babilônia, Grécia, Roma. Que nos deram muito do que temos hoje em dia. Aos gregos, devemos a pesquisa e o conhecimento científico, os romanos nos legaram o direito, a Babilônia foi a origem da maioria das religiões ocidentais. Os professores do meu tempo queriam que tivéssemos uma base para entender como a civilização ocidental evoluiu. Não era a missão deles opinar sobre a história contemporânea, que é muito recente para permitir o distanciamento adequado.

Atualmente, há uma discussão em torno de um projeto de lei que proíbe os professores de darem opiniões na sala de aula. O objetivo seria evitar a doutrinação religiosa e ideológica dos alunos. Mas, com os livros adotados hoje em dia, essa discussão não tem sentido. De que adianta o professor ficar proibido de opinar se o livro apresenta uma versão totalmente distorcida e tendenciosa da história?

O que acontece nas nossas escolas é semelhante ao que aconteceu nas madrassas, as escolas religiosas do Paquistão e do Afeganistão. Lá, os jovens eram obrigados a decorar o Corão e aprendiam a odiar o Ocidente e os infiéis. Quando terminavam o curso, estavam prontos para virar homens-bombas e guerrilheiros. O termo “talibã” quer dizer estudante. Aqui no Brasil, o objetivo é formar a massa de manobra desses movimentos de protesto.

O resultado é o baixo nível do ensino no Brasil. Um levantamento feito pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico mostrou que os estudantes brasileiros têm o segundo pior desempenho entre 64 países pesquisados. Só os estudantes da Indonésia tem um desempenho pior do que os nossos. Mudar esse quadro deveria ser uma prioridade dos governos futuros.

Opinião: Livros didáticos viraram instrumento de propaganda política (Foto: Divulgação)

Opinião: Livros didáticos viraram instrumento de propaganda política (Foto: Divulgação)

 

JORGE LUIZ CALIFE | [email protected]

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21 comments

Aposentado 30 de maio de 2016, 18:42h - 18:42

O tal de vai vendo é um pouco mais do que um analfabeto funcional, é fica postando aqui como se fosse o único a entender as baboseiras que o seu outro amigo coxinha o tal de al fatah fica aqui escrevendo, como se fosse necessário possuir pós doutorado psra entender o que ele escreve,me poupe.

Rodriguinho 30 de maio de 2016, 11:18h - 11:18

Espanta também o número de “experts” que se manifestam com ênfase peremptória sobre essa tolice de “doutrinamento” nas faculdades; gente que nunca entrou numa faculdade, muito menos de uma Federal.
Renovo o apelo ao cara aí: volte a falar sobre a Via-Láctea. Vai que algum aluno desavisado resolva usar esse texto aí como fonte de pesquisa…

Antônio Carlos Negreiros Machado 30 de maio de 2016, 10:37h - 10:37

Por uma citação de um amigo li sua coluna a contragosto e fiquei estupefato.
Sou professor de História da escola citada e uso o referido livro por isso gostaria de expor minha indignação. Você escreveu: “doutrinação política para formar militantes de esquerda” e que há uma ênfase no livro das revoluções comunistas do século XX. Caríssimo colunista 1. em qualquer livro de História de Ensino Médio desde as coleções usadas pelas escolas públicas até as apostilas das escolas mais ricas, as citadas revoluções são discutidas pois sem elas não se compreende o caráter do século XX que é consequência do embate entre o Comunismo e o Capitalismo. 2- É preciso lembrar que é obrigação do professor usar o livro didático como mais um instrumento pedagógico em sala de aula e não como uma muleta, portanto, professor competente usa-o de forma crítica pois não existe livro de História perfeito. 3- Você brada contra esse livro-coleção enquanto que os reacionários de esquerda também o fazem julgando-os como manuais conservadores. Percebe o quanto vocês estão tão próximos. Sectários e dogmáticos.
Você reclama da falta de informações sobre a revolução tecnológica dos anos 60 anos e quando citados imprimem uma visão de explorados e exploradores. 1. O livro explora sim a revolução tecnológica-científica informacional do pós guerra não o quanto nós professores gostaríamos mas o trata. A questão é que esse assunto é tratado com mais ênfase em Geografia. Passe lá na escola que peço pra diretora lhe emprestar um. 2. Geralmente os livros de escola pública bem como as apostilas usadas pelos filhos da classe média alta tratam desse assunto no tocante aos avanços das conquistas tecnológicas e de sua base econômica no âmbito da disputa entre os URSS X EUA, Ocidente X Oriente, vencida pelo lado capitalista. Esse livro citado por você Calife não é dos melhores mas “quebra o galho”.
Você compara nosso ensino com países teocráticos. 1. Realmente essa comparação esdrúxula é digna de troféu dado pelo Alexandre Frota. 2. Nossa LDB deixa claro a liberdade e os limites dados ao professor-escola na tarefa de ensinar. 3. Dizer que a esquerdização do MEC rebaixa nosso ensino é tratar essa questão de forma tão rasa e mesquinha que fica difícil debater. 4. Note-se que você está completamente por fora da discussão séria sobre a qualidade de ensino na escola pública travada no âmbito de conferências nacionais e estaduais e mesmo na academia.

Abaixo “a escola livre” ! Pela liberdade democrática do ato de ensinar !

Antônio Carlos Negreiros Machado 30 de maio de 2016, 11:48h - 11:48

Debate sobre o BNCC e o ensino de História

Mesa de debate com: Ângela de Castro Gomes (Unirio), Marcelo Magalhães (Unirio), Martha Abreu (UFF), Edmar Checon de Freitas (UFF)

2 de junho, 9:30 am, auditório Paulo Freire, CCH, Unirio

Convite para o Colunista CALIFE e extensivo a todos

Rodriguinho 30 de maio de 2016, 08:05h - 08:05

“Capitalistas” sem capital…

VAI VENDO 29 de maio de 2016, 21:01h - 21:01

Os universitários públicos devem ficar atentos, pois se criticarem o comunismo, e principalmente cocomunistas já sabem: é zero e reprovação.

Al Fatah 29 de maio de 2016, 19:16h - 19:16

Calife, fidelidade descritiva e história não combinam. Não existem livros de história que sejam imparciais. Vc mesmo, ao evocar alguma de suas reminiscência, se vale de juízo de valor como em “esta cidade está pior assim” ou “a vida era melhor sem isso”. Isso é normal. As pessoas vêem a mesma foto de forma diferente uma da outra…

Não sou contra a opinião, sou contra a omissão de informação, tipo falar que A foi melhor sem mostrar como foi B, impossibilitando que eu tire minhas próprias conclusões. Nisso vc está corretíssimo!…

VAI VENDO 29 de maio de 2016, 20:58h - 20:58

Caro Al Fatah, escritas acadêmicas devem ser em fóruns especializados. Escrevendo assim aqui os atuais leitores nem vão ler. E quanto mais curto e separado melhor, tipo no máximo 140 caracteres por postagens. rsrs

Al Fatah 30 de maio de 2016, 07:29h - 07:29

O cara escreve numa coluna, o que num jornal já caracteriza segmentação do perfil editorial…

rocha 29 de maio de 2016, 09:12h - 09:12

Sou professor e é tudo verdade.Tem doutrinação Marxista até em livro de matamática.

Maniac 28 de maio de 2016, 09:15h - 09:15

Fora PT! Canalha!

VAI VENDO 27 de maio de 2016, 20:07h - 20:07

É isso aí! Mudaram os livros para as escolas e sumiram com os livros sobre comunismo das bibliotecas. Claro, não há como aplicar um livro como o encontrado pelo Branco ( o cachorro intelectual ) e deixar um livro que fala sobre comunismo nas bibliotecas segundo autores antigos. Os estudantes atuais nunca ficarão sabendo como foi o comunismo a partir de 1922, principalmente antes de 1964 no Brasil.

Só mudo um pensamento do Calife. São os eleitores que deviam mudar este quadro da educação atual, pois elegendo candidatos com compromisso (não promessas) com o Ensino de Qualidade será bom para o Brasil.

Agora se os eleitores escolherem candidatos que conheçam a Administração Pública e entendam de Gestão Pública será melhor ainda.

Adelia 27 de maio de 2016, 19:47h - 19:47

Pior é ver os “maria vai com outras” defendendo algo que não tem defesa.
Essa doutrinação existe sim, e só tem piorado a cada ano que passa. A maioria dos pais não acompanha o que seus filhos tem estudado na escola. É praticamente uma lavagem cerebral. Aos interessados em saber mais sobre isso recomendo assistirem ao documentário “Agenda” no You Tube. O documentário se refere aos EUA, mas quando comecei a assistir percebi que é o mesmo que ocorre aqui no Brasil.

Rodriguinho 27 de maio de 2016, 15:38h - 15:38

“No meu tempo”, o pobre de direita era só sacaneado (como se precisasse…). Hoje, sabe-se que essa espécie de ser tem que ser também estudado, ser tese de doutorado…

SURPRESO 27 de maio de 2016, 14:55h - 14:55

Fanatizando as novas gerações,assim trabalham os líderes socialistas em qualquer lugar do mundo.Dilma quer lançar o seu “netflix” 0800 para o pessoal bolsa-família.Lavagem cerebral a todo vapor.E tem gente que ainda defende esse modelo para nosso país.
Tomara que nunca mais voltem ao poder.

VAI VENDO 27 de maio de 2016, 19:56h - 19:56

Este poder está em Pinheiral e em quase todos as cidades governadas pelo PT e por partidos vermelhos. Em quase todas porque há exceções.

X9 da PM 27 de maio de 2016, 14:52h - 14:52

Hoje qualquer jovenzinho de merda que se acha o intelectual, o Arnaldo Jabor da Puberdade, posta na internet como se fosse doutor no assunto, e os colegas alienados, acabam tomando aquilo como verdade. NO MEU TEMPO isso era chamado de ‘Maria que vai com as outras’. Massa de manobra, geração de bosta que acabará de vez com o país, onde tudo agora é afronta, desrespeito, etc…Famílias destruídas, incompletas que perdem referências do que é certo, moral e do que é errado. Quando ouvem falar do Bolsonaro, a mão do desespero chega a TrEMER! O cara não tem meio-termo, pois é oito ou oitenta…hahahahaah

Al Fatah 29 de maio de 2016, 19:21h - 19:21

Existe alguma geração neste país que não tenha nascido com a promessa do futuro? Esse futuro não chegou em mais de 500 anos, então não creio que chegará tão cedo… Aliás, se for levado na literalidade, o futuro é obviamente sempre dos mais novos mesmos. País do futuro não significa país melhor…

X9 da PM 27 de maio de 2016, 14:48h - 14:48

Idiotas esquerdistas estão se contorcendo porque a mamata acabou! Câncer do Brasil, hoje esta palavra ‘ideologia’ banalizou, onde tudo que vem de bandeira vermelha é verdade, o resto virou ofensa! Aos adeptos do CUmunismo, digam um país comunista que é potência (a China é exceção, o fator dela é histórico, não político), que é desenvolvido?! Bela matéria colunista. Os petralhas ficam doídos quando mexem na ferida, na ilusão que os mesmos criaram. Lularápio e Dilmanta que têm dinheiro, os militantes são favelados, pobres e miseráveis iludidos.

morador 27 de maio de 2016, 13:38h - 13:38

Essa crônica é tão idiota quanto a expressão “no meu tempo”. Coisa de gente que se acha um sábio em todas as disciplinas pois acredita que na escola do passado o sujeito fazia praticamente uma faculdade, cursando apenas o ensino fundamental. Em termos da disciplina, criticada pelo não menos idiota autor, História, o aluno “daqueles tempos” não conseguia passar do Regente Feijó.

Incômoda verdade 27 de maio de 2016, 12:25h - 12:25

Será que o Donald Trump do brejo considera Revolução Russa, a Revolução Chinesa, a Revolução Cubana e a luta contra a ditadura no Brasil temas que não devam constar de livros de História?
A moda é um bando de leigos em História e Pedagogia entrar nessa onda denunciar ensino de “Ideologia” nas escola. Vejo isso no Facebook. Sujeito mal sabe escrever e acha que sabe o que ideologia; ouviu alguém dizer isso e sai reproduzindo a besteira feito papagaio.
Esse discursinho de “No meu tempo…” também é ridículo. Ora, no seu tempo você foi ensinado a acreditar que “os animais de dividem em ‘úteis’ e ‘nocivos'”, “o vento é o ar em movimento”, “a Revolução Democrática (sic) de 1964”, “o herói Domingos Jorge Velho esmagou o rebelde Zumbi no Quilombo dos Palmares” e “ninguém segura este país”.
Aliás, esse caso de ter achado um livro num túnel está meio estranha. Que tal, em nome da honestidade intelectual, citar na próxima aparição aqui título, autor, editora e ano de edição do livro supostamente achado? Aproveite para saudar a presença do grande intelectual Alexandre Frota a levar propostas ao ministro da Educação do glorioso governo Temer.

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