A tempestade perfeita

Um estudo feito pelo Instituto Lowy da Austrália concluiu que o Brasil é o país que teve o pior resultado no enfrentamento da pandemia. O melhor foi a Nova Zelândia, que zerou o número de infecções e nem precisou interromper o funcionamento de escolas e universidades. Já o Brasil esta em último lugar da lista, com mais de mil mortos por dia e um total de 240 mil vidas perdidas em onze meses de pandemia. A reação do governo brasileiro, diante do Covid-19 ficou atrás do México, Irã, Colômbia e dos Estados Unidos do governo Donald Trump.

Enquanto os outros países corriam atrás da vacina, reservando estoques, o Brasil de Jair Bolsonaro gastava 90 milhões de reais na compra de cloroquina e outros remédios inócuos. E o resultado pode ser visto esta semana em todos os telejornais. Idosos, com mais de 80 anos, chegando de manhã cedo aos postos de saúde do Rio de Janeiro e recebendo a notícia de que a vacina acabou e a vacinação, que mal começou, já esta suspensa. Na terça-feira passada a CNM, a Confederação Nacional dos Municípios, divulgou carta pedindo o afastamento do atual ministro da saúde, Eduardo Pazuello. A confederação acredita que a vacinação em massa seja “o único caminho para superar a crise sanitária e possibilitar a retomada do desenvolvimento econômico e social”. Os prefeitos reclamam da falta de diálogo com a atual pasta da saúde.

O Brasil sem vacina se encontra atualmente na crista da segunda onda da pandemia, com mais de 1050 mortos por dia.E a situação tende a piorar. A variante P1 do coronavírus, responsável pela tragédia de Manaus, já se espalhou pelo país, como previu o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta. A P1, que é muito mais contagiosa, já esta circulando em São Paulo e no Rio de Janeiro, resultado da inércia do governo federal.

Há um mês, durante uma entrevista, Mandetta previu uma tragédia nos primeiros meses de 2021 devido a propagação desta nova cepa do Covid pelo país. Ele criticou a decisão do governo de transferir pacientes dos hospitais de Manaus para outros estados. Ao serem transferidos os pacientes viajaram com as famílias. Uma dessas famílias, ao ser testada, estava toda contaminada pela variante P1. Ou seja, no lugar de tomar medidas de isolamento, para evitar a propagação do vírus mutante o governo espalhou gente contaminada pelo país inteiro. Em São Paulo a cidade de Araraquara teve que adotar o lockdown na semana passada porque não havia mais leitos disponíveis nos hospitais da cidade.  E no Rio de Janeiro já tem fila de pacientes esperando internação.

E numa situação dessas tivemos os feriados de carnaval. Como sempre fazem tudo errado os governos estaduais e municipais cancelaram os bailes e os desfiles de rua. Mas se esqueceram de cancelar também o feriado. E se tem feriado o povo não fica em casa, ele lota as praias e bares, como se viu no litoral paulista e nas ruas do Leblon. Festas clandestinas pipocaram por todo o território nacional e o resultado vai ser sentido nos próximos dez dias. Com um número recorde de infectados procurando hospitais que já atingiram o limite de sua capacidade de atendimento. Vai ser a tempestade perfeita. Uma imensa Manaus do tamanho do território nacional.

Já comentei aqui nesse espaço que o coronavírus encontrou terreno fértil no Brasil em cima do tripé: Governo incompetente, povo ignorante, país miserável. A pobreza faz com que boa parte da população se submeta aos subempregos e ao sistema de transporte público ineficiente. Viajando em ônibus e metrôs superlotados para ir ao trabalho todas as manhãs. A ignorância faz com que a maioria ignore as medidas básicas de proteção. Durante o feriado uma repórter de tv entrevistou um casal de turistas em uma praia de São Paulo. Eles tinham vindo de Israel e estavam perplexos com a situação por aqui. O homem explicou: “Em Israel se você sair na rua sem máscara é preso e levado para a delegacia mais próxima. Aqui todo mundo fica à vontade.”

A OMS já deu um alerta. Enquanto o número de casos da doença diminuiu 17% no mundo inteiro, no Brasil aumentou 1%. Não faltaram  avisos.