A vacina chegou, mas nada mudou

by Diário do Vale

Apesar do negacionismo e de todos os obstáculos impostos pelo governo federal, as vacinas contra a Covid-19 chegaram finalmente na terra das palmeiras e dos sabiás. Chegaram em doses homeopáticas, na base do gota-contas. E apesar de todo o circo montado pelos políticos a maior parte da população, como aquela gente que esta morrendo asfixiada lá em Manaus, não vai ver vacinada tão cedo. E sem vacina vamos continuar surfando nas ondas da pandemia que completa onze meses e mais de 217 mil mortos neste final de janeiro de 2021.

Além de começar atrasado o Brasil transformou o que devia ser um problema de saúde pública num duelo político. No Rio de Janeiro subiram até no Cristo Redentor para vacinar a primeira felizarda numa palhaçada digna de países subdesenvolvidos. No primeiro mundo não aconteceu nada parecido. Ninguém subiu na torre Eiffel de Paris ou no Empire State de Nova York para vacinar ninguém. Lá a vacinação começou e continuou nos hospitais e nos postos de saúde. Foi uma encenação vazia e que não vai ter nenhum resultado prático.

Até agora, depois de uma semana, o Brasil só conseguiu importar 10 milhões de doses da Coronavac, produzida pela Sinovac Chinesa e 2 milhões de doses da vacina de Oxford, produzida na Índia. O Instituto Butantan de São Paulo e a Fiocruz do Rio de Janeiro pretendem fabricar essas vacinas aqui mesmo no Brasil, mas dependem de insumos importados da China. É o Infa ou Ingrediente Farmacêutico Ativo. O problema é que o governo chinês colocou o Brasil no final da fila devido às críticas feitas pelo nosso presidente e por seu filho Eduardo.

Reduzindo tudo a matemática simples, temos pouco mais de 12 milhões de doses da Coronavac e da Oxford/Astrazeneca. Mas como essas vacinas exigem a aplicação de duas doses isto significa que 6 milhões de brasileiros poderão ser imunizados, o que não dá para cobrir nem a população escolhida para a primeira fase. Ou seja, profissionais da saúde, idosos em asilos, índios e quilombolas.

Sem vacinas suficientes já estão falando em aplicar uma dose só, o que não imunizaria as pessoas mas evitaria o desenvolvimento das formas mais graves da doença. Mas mesmo com 12 milhões de brasileiros vacinados o impacto sobre a pandemia seria insignificante. Afinal a população do Brasil, exposta ao coronavírus é de 212 milhões de pessoas. E temos o problema de que a Coronavac revelou uma eficiência de 50,38% nos testes feitos no Brasil. O que é o mínimo exigido pela Organização Mundial de Saúde. Em comparação a vacina da Pfeizer, usada nos Estados Unidos e na Alemanha, tem uma eficácia de 95%.

O que isso representa em termos práticos? Se você vacinar um milhão de pessoas com uma vacina de 50%, como a Coronavac, você vai proteger 500 mil pessoas. Para conseguir a chamada cobertura vacinal será preciso vacinar 100% da população. Já com uma vacina de 95%, como a da Pfizer ou a Sputnik V russa, basta vacinar 56% da população e conseguimos interromper a circulação do vírus acabando com a epidemia.

Aí o leitor vai perguntar: por que o Brasil não correu atrás das vacinas mais eficientes? Por questões puramente políticas. Há mais de um mês que o governo da Bahia vem tentando conseguir permissão para usar a Sputnik V no Brasil mas esbarra nos obstáculos da burocracia federal. No ano passado a Pfizer chegou a oferecer 70 milhões de doses da sua vacina, 95% eficiente, ao governo brasileiro. Mas as negociações não foram concluídas. Agora o ministro da saúde recusou uma oferta de 2 milhões de doses por achar insuficientes. E ainda criticou publicamente o laboratório norte-americano, o que vai encorajar muitas empresas farmacêuticas a não negociarem com o Brasil.

No caso do Brasil faltou diplomacia, faltou interesse e senso prático. E o resultado é a tragédia que vivemos.

Pobre do povo que não sabe escolher seus governantes.

Sem vacinas suficientes já estão falando em aplicar uma dose só (Foto: Carina Rocha)

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8 comments

arriando Suasunga 4 de fevereiro de 2021, 06:05h - 06:05

Todos infelizmente enganados, mutações que pela logica as atuais vacinas não funcionam, virus criado ou não nunca mais seremos os mesmos . Esse mundo de 2019 nunca mais . Sem dar um unico tiro a China fez o mundo dobrar os joelhos.

Estefânia Almeida Garrett 31 de janeiro de 2021, 12:26h - 12:26

Parabéns, Calife, por sua lucidez.

Fernando Levos 31 de janeiro de 2021, 01:39h - 01:39

Infelizmente Brasil é isso, se você tem pais ou avós idosos e não tem dinheiro ou costas quentes na distribuição da vacina melhor já ir preparando o psicológico e o plano funerário porque não vai ter vacina esse ano pra eles e ninguém mais tá tomando cuidado nenhum nas ruas.

Ser pobre é fogo 31 de janeiro de 2021, 17:26h - 17:26

Não tem vacina pra gente.

Se você for da mafia branca terá, mesmo que não chegue nem perto da linha de frente.
Se for servidor terá.
E agora profissionais de algumas profissões…
Idoso esquece.
A maioria do povão vai ter que esperar muito.
Donas de casa nunca!
E ainda tem que ver pessoas ostentando em rede social que foram vacinadas.

Emir Cicutiano 29 de janeiro de 2021, 09:22h - 09:22

Calife, seu forte é falar sobre astronomia e ficção. O Brasil começou sim, atrasado, mas já ultrapassou vários países que começaram muito antes. Os EUA começaram há dois meses e só tem 18 milhões de vacinados, e isso porque são o país mais poderoso do mundo! Por quê vc não fala sobre isso?… O mundo todo vacinou até agora 80 milhões de pessoas. O Brasil já tem cerca de 10 milhões de vacinas na mão. Parece pouco, e é pouco, mas vc tem que olhar o contexto, meu chapa! A falta de vacinas é um problema MUNDIAL, não é exclusividade do Brasil, que está até numa situação bem vantajosa, tendo em vista possuir dois grandes institutos produtores de vacinas…
Seja menos político e mais razoável. Tua síndrome de vira-latas e tuas paixões ideológicas embotam teu raciocínio prático…

Vando 31 de janeiro de 2021, 17:44h - 17:44

A vacina fabricada aqui o governo leite moça não quer pq tá briagadinho com um dos apoiadores desta besta fera, enquanto isso o povo vai morrendo e ele negando tudo…pobte Brasil, o que fizeram com vc?

Brasileiro 5 de fevereiro de 2021, 16:26h - 16:26

Parabéns pelo comentário.
Lúcido e sem ideologias políticas.
Nossa ANVISA é respeitada mundialmente e tem mesmo que liberar apenas vacinas que passem em seus critérios.
Culpar o governo pelo problema é muito fácil, mesmo quando vemos que a população não está fazendo sua parte.

Leitor 28 de janeiro de 2021, 22:05h - 22:05

Concordo em

Genero , número e grau.

Só digo uma coisa agora o dinheiro, influencia e profissão irão selecionar os “merecedores” da vacina.

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