Como a maioria dos críticos de cinema, passei a minha vida vendo filmes. Na minha juventude não tinha DVD, nem Blu-ray e assistíamos aos filmes no cinema. A garotada se reunia para ir às matinês, que geralmente começavam no sábado e no domingo, aí por volta das duas da tarde. As cidades eram cheias de cinemas. Mesmo aqui no sul do estado, havia cinemas em Barra do Piraí e Pinheiral, além de Volta Redonda e Resende. Os filmes eram de dois tipos, os longas-metragens, geralmente em cores e cinemascope e os seriados em preto e branco.
Os longas-metragens tinham geralmente umas duas horas de duração e contavam uma história com começo, meio e fim. A ideia do espectador sair da sessão sem ver o final da história era impensável. Num longa metragem a trama tinha que concluir antes do “The End” no final. Geralmente com o herói beijando a mocinha. Esperar para ver a continuação do filme, em outro dia era coisa de seriado. Os seriados eram histórias de aventuras e super-heróis, contadas em episódios de 20 ou 30 minutos de duração. Que normalmente terminavam com os personagens principais enfrentando um grande perigo, uma bomba prestes a explodir ou pendurados na beira de um abismo, daí a expressão inglesa “Cliff hanger” (pendurado no abismo) para descrever esse tipo de filmes. O letreiro no final de cada episódio pedia a plateia para voltar na próxima semana e ver como o mocinho e a mocinha iam escapar daquela situação. Era diferente desses filmes modernos, como “Os Vingadores – guerra infinita” onde a plateia tem que esperar dois ou três anos para ver a conclusão da história.
Os seriados antigos eram filmados em preto e branco, para reduzir os custos de produção e eram considerados uma diversão infanto-juvenil. Personagens como o Batman, o Capitão América e o Super-homem tiveram sua estreia no cinema nesses seriados, produzidos nas décadas de 1930 e 1940. O herói espacial Flash Gordon, saiu dos quadrinhos para os seriados do cinema em 1933 e acabou sendo responsável pela grande mudança que levou a esse cinema bilionário, de super-heróis, que temos hoje em dia.
Como já comentei aqui nesse espaço, George Lucas, o criador de Guerra nas Estrelas adorava esses seriados antigos. Os filmes de Indiana Jones, que ele produziu com o seu amigo Steven Spielberg são uma imitação dos antigos seriados de aventuras. Indiana Jones é como os antigos filmes do Tarzan, onde cada filme é uma aventura completa e o herói derrota os vilões no final. Lucas também queria fazer uma versão moderna do Flash Gordon e acabou criando “Guerra nas Estrelas” ou “Star wars”, como se fala hoje em dia.
O primeiro filme, intitulado simplesmente Guerra nas Estrelas, foi concebido como uma obra única, que começava com a prisão da princesa Leia e terminava com a destruição da Estrela da Morte e o fim dos vilões. A maioria dos amigos do cineasta achava que Guerra nas Estrelas era um filme esquisito e que seria um fracasso de bilheteria, mas contrariando todas as expectativas o longa foi o maior sucesso do cinema no ano em que chegou as telas, 1977. E George Lucas se viu intimado a filmar uma continuação.
Ele já tinha incluído uma cena onde o vilão Darth Vader aparecia fugindo no final. Só para o caso do filme fazer sucesso e ter uma sequencia. Virou uma mina de ouro e criou um novo tipo de seriado, com filmes coloridos, em tela grande e milhões de dólares de efeitos especiais. Como os meus amigos de infância, a plateia já entra no cinema sabendo que não vai ver a história toda, só um capitulo e que tudo vai continuar com um novo filme daqui a dois ou três anos.
Ainda temos longas-metragens que não fazem parte de nenhuma saga ou série, mas eles começam a ficar cada vezes mais raros. Felizmente hoje em dia temos o DVD e o Youtube para curtir os melhores filmes de antigamente.
Jorge Luiz Calife
[email protected]
1 comment
Os efeitos especiais eram toscos pelos padrões atuais, mas os roteiros eram fantásticos. A maioria dos filmes de hoje será completamente esquecida.
Comments are closed.