As caixas e suas possibilidades

Por Diário do Vale

Na verdade, o artigo desta semana não tem a menor intenção de polemizar. Ao mesmo tempo a tentativa é alcançar um olhar diferente acerca das inovações educacionais. É muito comum, no século XXI, inúmeras discussões sobre educação transformadora, educação criativa, educação empreendedora e tantas outras.
Concordo efetivamente com todas elas, em todos os sentidos. Acredito, sim, que o teatro é capaz de auxiliar um cientista na área da matemática, que a música é capaz de ajudar a formar melhores médicos e engenheiros. Acredito, enfim, em uma educação fora da caixa. Todavia é preciso discutir o quanto as regras e as normas, a “caixa” pode ser poderosa para o desenvolvimento dos alunos. Respeitar a tradição é fundamental para que consigamos inovar.
Um exemplo é que ninguém consegue criar a partir do nada. Toda a nossa história, toda a produção artística, a escola literária do Modernismo, a arte modernista, no início do século XX, no Brasil, por exemplo, transformou os paradigmas artísticos de sua época e nos é referência até os dias de hoje. Macunaíma, que nos foi apresentado como anti-herói, talvez em uma proposta de romper com a idealização criada por José de Alencar em suas obras românticas.
Os heróis apresentados até então eram românticos, idealizados. Os modernistas buscaram criar e trazer heróis mais próximos dos defeitos do homem comum. As vanguardas europeias como o Futurismo, o Dadaísmo e o Cubismo romperam com uma estética padronizada.
A obra “Senhoras de Avignon” de Pablo Picasso, por exemplo, é de grande destaque na revolução cubista, sendo fundamental e intermediária entre o impressionismo e o abstracionismo. O Cubismo foi caracterizado por tratamento geométrico das formas da natureza, representadas por objetos em ângulos no mesmo plano, formando uma figura em três dimensões.
No Futurismo, por sua vez, acontece a valorização do industrialismo e da tecnologia, que eram muito presentes. No Brasil, Anita Malfatti e Oswald de Andrade tiveram grandes influências dessa vanguarda europeia. Na “Semana de Arte Moderna de 1922”, marco da propagação do modernismo no país, essas influências podem ser percebidas, junto à rejeição ao passado, o culto do futuro, a aversão às reproduções e o cultivo da pureza original.
O poema pílula dos modernistas, com versos livres e brancos, objetivou romper com a forma fixa, com os sonetos decassílabos de até então. Nesse viés posso argumentar que talvez seja preciso organizar uma fila para que alguém, a partir dela, crie um círculo. Inovar em educação, portanto, passa pelo reconhecimento do que já foi feito, experimentado e validado.
Em “Erro de português” por Oswald de Andrade, por exemplo, a princípio notamos conceitos relacionados às práticas de gramática. No entanto a palavra “português” se trata do adjetivo pátrio, e não da disciplina. Em seguida, transitando por diversos contextos, conseguimos chegar à significação da palavra “erro”, percebendo a problemática relativa à relação entre indígenas e portugueses, no início da sociedade brasileira.

 

Erro de português
Quando o português chegou
Debaixo de uma bruta chuva
Vestiu o índio
Que pena!
Fosse uma manhã de sol
O índio tinha despido o português

Talvez seja necessário fecharmos todos em uma sala para que alguém tenha a necessidade de ir para um campo aberto.
A minha questão é o quanto a educação inovadora deve ser valorizada e o quanto a tradição deve ser lembrada, aprimorada, respeitada. Pois só se sai da caixa quem tem uma caixa para sair. Foi com o passado que chegamos até aqui.
Assim como as evoluções educacionais permitem o novo, a verdade é que construímos o futuro com o nosso passado, não é mesmo?
Seguir em frente, mas sem nos esquecer de onde saímos. Vamos sair das caixas?

Boa leitura, TMJ!
Raphael Haussman. É professor, Coach, consultor e apaixonado por educação e desenvolvimento humano e, ainda, pai da Raphaela e do Theo.

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1 Comentário

Aborrecencia 16 de junho de 2019, 22:55h - 22:55

O que fazer com um bom aluno, tipo média 8 pra cima que ao entrar na adolescência, 14 anos não quer mais saber de estudar, fica mal humorado, desanimado e irresponsável.

Já conversei, castiguei, tirei celular, game, mas nada adianta…

É como se nada conseguisse atingir essa preguiça e desinteresse.

Sempre acompanhei os estudos, mas de um ano pra outro virou outra pessoa.

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