As vítimas da proliferação dos mísseis antiaéreos

Por Diário do Vale

No dia 8 de janeiro passado um Boeing 737 da linha aérea ucraniana foi derrubado logo depois de decolar do aeroporto internacional de Teerã. Os 176 passageiros e tripulantes morreram vítimas de um míssil antiaéreo do tipo Tor-M1, de fabricação russa, que foi disparado pela Guarda Revolucionária Iraniana. Depois de tentar negar o crime o governo iraniano disse que foi um “erro imperdoável”. Os guardas revolucionários, que apertaram o botão de disparo, dizem ter confundido o jato comercial com um míssil Cruise americano. Uma explicação que mostra o despreparo desse tipo de gente. Aviões comerciais possuem luzes de navegação vermelha, verde e branca que podem ser vistas mesmo durante a noite. Ao contrário dos mísseis de cruzeiro que não possuem esse tipo de sinalização.
A queda do voo PS757 é mais um episódio triste de uma sucessão de tragédias. Provocadas pela proliferação de tecnologias de mísseis antiaéreos. Curiosamente, um dia antes da derrubada do jato ucraniano, o governo iraniano tinha lembrado a tragédia do voo 655 da Iran Air, em julho de 1988. Na ocasião a tripulação do cruzador norte-americano USS Vincennes derrubou um Airbus A-300 da linha aérea iraniana, matando 290 passageiros e tripulantes. Os operadores de radar do Vicennes confundiram o sinal de radar do avião com o de um jato F-14 Tomcat da força aérea iraniana. E derrubaram o avião disparando um míssil Standard.
Em um discurso os dirigentes iranianos chamaram os norte-americanos de criminosos. E cometeram o mesmo crime, um dia depois, derrubando o jato da Ukraine International em um incidente semelhante.
Atualmente os mísseis de fabricação russa são uma das maiores ameaças à navegação aérea. Que o governo de Moscou tem vendido e disponibilizado para todo o tipo de simpatizante do regime do Vladimir Putin. Foi o que provocou a tragédia do voo 17 da Malaysia Airlines no dia 17 de julho de 2014. O avião, um Boeing 777, tinha decolado de Amsterdã na Holanda com destino a Kuala Lumpur com 283 passageiros e 15 tripulantes a bordo. Infelizmente, a rota do voo 17 o levou a sobrevoar uma região da Ucrânia, onde ocorria uma batalha entre separatistas pró-Rússia e as tropas do governo. Os separatistas estavam equipados com uma bateria de mísseis antiaéreos russos do tipo Buk. Como no caso iraniano os rebeldes acharam que estavam derrubando um transporte militar Antonov da Ucrânia.
Quando descobriram o erro os rebeldes e o governo russo tentaram esconder o fato. Dificultando o acesso das equipes de investigação aos destroços do 777. E a bateria móvel de mísseis foi escondida e passada através da fronteira com a Rússia. Mas, a verdade foi revelada quando fotos dos destroços mostraram a fuselagem toda furada pelos estilhaços da ogiva. E pedaços do míssil foram encontrados entre os destroços.
Em 1996 os governos dos Estados Unidos e do Irã chegaram a um acordo em uma Corte Internacional de Justiça. E os americanos pagaram 61,8 milhões de dólares como compensação às famílias das vítimas do Airbus derrubado pelo Vincennes. Mas, não há nenhuma esperança de que o governo russo admita sua responsabilidade nos casos da Malaysia Airlines e da Ukraine Internacional. Afinal, foram os russos que colocaram os mísseis na mão de gente irresponsável, como os guardas iranianos e os rebeldes da Ucrânia.
O que assistimos atualmente é a versão moderna e high tech de um problema antigo. Durante a Guerra Fria, nas décadas de 1950 e 1960, a extinta União Soviética exportou milhares de fuzis automáticos AK-47 para rebeldes e grupos de esquerda africanos. E os guerreiros tribais africanos, que contavam apenas com lanças e facões ganharam uma arma muito mais letal. O que levou ao grande número de mortos em tragédias como a de Ruanda.
Com os mísseis antiaéreos acontece coisa semelhante. Mas, o feitiço pode se virar contra o feiticeiro. Durante o governo Ronald Reagan, os americanos forneceram mísseis Stinger para o talibã do Afeganistão usar contra os helicópteros soviéticos. E os Stinger acabaram derrubando helicópteros Black Hawke americanos na Somália.

 

Tragédia: O Tor russo derrubou o Boeing 737

VOCÊ PODE GOSTAR

1 Comentário

Alexsander 21 de janeiro de 2020, 18:00h - 18:00

No caso de Ruanda, em 1994, o genocídio foi executado com facões vindos em containers da China. O general canadense nao obteve permissão para atirar nas milícias, mas recebeu ordens de atirar nos cães que devoravam os corpos após o massacre
…daí o titulo irônico do filme “Tiros em Ruanda” ou “Shooting dogs”

Comments are closed.

diário do vale

Rua Simão da Cunha Gago, n° 145
Edifício Maximum – Salas 713 e 714
Aterrado – Volta Redonda – RJ

 (24) 3212-1812 – Atendimento

(24) 99926-5051 – Jornalismo

(24) 99234-8846 – Comercial

(24) 99234-8846 – Assinaturas
.

Image partner – depositphotos

Canal diário do vale

colunas

© 2024 – DIARIO DO VALE. Todos os direitos reservados à Empresa Jornalística Vale do Aço Ltda. –  Jornal fundado em 5 de outubro de 1992 | Site: desde 1996