Áurea mediocritas

Por Diário do Vale

A frente fria nos trouxe um clima mais ameno nos últimos dias, mas basta abrir as redes sociais que vemos extremismos e agressões de todo tipo. Isso me fez refletir acerca de umas das máximas dos poetas do século XVIII, período do Iluminismo, da Revolução Francesa e da nossa fracassada Conjuração Mineira. O áurea mediocritas, ou seja a virtude está no meio, no equilíbrio ou mesmo o equilíbrio é de ouro. Se olharmos um pouco para trás, veremos que no século XX, a crise europeia característica do período entre guerras favoreceu a formação de regimes totalitários ao poder.
Na contemporaneidade, percebe-se que discursos radicalistas ainda recebem apoio de uma parcela da população, o que revela um contexto no qual a contestação de práticas discriminatórias – como a disseminação de movimentos que prezam as minorias – incita um posicionamento extremista por parte de setores conservadores, mostrando-se nocivo à harmonia social.
A dificuldade em enxergar o diferente é extrema e capaz de criar ondas de ódio e de preconceitos. Essas ações distanciam uns dos outros. Isso, por si só nos transforma em seres humanos menos humanos.
Sabe-se que, à medida que se ampliam ideais libertários, também se ampliam práticas autoritárias. Esse fato origina-se a partir de um anseio de manutenções de poder por aqueles que o detém, o que exige, atualmente, uma postura rígida para conter movimentos revolucionários. Consequentemente, com a dispersão de doutrinas contrárias à vigente, torna-se comum a repercussão de radicalismos políticos que tratem em suas cláusulas, métodos para permanência de uma ordem em vigor.
Dessa forma, de acordo com a “vontade de poder” nietzschiana – um desejo de ser mais do que se é presentemente -, os grupos ideologicamente majoritários almejam não só a permanência de sua influência, mas também sua expansão.
Além disso, cabe ressaltar a dificuldade em aceitar as diferenças como incentivo à defesa de extremismo. Esse comportamento pode ser baseado no pensamento de David Hume ao afirmar que “o hábito é o grande guia da vida humana”, uma vez que as pessoas tendem a aceitar e entender aquilo que é comum ao cotidiano delas e, com isso, reprimir condutas muitas vezes incompreendidas por não serem praticadas.
Como resultado, em um contexto que se concede cada vez mais voz a grupos historicamente reprimidos – como mulheres e homossexuais – há uma tendência à expansão de “discursos de ódio” por aqueles aos quais foi ensinado a já posta inferioridade de um individuo em relação a outro. Com isso, consolida-se um cenário discriminatório marcado pela escassez de debates habituais em torno da desconstrução de preconceitos.
Infere-se, portanto, que o desejo pelo poder e a negligência quanto à importância de discussões cotidianas sobre diversidade favorecem radicalismos políticos. Como medida de amenizar esse quadro, cada um de nós poderíamos olhar para o outro com a máxima empatia possível. Pois somente assim poderemos almejar um mundo mais harmônico. A verdade é que Albert Einstein tinha razão ao afirmar que “não se pode manter a paz pela força, mas sim pela concórdia”. Assim, talvez, surja uma perspectiva de um futuro com cidadãos mais empáticos. Quem sabe?
Boa Leitura,
TMJ!
Raphael Haussman. É professor, Coach, consultor e apaixonado por educação e desenvolvimento humano e, ainda, pai da Raphaela e do Theo.

Nosso dicionário:
* Iluminismo – Foi um movimento intelectual, cultural e político que surgiu no século XVIII na Europa, o qual defendia o uso da razão (luz) contra o antigo regime (trevas) e pregava maior liberdade econômica e política. Este movimento promoveu mudanças políticas, econômicas e sociais, baseadas nos ideais de liberdade, igualdade e fraternidade.
* Revolução Francesa – Revolução Francesa (1789-1799) foi um período de intensa agitação política e social na França, que teve um impacto duradouro na história do país e, mais amplamente, em todo o continente europeu. Esse movimento foi inspirado nos ideais do Iluminismo e motivada pela situação de crise que a França vivia no final do século XVIII. Causou também profundas transformações e marcou o início da queda do absolutismo na Europa.
* Conjuração Mineira – Foi um dos mais importantes movimentos sociais da História do Brasil. Significou a luta do povo brasileiro pela liberdade, contra a opressão do governo português no período colonial.
* O áurea mediocritas – Áurea mediocritas é uma expressão de Horácio, poeta romano, a qual significa que uma condição mediana assegura tranquilidade e deve ser escolhida a qualquer outra. Refere-se à valorização do cotidiano.
* Ideais libertários – Ideias que defendam as liberdades individuais e que vão de encontro ao aumento da autoridade do Estado. O libertarianismo é uma ideologia política que tem a liberdade como seu principal valor e objetivo político. Para os libertários, o objetivo da política deve ser maximizar a autonomia e a liberdade de escolha, não sendo função do Estado promover a ordem ou a igualdade.
* “vontade de poder” nietzschiana – Na filosofia de Friedrich Nietzsche, filósofo prussiano, a Vontade de Poder, ou de Potência, é a principal força motriz, que existe em cada Ser e elemento da Natureza. Segundo Nietzsche, nos seres humanos essa força quando empregada confere realização, ambição e esforço para a conquista dos desejos e expansão.
* David Hume – David Hume (Edimburgo, 7 de maio de 1711 – Edimburgo, 25 de agosto de 1776) foi um filósofo, historiador e ensaísta britânico nascido na Escócia que se tornou célebre por seu empirismo radical e seu ceticismo filosófico.
* “Discursos de ódio” – O Discurso de Ódio é uma forma de pensamento, fala e posicionamento social que incita violência contra diferentes grupos da sociedade. Pode ser verbalizado ou escrito e sua intenção é discriminar as pessoas devido a suas diferenças. O Discurso de Ódio tem por base o ódio em si ao diferente e todos os preconceitos e prejuízos que decorrem desse sentimento. É considerado crime no Brasil e também um atentado aos Direitos Humanos.
* Albert Einstein – Albert Einstein (Ulm, 14 de março de 1879 — Princeton, 18 de abril de 1955) foi um físico teórico alemão que desenvolveu a teoria da relatividade geral, um dos pilares da física moderna. Foi um dos maiores físicos da história e suas contribuições mudaram o paradigma da ciência do século XX.

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1 Comentário

Falei 8 de setembro de 2019, 18:25h - 18:25

No fundo cada um defende o que é melhor para si.

Vejo isso …

No Brasil não há um sentimento de coletivo.

As famílias são assim.

O que é servidor defende seu lado.

O militar defende o seu.

Idem professores e todas as categorias.

Quando alguém briga por Lula e Bolsonaro , na verdade não estão brigando por eles, mas sim por si mesmos.

Política,

Religião e

Futebol

não se discute, pois é perda de tempo, perda de amigos, apenas se respeita para ser respeitado.

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