Chuva, fenômeno da natureza

by Diário do Vale

Então, sabe quando vivemos um dia daqueles? Isso mesmo, um dia atribulado, de reuniões, de projetos, de trabalho, de espera, de compras, de corre pra cá, corre pra lá, espera e vai, vai e espera? Isso mesmo, se fosse o início do século XX, estaria me sentindo uma engrenagem de Marinetti; apenas mais um na multidão, sem entender todo o sentido das coisas, será que alguma coisa faz sentido?
O dia não passou, eu ainda tive tempo para questionar a autoexploração tão criticada pelo sul coreano que eu esqueci o nome. E eu sem tempo para curtir tudo o que minha vida me proporciona, tudo o que posso curtir de mais um dia maravilhoso de vida, pois essa é uma certeza absoluta, a vida é uma dádiva.
Mas ainda há flores crescendo no asfalto, ainda há esperança. É uma verdade crível. E por pensar em esperanças, em meio a mais um dia atribulado, saí com uma menina de 11 anos para comprar seu uniforme da nova escola, seus cadernos, livros e canetinhas, quem inventou as cores infinitas das canetinhas tinha que inventar um sofá nas papelarias para que os pais pudessem esperar as meninas de 11 anos a se decidirem. Mas essa pode ser uma outra crônica. Em certo momento eu tive uma luz e resolvi me lembrar que aquele dia nunca mais se repetiria. Verdade, pois no outro ano ela, minha filha, não terá mais 11 anos. Não se entra num mesmo rio duas vezes. Resolvi curtir o momento, o qual foi maravilhoso. Nem fomos direto pra casa. Comemos uma tapioca de carne seca com catupiri que ela adora e uma taça de açaí. Foi mágico e simples como uma flor amarela nascendo no asfalto.
Mas o dia ainda não tinha acabado, eu ainda tinha duas reuniões, uma as 20h e outra as 21h, mas as duas bem pertinho da minha casa, dava pra ir a pé. Alguma coisa me segurou em casa, alguma coisa me impedia de ir. Como bom trabalhador, cumpridor dos meus compromissos. Fui. Simples assim.
No meio do caminho, dessa vez, não tinha uma pedra. O que encontrei no meio do caminho foi um pingo, e mais um, e mais um, e mais um dilúvio. Uma marquise não foi capaz de abrigar ninguém, pois chovia de cima pra baixo, de todos os lados parecia que estava diante de um rio. Ainda pensava em ir para a reunião. Mas tive um lampejo de lucidez. Resolvi esperar a chuva passar. Sorte que tive, agora, um outro lampejo, mas de brilhantismo, quase incrível, cancelei as reuniões, tirei o paletó para proteger os celulares, a carteira. Voltei cantando pra casa, debaixo de uma chuva quase incrível. Para entender que às vezes é bom respeitar e viver sob os fenômenos da natureza, pois eles nos lembram do quanto somos pequenos, embora possamos fazer grandes coisas. Mas elas só serão grandes, se espalharem sorrisos, alegrias e sonhos. Agora a chuva passou, e eu sou grato por mais um dia. Que venham muitos outros, de sol, de chuva, de mais taças de açaí com meninas de 11 anos, mesmo que elas cresçam.
Boa leitura,
TMJ!

Raphael Haussman. É professor, Coach, consultor e apaixonado por educação e desenvolvimento humano e, ainda, pai da Raphaela e do Theo.

 

Nosso dicionário:

*Um dia daqueles – Expressão popular que faz referência a um dia ruim, cansativo ou atarefado.

*Marinetti – Filippo Tommaso Marinetti (Alexandria, 22 de dezembro de 1876 — Bellagio, 2 de dezembro de 1944) foi um poeta, romancista e dramaturgo italiano que foi o fundador e principal teórico do Futurismo ´Movimento artístico que valorizava a máquina e a indústria.

*Autoexploração – Segundo Byung-Chul Han, o homem moderno segue um mandato social: fazer tudo o que puder. Nesse viés, a grande exigência por desempenho na contemporaneidade faz com que as pessoas busquem constante aperfeiçoamento, mesmo em detrimento da saúde ou qualidade de vida.

*Sul coreano – O termo faz referência ao filósofo e sociólogo contemporâneo Byung-Chul Han, escritor das obras “Sociedade do Cansaço”, “Agonia do Eros”, e “Topologia da Violência”.

*Dádiva – Segundo o dicionário, dádiva é uma palavra derivada do latim que representa um presente ou uma oferta de grande valor.

*Flores crescendo no asfalto – Referência ao poema “A Flor e a Náusea”, escrito pelo modernista Carlos Drummond de Andrade.

*Crível – É um adjetivo que caracteriza algo em que se consegue crer ou acreditar.

*Não se entra num mesmo rio duas vezes – A máxima de Heráclito, filósofo pré-socrático considerado o “Pai da dialética”, afirma que as águas do rio estão sempre em constantes mudanças, assim como os seres humanos.

*No meio do caminho não tinha uma pedra – Jogo de palavras fazendo referência ao poema “No Meio do Caminho”, de Carlos Drummond de Andrade.

*Dilúvio – Chuva muito abundante, torrencial e demorada, que alaga vastas extensões de terras.

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