De graça, sai mais caro

by Paulo Moreira

Refeições nos restaurantes populares custam pouco, mas governo banca a diferença – Foto: Arquivo

Nos Estados Unidos, um dos ditados mais populares é “there is no such thing as a free lunch”, que pode ser traduzido como “não existe esse negócio de almoço grátis”. No Brasil, as pessoas gostam de dizer “de graça, até ônibus errado”. Isso ilustra bem a diferença de mentalidade (ou de mindset, para usar um termo mais sofisticado) entre os dois povos.
Os estadunidenses já entenderam há muito tempo que nada é de graça – alguém sempre paga. Já os brasileiros partem do princípio que não importa quem pague – desde que não sejam eles.
Aliás, os restaurantes populares são um bom exemplo dessa mentalidade do brasileiro. Foram criados em um momento em que o Estado do Rio nadava em recursos provenientes do petróleo e, quando a crise apertou, foram descontinuados. Em alguns lugares, como em Volta Redonda, o município assumiu a operação – e está bancando seus custos, já que o valor cobrado pelas refeições não corresponde ao que se gasta para prepará-las.
As pessoas acreditam que é um dever do governo fornecer, entre outras coisas, saúde, educação, transporte e moradia.
Não estão de todo erradas. O detalhe é que fica melhor o governo prover acesso a esses serviços. Isso não significa que quem deve pagar por eles é o governo.
O que as pessoas não entendem é que o governo não tem dinheiro. Ele apenas usa o dinheiro que nós damos a ele. Em resumo, o governo nos cobra por tudo o que fornece “de graça”. Só que você não é cobrado na hora.
Por exemplo, você não passa no caixa para pagar pela consulta na rede pública ou pela escola pública que você ou algum membro da sua família frequenta. O dinheiro que paga por esses “almoços grátis” – inclusive os almoços propriamente ditos, servidos em restaurantes populares – vem dos impostos.

Quem ganha menos, paga mais

Aí o leitor pode achar que, como toda a sociedade paga impostos para que uma parcela dela use serviços públicos, estaria havendo uma transferência de renda dos mais ricos para os mais pobres.
Não é bem assim: na verdade, todos os membros da sociedade pagam impostos e, da forma como a arrecadação é estruturada no Brasil, os mais pobres acabam pagando mais.
Isso porque, por mais pobre que a pessoa seja, ela sempre compra alguma coisa, e no nosso país a maior parte da receita do governo vem dos impostos sobre o consumo.
A forma mais clara dessa tributação é nas contas de serviços públicos: se o leitor pegar a sua conta de energia elétrica, vai constatar que, em cima do que ele consome, vêm impostos estaduais (ICMS), federais (PIS/Cofins) e, em alguns casos, municipais (a contribuição para custear a iluminação pública).
Mas você também está pagando impostos – com alíquotas variadas – quando compra uma roupa, toma um cafezinho, coloca combustível no carro ou paga uma diária de hotel.
E mais: com o imposto de renda, por exemplo, você pode procurar todas as formas possíveis de conseguir deduções, ou mesmo atrasar o pagamento – embora esta última ideia não seja boa.
Já com os impostos que incidem sobre o consumo, não tem jeito: ou você paga, ou você não compra. E tem certas coisas que não dá pra deixar de comprar.
No fim das contas, quem é mais pobre acaba pagando mais imposto do que quem é mais rico, em relação ao que recebe. Isso porque a parte da população que ganha menos consome praticamente toda a sua renda, enquanto os mais ricos separam uma parte significativa da renda deles para investimentos – e boa parte da renda desses investimentos não paga imposto, como os dividendos de ações, por exemplo.

Mudança mentalidade

Basicamente, todos precisamos entender que não existe mágica. Para cada coisa que o governo nos dê sem cobrar, alguém tem que pagar. E geralmente somos nós mesmos.
Saúde e educação talvez sejam as áreas mais difíceis para o governo se retirar – embora não seja impossível. Mas é preciso que mudemos a mentalidade de que o Estado precisa suprir todas as necessidades do cidadão.
Uma sociedade com menos impostos e encargos sociais pode ser mais rica. E é preciso pensar na melhor forma de fazer essa transição. O que deixar de ser arrecadado como imposto deve ser transferido, em sua maior parte, para salários.
Com esse salário maior, o cidadão poderá suprir suas próprias necessidades. Consumindo mais, sem pressionar as finanças públicas para isso, ele vai aquecer a economia de um modo sustentável, o que implica mais empregos e melhores salários.
O colunista admite que é mais fácil falar do que fazer. Tem muita água pra rolar embaixo dessa ponte, mas é possível.

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3 comments

Fernando josé da silva 16 de maio de 2019, 01:21h - 01:21

Esses são projetos Eleitoreiros, coisa de partido tipo PT, de quanto mais pobre melhor! Se ainda fosse exatamente pra quem precisa de uma ajuda para se alimentar melhor até ter um emprego ou uma forma de se sustentar bem, ainda aprovaria! Mas vejo muitas pessoas com situação financeira altissima, almoçando nesses restaurantes populares, Um Absurdo !! Sem criterios ou regulamentos que impeçam isso !

guto 13 de maio de 2019, 13:12h - 13:12

A maioria da população americana pensa: “Não pense o que o Estado deve fazer por você, mas o que você deve fazer pelo Estado!”, então eles crescem na econômia e tem poucos pobres, ou seja, nos EUA a mentalidade é que o cidadão tem que trabalhar para se auto sustentar, no entanto, a maioria da população brasileira pensa: “Não pense o que você deve fazer pelo Estado, mas o que você pode pegar do Estado!”, então o cidadão brasileiro pensa que ele não deve trabalhar, mas aguém trabalhar para ele, logo estaremos sempre com um PIB baixo, com muitos pobres e poucos ricos!
Tanto é que ninguém valoriza a escola, pois como dizia Lula: “prefiro fazer uma hora de esteira do que ler uma página de um livro!”

Criminal minds 18 de maio de 2019, 06:47h - 06:47

Já que vocês não conseguem mudar o país,mudem dele!!!!!!!

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