Diário do Rock: A revolução musical silenciosa local (parte I)

Por Figurótico

by Agatha Amorim

Para que certas músicas fiquem na sua cabeça, marquem, gerem uma memória afetiva, diversos fatores contribuirão para isso. Ainda mais se estas forem veiculadas em rádios e TVs massivamente. Obviamente estou falando daquele tempo onde a gente conhecia a maioria das músicas quando estas pertenciam a catálogos de gravadoras e através destas contavam com toda uma engrenagem até chegar no seu ouvido.

Porém muitas das músicas que ficaram na cabeça não tiveram este impulso de multinacional. Falo de bandas e artistas que não chegaram a estourar nacionalmente, mas que você teve acesso em algum momento da vida. Músicas que mereciam ter tido esta oportunidade. Só que estamos falando de uma área nada objetiva, nada racional, onde o fator sucesso não depende apenas de dedicação, talento, qualidade, entrega.

Falamos de uma ciência NADA exata que é o mundo da música. Onde às vezes uma indicação de amigo era suficiente pra você gravar um disco por uma gravadora, sendo que em muitos casos se tratava de um artista mediano ou até mesmo ruim. Ao passo em que você via noutros um potencial claro e cristalino, mas que no momento onde somente as gravadoras “mandavam” simplesmente eram ignorados por nada.

Pois bem, vou continuar batendo nesta tecla: na de que muitas músicas que você considera hoje ultra-mega-especial, só se tornaram assim pela exaustiva execução na sua mente por tempos. E que muitas bandas que conheci enquanto estudava violão eram pra estar neste patamar nacional. Só que nos anos 80 essa barreira entre interior e capital era quase intransponível. Se bandas que fossem da Ilha do Governador (caso do Uns & Outros) já eram olhadas de lado pela panela da zona sul, imagine as daqui?

Agora com o acesso democrático a músicas de todos os cantos (estouradas ou não), através das plataformas de áudio com um mínimo acesso à internet, essas barreiras foram quebradas. Nesta semana conseguimos recuperar gravações históricas de uma das bandas que considero a melhor daquele tempo: “Guerrilheiros do Absurdo” – que quando acabou veio a se transformar em “O Cúmulo” (também do absurdo).

Graças à mãe do falecido baterista Marcelo Biffe, que entregou as fitas K-7 do filho ao seu primo (o também baterista) Erick Leal, conseguimos recuperar algumas daquelas músicas que tanto nos marcou. Fitas que necessitam de um “tape deck” pra tocar. E quem tem isso hoje em dia? O fotógrafo Márcio Ramos “Tuca” conseguiu um.

Eu tinha uma fita dos Guerrilheiros em casa, que tinha sido gravada no Drum Studio, no Rio, na segunda metade dos anos 80. Comprei de meu professor, Gordo (tema das últimas quatro colunas). Desta fita só me sobrou a capinha. Não foi esta a ser descoberta ainda, mas ainda será. Foram registros de uma apresentação ao vivo, com o som de baixa qualidade.
Uma outra fita contava já com uma gravação bem melhor foi da época do O Cúmulo. As duas bandas são quase a mesma coisa, quase. Os Guerrilheiros dos anos 80 eram Geraldo Costa (guitarra e voz); Dario Aragão Neto (teclado); Gordo (baixo) e Marcelo Biffe (bateria).

Já no Cúmulo, Geraldinho assumiria o baixo e na guitarra entraria o Frangola. Gordo nesta época já estava dedicado somente a seu estúdio que serviu de quartel general pra essas gravações, com o auxílio do Setas, seu braço direito lá atrás e hoje responsável pela digitalização desta descoberta.

As melhores gravações são de uma sessão ao vivo dentro do estúdio, onde a bateria é tocada de verdade. De “verdade” porque naquele início dos anos 90 a onda era utilizar programação de baterias eletrônicas pra se obter uma qualidade de som melhor, mas que hoje soa super-ultra-datado. Por sorte havia essas com bateria tocada “à vera”.

Na semana que vem falarei detalhadamente sobre esse tesouro reencontrado e creio que todos poderão ouvir, finalmente, esses registros.

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1 comment

Cesar Lugão 18 de novembro de 2023, 18:54h - 18:54

Lindas lembranças das super bandas barramansenses! Tive o prazer de vê-los tocar!

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