Diário do Rock: O Gordo (parte III)

Por Figurótico

Por Otávio de Paiva

Fotos: Márcio Ramos

Como todo local que perdure e resista por décadas, a “Academia de Música Instrumental” do Gordo, ao longo dos anos, também acabou passando por diversas fases. Muitas reformas, aprimoramento do estúdio; pessoas foram entrando, saindo; e até o falecimento de Luiz Paulo Pereira de Paiva, em 2014, as duas atividades principais foram o ensino e as gravações.
Apenas por um curto período de tempo Gordo chegou a se aventurar no ramo da venda de instrumentos musicais e criou uma loja na parte de baixo, onde já não existia mais o estúdio com o Serginho Swing. Já tinha tempo as gravações passaram pro pavimento superior (principal), nas muitas salas que eram destinadas a aulas. Estas foram aos poucos se transformando em ambientes de gravação.

Aula numa sala, gravação noutra, tudo feito de forma improvisada, sem muito critério. Falo do tempo em que ainda havia um corredor “ao ar livre”, onde só havia parede de um lado, e do outro nada, nem um corrimão. Qualquer desatenção você cairia de uma altura aproximada de dois metros. Jamais houve um acidente ali.

Naquelas salinhas apertadas me lembro de ter participado da primeira gravação que fiz com o “Madeira de Lei”, em 1991. Foi também numa daquelas salinhas que vi chegar num fim de semana um nordestino desconhecido, baixinho, que iria gravar um jingle de política e tinha uma relação com Barra Mansa: o grande Chico César.

Com relação à venda de instrumentos, creio que o grande feito dessa empreitada tenha sido um “consórcio de guitarras” importadas. Como era muito caro ter um instrumento de ponta, Gordo criou um consórcio de 12 meses, onde cada sorteado de cada mês teria sua guitarra. Os pais foram chamados e apresentados a esta ideia. Foi um sucesso. Fui sorteado já no segundo mês, no dia do meu aniversário, e peguei a minha Ibanez.

Alguns momentos e frases desse período de “loja” viraram lendas (hoje seriam “memes”) pra nós e repetimos até hoje: “Gordo, fiz uma compra grande: um microfone, um pedal e uma fonte!”; “O Gordo manja o Ciron”; “É aqui que vende pedal de bicicleta?”. Léo Anysio e Pasteto trabalharam lá. Ao fim da sociedade (que não deu lá muito certo) apenas da loja, Gordo voltou para o que nunca devia ter parado: estúdio de gravação.

E resolveu se consolidar de vez criando um grande estúdio profissional e único na região naquele momento. Quebrou todas as paredes das salas de aula e construiu de fato um grande estúdio, com técnica, sala pra gravação de bateria e outra sala maior para os demais instrumentos. Ao ser inaugurado tornou-se novamente um centro fervilhante de pessoas que desejavam gravar suas músicas.

Como atraía muita gente, sempre aparecia algum desavisado ao ver a placa lá de fora. Certo dia um sujeito entrou: “vocês gravam discos aqui?”. Depois da resposta positiva, ele devolveu: “então eu vou lá em casa pegar o meu disco do Roberto Carlos pra vocês gravarem pra fita pra mim”. Pois é…

Todas as bandas que estavam em atividade na região baixavam lá pra gravar. Assim fomos conhecendo uma pá de gente. Pra citar alguns, foi ali que nos tornamos amigos da turma de Volta Redonda (Tuta, Diogo, Rodrigo, Egon, Emerson, Os Pinto, etc). Com o passar dos anos muitos músicos de relevância nacional passaram por lá também. Gravava-se não somente bandas de rock, como de música sertaneja, gospel, jingles políticos, etc.

Gordo foi um grande catalisador de movimentos musicais, incentivador de gerações de artistas, mestre e uma figura ímpar com seu humor caraterístico. Quando ele nos chamava pra ir passar horas à toa lá, dizia “vamos dar risada, bicho!”. E sempre rolava muita. Com seu falecimento em 2014, o estúdio ficou fechado por quatro anos. Até que um dos seus tantos aprendizes, Setas, levou sua escola de música e estúdio de gravação pra lá.

Para o bem da cidade, da região, da vida, aquele templo segue de pé graças ao Setas.

 

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3 Comentários

André Vaz 24 de novembro de 2023, 14:44h - 14:44

Que bacana conhecer essa história.

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Axl Rose 4 de novembro de 2023, 01:34h - 01:34

muito boa essa coluna, melhor e muito mais interessante q do Fabio Soares

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Edson dos Santos 3 de novembro de 2023, 08:50h - 08:50

Tomara que aqueles desenhos tenham se perdido kkkkkkk.

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