Passei oito anos ininterruptos na Academia de Música Instrumental do Gordo, apelido de Luiz Paulo P. de Paiva, dos 10 aos 18 anos. Foi literalmente minha segunda escola da vida, onde entrei como aluno e saí como músico pronto pro mundo. Aprendi (mais) e ensinei, a partir do dia em que ele me colocou pra dar aulas pros iniciantes e acabei me tornando professor de lá. Para além do aprendizado musical, aprendi sobre pessoas.
A rotatividade de alunos, de bandas, de pessoas mais velhas, te mostrava cedo um pouco de como era o meio musical. E o fator democrático do ensino por não fazer distinção de classes sociais foi muito importante. Havia de tudo lá, desde os vindouros de famílias abastadas até os que para pagar mensalidade precisavam cortar um dobrado (a maioria) pra manter o estudo do violão.
Você via a vontade da pessoa em aprender quando o familiar vinha e contava a história de vida. Uma mãe que lavava o filho e você enxergava que era um sacrifício pra ela pagar por aquilo, mas que jamais seria obstáculo para esta ao ver o sorriso no rosto do filho em estar tocando uma música. Eu me enxergava ali, pois minha mãe fez de tudo pra que eu aprendesse também, pra conseguir a primeira guitarra, o primeiro pedal, etc.
No início foi ela a incentivar 100%, mas em pouco tempo meu pai aderiu de vez. Era fácil compreender, ele ficava preocupado no que aquele garoto com 10 anos poderia se tornar demonstrando tanto apego ao rock. Ele sabia o que o mundo da música poderia fazer com muitos, pois como ele era um cara ultra vivido já tinha visto conhecidos se darem mal. Mas pela educação que ambos me deram, viram que poderiam confiar.
E vale lembrar que o ambiente lá na Academia sempre foi 100% saudável. Logo ele veio a conhecer o Gordo e as coisas ficaram mais fáceis. Quando consegui – finalmente – minha primeira guitarra importada, ao fazer 16 anos, ele deu o aval pra poder arcar com as mensalidades do consórcio (dito na coluna passada). Até chegar a esta tive duas guitarras. Como era tudo muito difícil, aprendi a dar valor desde cedo a essas coisas.
Minha primeira guitarra foi uma Jennifer preta, nacional. O que anos mais tarde a gente chamaria de guitarra “pau de arame”, pela qualidade inferior às de primeira linha. Aliás, não existia guitarra de primeira linha no nosso entorno. O que se chegava mais perto disso era uma Giannini Stratosonic, também nacional, porém sonho de consumo. Não havia ninguém com uma Fender ao redor… Fui pegar numa muitos anos depois.
Meu primeiro pedal de distorção foi feito pelo meu tio Antônio Sávio, que estudava engenharia e construiu um pra mim. Para ligar a guitarra, o 3 em 1 da família que era utilizado na entrada de microfone. Era um som pra lá de precário. Tudo era assim. Esta minha primeira guitarra entrou cupim no braço que fez furos por toda a extensão. Foi traumatizante. Gordo me aconselhou a trocar o braço dela e vendê-la. Assim foi feito.
Quando me vi sem guitarra entrei em desespero. Quando compraria outra??? Demorou um tempo. Havia feito duas “apresentações” com esta. Uma no meu aniversário de 12 anos, em 1987, numa tentativa de mostrar à família que eu e meu irmão, Eduardo Pança, estávamos realmente decididos a entrar pra este mundo.
E outra na casa do Emerson Calzolari, também estudante do Gordo e que nos reunimos numa tentativa de banda ao lado do Patrick na bateria, Joílson (Jojô) na voz e o amigo dos melhores guitarristas daquela safra, Frangola, no baixo (ele se prontificou a tocar pois era o único ali que tinha ideia do que era a função do baixista).
Antes dessa banda a primeira mesmo foi quando meu irmão – aconselhado pelo visionário Gordo – mudou para o contrabaixo. Daí montamos um trio com nosso primo carioca, Elcio Pineschi. Não chegamos a fazer show, mas os ensaios quando este vinha do Rio pra tocar conosco foram as primeiras sensações de soar como grupo.
Já na minha primeira apresentação em palco, no Salão do Colégio Verbo Divino, em 1990, pelo dia do estudante, usei uma guitarra emprestada. Uma Golden, do Bolinha, que depois ou antes foi a guitarra do Ítalo “Meninão”. Só após isso minha mãe comprou uma Dolphin Strato, também nacional, porém com uma qualidade muito boa. Nesta apresentação “roubamos” o nome da banda com o primo (Xeque-mate) e tínhamos além de meu irmão Pança, Setas (guitarra), Eddy (telcado), Daniel Duarte (bateria) e o saudoso amigo Sanderson, no vocal.
Isso tudo dito nessas últimas colunas refletem apenas uma parte do legado do Gordo.
2 comments
cupim no braço, foi ótimo…
Kkkkkkkkkk
Muito bom relembrar essa época, parabéns pela matéria.
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