E o Branco ficou colorido

by Diário do Vale

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Abri a porta da cozinha e o meu cachorro, o Branco, não era mais Branco. Estava mais colorido que um arco-íris. Era o resultado da festa de Corpus Christi em Pinheiral. Todo ano, na manhã do Corpus Christi, os católicos cobrem as ruas no entorno da igreja com os tradicionais tapetes. Com figuras feitas de serragem, pó de café, cal virgem e tintas variadas. É uma arte efêmera, as pessoas fotografam e, de noite, a procissão passa por cima destruindo tudo.

O que sobra é uma faixa de material colorido, com as várias tintas e materiais utilizados. Geralmente, na manhã seguinte o carro-pipa da prefeitura passa lavando tudo. Só que este ano não passou lá pela Eduardo Pompéia. Deve ser a tal da crise. E o Branco rolou em cima da coisa toda até ficar pintado de vermelho, verde, azul e cor de rosa. O pior de tudo foi o pó de cal virgem que deixou meu vizinho com os olhos ardendo durante uns três dias.

Felizmente, a natureza colaborou e caiu uma chuva torrencial na segunda-feira seguinte. E lavou tudo. Quanto ao Branco, não se preocupem, ele já está branco e marrom de novo, como na foto aí ao lado.

Não sei há quanto tempo o pessoal tem esse costume de cobrir as ruas de tapetes em Pinheiral. Na minha infância, eu só ia lá nas férias de junho e de dezembro. Lembro das festas juninas que aconteciam em torno de uma enorme fogueira montada onde hoje é a “segunda linha”. A cidade era pequena naquela época, todo mundo se conhecia e minhas tias montavam uma barraquinha na festa. A garotada gostava de assar batatas na fogueira e ficávamos conversando debaixo de um céu estrelado, em frente ao calor da fogueira que afastava o frio da noite de inverno.

Antes dos tapetes

Naquela época, a maioria das ruas de Pinheiral não tinha calçamento. A Eduardo Pompeia era coberta com umas pedrinhas brancas e a rua de cima tinha uma calçada no meio, dividindo as duas pistas, com uma fileira de ipês. Dizem que aquela rua foi aberta em cima de um terreno doado por meu avô, que foi um dos comerciantes mais prósperos da cidade. Aí pela década de 1940 e 1950. É por isso que acho que não tinha tapetes naquela época. Seria complicado fazer os desenhos no chão, sem asfalto ou calçamento.

O padre de Pinheiral era um alemão, dom Martinho Schlude. Dizem que o sonho dele era ser engenheiro, mas acabou entrando para a igreja por insistência da família. Meu irmão garante que foi dom Martinho quem projetou o prédio do antigo ambulatório, que fica ao lado da igreja católica. Seu projeto era criar ali uma casa de saúde e a construção foi feita com espaços para a sala de cirurgia, enfermaria, ambulatório. Mas, não houve apoio e hoje a construção abriga uma série de secretarias da igreja. Atrás foi construído um anexo e em frente fica um salão para almoços e outras atividades.

Se algum leitor tiver uma foto daquela construção sólida e imponente, antes da construção dos anexos, mande uma cópia aqui para esta coluna. Pouca coisa restou da Pinheiral daquela época. Minha família embarcava comigo no trem, na Estação Pedro II da Central do Brasil, de manhã cedinho, e a viagem até Pinheiral, passando pelo túneis da serra do Mar, levava duas horas. Um passeio lindo.

Depois da parada em Barra do Piraí, para trocar a locomotiva elétrica por uma a diesel canadense, o trem levava só dez minutos para chegar a Pinheiral. E a primeira coisa que víamos era o casarão dos Breves, com suas palmeiras imperiais, a alameda de eucaliptos e a igrejinha com o prédio quadrado do ambulatório ao lado. Descíamos na estação onde hoje funciona uma biblioteca.

É incrível pensar que o trem levava dez minutos de Barra do Piraí até Pinheiral. Hoje leva uma hora para ir de ônibus entre as duas cidades. É o que se chama de progresso aqui no Brasil.

Bicolor: Branco já voltou a ter só duas cores (Foto: Jorge Luiz Calife)

Bicolor: Branco já voltou a ter só duas cores (Foto: Jorge Luiz Calife)

 

JORGE LUIZ CALIFE | [email protected]

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14 comments

Sergio 9 de junho de 2016, 07:38h - 07:38

Firme e forte Calife, não se importe com a patrulha esquerdista pois gostam mesmo é de censura e querem te calar.saúde e paz.

REGINALDO 8 de junho de 2016, 17:01h - 17:01

Jorge…
Para viagem de Barra do Piraí levar somente 10 minutos só se fosse trem bala, no mínimo eram 35 minutos, sei disto porque fui criado em Pinheiral, meu pai era ferroviário e pergunta para qualquer pessoa ai que isto da viagem durar somente 10 minutos é folclore, nem o antigo trem de “aço” conseguia fazer isso, quanto aos tapetes religiosos tem pouco tempo, antigamente na rua Eduardo Pompeia era montado um altar com imagens de santos em frente a residência se não me falha a memória da sua avó a Dona Maria Dias.

zé das coves 8 de junho de 2016, 14:13h - 14:13

muita falta de assunto. estes são os nossos intelectuais do interior

zé das coves 8 de junho de 2016, 14:12h - 14:12

e coloca fantasia nisso… esse cara viaja na maionese

Sérgio Brito 8 de junho de 2016, 13:57h - 13:57

Por que alguém perde tempo lendo esses textos se tem os da Aline Steell, Paula Duarte, Alexandre Correa Lima, Mário Sérgio e do João Vitor, é estranho, cada vez que leio o que eles escrevem me sinto uma pessoa melhor, me trás conteúdo, acrescenta algo bom em minha vida, eu os convido a lerem pois temos que nos nutrir de coisas boas e que fazem bem a nossa mente.

Al Fatah 8 de junho de 2016, 21:50h - 21:50

Calife é o colunista mais lido deste jornal. Inclusive você, nem que seja para falar mal, não deixa de ler…

Sérgio Brito 9 de junho de 2016, 09:11h - 09:11

Al Fatah, exatamente por isso mesmo é estranho que ele seja o mais lido, eu leio o DV de ponta a ponta, o que acho bom elogio e o que não é legal e sem o menor conteúdo critico, mas todos tem sua opinião, ninguém é obrigado a gostar das mesmas coisas que eu e não vou processar ninguém por isso, tanto que o jornal continua publicando as mesmas coisas. O fato de ser o mais lido não significa que tenha alguma coisa boa para oferecer.

Josiane 9 de junho de 2016, 10:30h - 10:30

Al Fatah você anda meio rabugento ultimamente, estou com saudade daquele Al Fatah inteligente e professor que dava aulas aqui no DV, volta lindão e deixe os problemas de lado, quando você menos esperar eles passam e a vida continua.

rocha 8 de junho de 2016, 11:35h - 11:35

Um exemplo de certas instituições que se acham no direito de fazer o que quiser. Em um estado laico ,a igreja e seus membros sujam as ruas,estragam a marcação das vias e depois não limpam.Resultado é que no outro dia,muita poeira e pessoas com alergia igual a um parente que tenho que mora atrás da igreja.em minha opinião,as pessoas que montaram o tapete deveriam no outro dia limpar as ruas.

Minha opinião 8 de junho de 2016, 10:51h - 10:51

ACHO QUE NÃO USA TINTA SÓ ARGILA COLORIDA ,ALGUEM AI DA IGREJA PODE CONFIRMA?

GUEVARA 7 de junho de 2016, 18:34h - 18:34

É verdade. Neste mesmo dia, em viagem, passava eu pela cidade de Andrelândia/MG, e pela primeira vez na minha vida presenciei este costume religioso. Aliás, sem o querer, passei o carro por cima de uns tapetes, o que me valeu a admoestação de um transeunte local. Brasília com seus políticos ultra corruptos estão bem à frente destas tradições arcaicas. É desta forma que eles, os ladrões congressuais, querem manter a população brasileira, isto é, cheia de fé no paraíso pós-morte, porque o paraiso terrestre tem que ser deles.

julia 7 de junho de 2016, 12:43h - 12:43

Podia ter colocado a foto do BRANCO colorido. hahaha

Tô de olho 8 de junho de 2016, 12:09h - 12:09

Ele não colocou porquê não existiu, é fantasia. Tudo que ele escreve é fantasia.

Rodriguinho 8 de junho de 2016, 14:17h - 14:17

“Tô de olho”, é melhor o Donald Trump do brejo quieto escrevendo amenidades de Piraí e do espaço sideral… senão daqui a pouco ele volta a escrever que achou livro escolar marxista em túnel, que o Saddam é o culpado da crise dos refugiados na Europa, que o Moro e o japonês da Federal são heróis na luta contra a corrução…

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