E o mundo não acabou…

by Diário do Vale

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O mundo não acabou ontem, nem no sábado passado como previu mais uma daquelas profecias da internet. O planeta gigante, invisível, não apareceu para se chocar com a Terra. Mas em Porto Rico a passagem do furacão Maria deixou fora do ar o segundo maior radiotelescópio do mundo. A equipe que controla a antena parabólica de 300 metros ficou isolada devido a queda das torres de telefonia celular e dos postes de telefonia fixa. Os ventos arrancaram a antena em forma de lança que aponta para baixo na foto (e onde o James Bond se pendurou no filme Goldeneye).

Caindo a antena perfurou a parabólica abaixo. Ao contrário do planeta imaginário, Nibiru, o furacão foi uma ameaça real. A antena de Arecibo já foi usada para mapear asteroides que se aproximam da Terra e para procurar sinais de extraterrestres no espaço. Também serviu de cenário para o filme “Goldeneye” do James Bond e para a ficção científica “Contato”, com a Jodie Foster. A principal função da antena gigante é captar os sinais de rádio que são emitidos por pulsares, buracos negros e galáxias distantes. A antena parabólica foi construída sobre uma cavidade natural nas montanhas e a montagem do transmissor de rádio é sustentada por três enormes torres de concreto.

É graças aos observatórios, como o de Arecibo, que não existe possibilidade de um planeta, asteroide ou cometa se aproximarem da Terra sem serem vistos com antecedência. Mesmo quando um planeta não é visível, sua gravidade denuncia sua presença. Foi graças aos efeitos da gravidade que os astrônomos descobriram os planetas mais distantes, como Urano, Netuno e Plutão. Eles perceberam uma mudança nas órbitas dos planetas conhecidos e apontaram seus telescópios na direção adequada.

Se existisse um planeta gigante, ou um miniburaco negro perto do nosso sistema solar, ele alteraria a órbita dos outros planetas. Provocando perturbações que seriam facilmente detectadas aqui da Terra. O que não significa que uma catástrofe provocada por um corpo celeste seja pura fantasia. Em 1994 um cometa colidiu com o planeta Júpiter abrindo um buraco maior do que o diâmetro da Terra na atmosfera joviana.

Os astrônomos já sabiam da colisão com um ano de antecedência. E acompanharam durante meses a trajetória do cometa Shoemaker-Levi até ele bater em Júpiter. Em 2014 outro cometa, o Siding Spring, passou bem perto do planeta Marte. E provocou uma intensa chuva de meteoros que foi registrada pela sonda espacial MAVEN. Os dados mostram um registro de 108 mil meteoros durante três horas. Aqui na Terra, a chuva de meteoros mais intensa não passou de mil estrelas cadentes.

Diferente dos profetas da internet, os cientistas espaciais levam seu trabalho muito a sério. Eles observam o céu o tempo todo, em busca de cometas e asteroides em trajetórias perigosas. E a agência espacial já bombardeou o núcleo de um cometa em um teste de tecnologias que podem desviar esses astros.

No caso dos planetas gigantes, todos eles já tiveram suas órbitas determinadas, e no caso do nosso sistema solar nenhum chega perto o suficiente para ameaçar a Terra. Objetos mais perigosos, como os buracos negros, estão muito distantes para exercer qualquer influência sobre nós. No mês passado os pesquisadores do observatório de Atacama descobriram um buraco negro de tamanho médio, dentro da nossa galáxia, a Via Láctea. Ele fica a 27 mil anos-luz da Terra, dentro de uma nuvem de gás molecular com 16 anos-luz de diâmetro. Está longe demais para nos ameaçar.

Incomunicável: Furacão danificou a antena de Arecibo

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JORGE LUIZ CALIFE | [email protected]

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2 comments

Anderson 6 de outubro de 2017, 14:17h - 14:17

Muito boa a matéria, não vemos textos sobre ciência deste nível nem nos maiores jornais do Brasil – quem quiser pode conferir no Globo, na Folha de São Paulo e outros para constatar com os próprios olhos. Precisamos de mais divulgadores como o Calife para que as pessoas não caiam mais nestas histórias que se espalham como pragas pelas redes sociais.

Fernando 30 de setembro de 2017, 11:22h - 11:22

Ótima matéria, Jorge Luiz Calife.

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