E se eu tirar zero na prova?

by Diário do Vale

Pai, se eu tirar zero você vai me amar? Essa foi a pergunta que a minha filha me fez quando tinha dez anos e me fez questionar toda a minha trajetória enquanto pai. Será que não deixo claro o quanto eu a amo? Ou será que ela já sente o peso de uma sociedade extremamente competitiva? Será?
Terminei minha conversa com a Raphaela dizendo que não é o que ela faz ou deixa de fazer, é simplesmente pelo o que ela é. E ponto. Simples assim. Pois amor é decisão. Eu decidi amá-la incondicionalmente.
Mas como isso pode virar uma coluna, resolvi me perguntar sobre quantas vezes conversamos sobre o fracasso com os nossos filhos, nossos, amigos, nossos colaboradores, nossos alunos. Quantas vezes. Se dermos uma boa olhada ao lado iremos ver que em qualquer vida de sucesso podemos encontrar um legado de falhas.
A autora J.K. Rowling, em uma cerimônia de formatura em Harvard, em 2008, disse que antes de ter tido sucesso com os livros de Harry Potter, o fracasso a havia moldado como pessoa. “O fracasso significou um despojamento do que não era essencial. (…) Foi uma libertação, porque meu maior medo havia se concretizado e eu ainda estava viva. (…) O fundo do poço se tornou a base sólida sobre a qual reconstruí minha vida”. Hoje, ela é a mulher mais rica do Reino Unido.
No entanto, é importante distinguir entre experiências fracassadas e falhas experimentais.
A falha experimental acontece quando você tenta algo, e isso não funciona da maneira que pretendida. Todos nós já experimentamos esse tipo de falha antes. Talvez você já tenha tido coragem de convidar alguém para sair e tenha sido rejeitado. Ou, talvez, tenha lançado um novo produto no mercado que foi ignorado pelos consumidores. Independentemente da forma, esse tipo de falha experimental dói, mas tem um lado positivo. Essas experiências nos permitem aprender com nossos erros, encontrar novas soluções e crescer como indivíduos.
Já o verdadeiro fracasso, no sentido platônico da palavra, não é algo que nos acontece, e sim algo que escolhemos para nós mesmos e que ocorre quando permitimos que a dor de nossas falhas experimentais mude nossos corações e nossas mentes para pior.
Ao olhar para a minha vida até hoje, percebo que é uma história de falhas em série, pontuadas por momentos tranquilos de sucesso. Esta declaração não pretende ser desanimadora. Em vez disso, digo com orgulho que falhei muito porque tentei muitas coisas diferentes. E garanto, vou continuar a tentar. Sempre. Sou brasileiro, e não desisto nunca. Rsrsrsrsrsrsrs. Sempre segui em frente, apesar do medo. Devemos ter a capacidade de nos reinventarmos. Sempre, e a humildade de recomeçar, pedindo ajuda se for preciso.
Nós tememos o fracasso em parte porque tememos que as pessoas que testemunham isso, de alguma forma, julguem-nos menor. A verdade é que a maioria das pessoas está tão preocupada com a própria vida que mal percebe o fracasso ou sofrimento alheio. Assim como o lavrador ignorou Ícaro se afogando no mar, as pessoas ao seu redor não se importam com seus fracassos e, portanto, não pensam menos de você. Esta é uma boa lição para lembrarmos em nossa vida pessoal e profissional. Nossos sofrimentos nunca são tão devastadores quanto pensamos que são. O mundo seguirá em frente, e nós também.
É importante lembrar que até o mais doloroso dos fracassos representa uma oportunidade para crescer. Se as falhas são os resultados indesejados ??de nossos experimentos, então, precisamos encontrar maneiras de aprender com eles, refiná-los e continuar avançando. Eu não estou tentando diminuir a dor do fracasso. As consequências e o sofrimento emocional que ele causa podem ser genuínos. No entanto, nós só experienciamos um fracasso real e duradouro quando deixamos que esses contratempos nos derrubem para sempre.
Há quem veja o fracasso com bons olhos. No laboratório X, fábrica de ideias inovadoras da Google, por exemplo, o diretor Astro Teller chega ao ponto de usar bônus para incentivar seus funcionários a fracassar. “A fábrica de ideias inovadoras é um lugar bagunçado”, diz ele, “mas em vez de evitar a bagunça e fingir que ela não existe, tentamos transformá-la na nossa força. Passamos a maior parte do tempo quebrando coisas e tentando provar que estávamos errados”.
Ser mais persistente é uma das primeiras influências positivas do fracasso. Ao se encontrarem em uma situação em que é necessário tentar novamente para acertar, pessoas tendem a desenvolver a perseverança e se sentirem mais preparadas para uma nova oportunidade. Essa confiança faz com que elas se tornem mais fortes e consigam aprender com o erro.
O aprendizado também é uma influência forte em nossas vidas quando fracassamos. O fracasso mostra quais caminhos não funcionam e nos ensinam a rever a nossa forma de agir e pensar. Assim como uma criança aprende que não pode colocar o dedo na tomada porque ela levará um choque, nós passamos a descobrir quais são as atitudes que podem nos levar às situações ruins ao fracassar.
Outro lado bom do fracasso é que ele nos ensina a sermos humildes e simples. Um dos motivos comuns para as pessoas fracassarem é que elas acham que estão preparadas para tudo, sendo que nem sempre isso é verdade. Aceitar que você não conhece tudo e que às vezes precisará da ajuda dos outros é um dos primeiros passos para evitar o fracasso, porém, algumas pessoas precisam errar para entender isso.
A empatia também é ponto positivo. Ao se encontrarem em situações complicadas as pessoas acabam desenvolvendo a empatia com aqueles que também tenham fracassado. Essa característica é positiva tanto para a vida pessoal quanto para a profissional, já que melhora os relacionamentos e torna a pessoa mais compreensiva.
Por fim, a flexibilidade é um aspecto positivo que aprendemos com o fracasso. Um dos principais motivos para uma pessoa fracassar é que ela não soube adaptar os seus planos ou modo de agir de acordo com a situação. Por isso, ao aprender a serem flexíveis, é possível diminuir as chances de fracassar e tomar as melhores atitudes dependendo da situação.
Quando coisas ruins acontecem, tudo o que podemos fazer é aceitá-las. Traçar um caminho à frente, seguir em frente. Esqueçamos a autopiedade e o vitimismo, vamos caminhar e seguir em frente, apesar da dor. O mundo continuará girando. Devemos tratar cada falha como uma oportunidade de aprendizado. E podemos ter a certeza, não seremos nem mais nem menos amados em função dos nossos fracassos. Eles são nossos professores, afinal, não é, nunca o que fazemos, é sempre o que somos. Podemos ensinar isso aos nossos filhos? Amigos? Colaboradores? A nós mesmos? Será?

TMJ!
Raphael Haussman. É professor, Coach, consultor e apaixonado por educação e desenvolvimento humano e, ainda, pai da Raphaela e do Theo.

Nosso dicionário:
Competitiva – que se refere a ou faz parte de uma competição.
Fracasso – falta de êxito; ausência de sucesso; derrota.
J.K. Rowling – escritora, roteirista e produtora cinematográfica britânica, notória por escrever a série de livros Harry Potter.
Harvard – é uma universidade privada situada na cidade de Cambridge, estado de Massachusetts, nos Estados Unidos, sua história, influência e riqueza tornam-na uma das mais prestigiadas universidades do mundo.
Platônico – sentido idealizado da palavra; termo que faz referência ao filósofo e matemático grego Platão.
Sucesso – ter êxito em alguma coisa; resultado positivo.
Ícaro – a “Queda de Ícaro” é uma pintura a óleo sobre madeira do mestre flamengo da Renascença Pieter Bruegel, de cerca de 1558 que se perdeu. A obra trata-se do episódio da mitologia grega de Ícaro que, na tentativa de fugir de Creta voando, viu frustrada a sua tentativa ao cair no mar, afogando-se na parte agora conhecida como mar Icário. E o agricultor retratado na obra também, continuou a lavrar, indiferente à tragédia.
Genuínos – legítimos, verdadeiros.
Persistente – aquele que persiste.
Aprendizado – ato, processo ou efeito de aprender; aprendizagem.
Empatia – capacidade psicológica para sentir o que sentiria uma outra pessoa caso estivesse na mesma situação vivenciada por ela.
Flexibilidade – qualidade do que é flexível, maleável; ligeireza de movimentos; elasticidade.
Autopiedade – piedade de si mesmo, sob forma de autocomplacência com relação a problemas, desgostos ou vicissitudes pessoais.

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6 comments

capeta da grota do Santa cruz 22 de abril de 2019, 18:04h - 18:04

e so istuda maiz

Falei 9 de abril de 2019, 22:20h - 22:20

Como alguém tira zero?
0 é não saber nada…
Nunca deixei uma questão em branco.
Se objetiva, se não soubesse chutava…
Se discursiva se não soubesse dissertava sobre o que sabia, chutava, seduzia , enfim.
No final sempre ganhava alguma pontuação.
Agora deixar questão em branco é um absurdo, pois significa pouco caso.

Maio 11 de abril de 2019, 12:35h - 12:35

VAI TE CATAR !!!!!!!!!!

Leitor 11 de abril de 2019, 16:27h - 16:27

Maio ficou bravo.
Sinal que já tirou zero…
Vestiu a carapuça.

Carpe Diem 9 de abril de 2019, 09:18h - 09:18

“Traçar um caminho à frente, seguir em frente. Esqueçamos a autopiedade e o vitimismo, vamos caminhar e seguir em frente, apesar da dor. O mundo continuará girando. Devemos tratar cada falha como uma oportunidade de aprendizado. E podemos ter a certeza, não seremos nem mais nem menos amados em função dos nossos fracassos.”

É isso!
O mundo continua girando sem piedade. Supere-se, adapte-se e busque evolução pessoal e espiritual ou não suportará!

Força!

guto 8 de abril de 2019, 19:18h - 19:18

Por que os comunistas não aceitam o Cristo crucificado?!
Por que não aceitam um Deus, que exerce seu poder desse modo curiosamente fraco, como Crucificado, como alguém que fracassou?!
Por que os comunistas não compreendem o poder que emana do Amor, eles por outro modo, só exercem o poder na imposição e no uso da violência! Essa forma de poder comunista não é divina!
O que dizer dos líderes comunistas no mundo inteiro que usam da violência para prender a oposição, usam até o assassinato para continuarem no poder?!
Como diria o jornalista Boris Casoy: “Isso é uma vergonha!”.

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